Aceitar emoções negativas é uma coisa saudável, dizem cientistas

Pesquisas recentes sugerem que, embora sentimentos ruins possam afetar seu bem-estar, sua visão sobre esses sentimentos pode desempenhar um papel ainda maior em sua saúde mental

PUBLICIDADE

Por Melinda Wenner Moyer

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Ficamos nervosos com uma apresentação de trabalho que se aproxima e lamentamos nossa falta de confiança. Ficamos com raiva de nosso parceiro e depois nos sentimos culpados por nossa impaciência. Nossas emoções, sem dúvida, influenciam nosso bem-estar - mas pesquisas recentes sugerem que a forma como julgamos e reagimos a essas emoções pode nos afetar ainda mais.

PUBLICIDADE

Em um estudo publicado em março na revista Emotion, os pesquisadores descobriram que pessoas que habitualmente julgam sentimentos negativos - como tristeza, medo e raiva - como ruins ou inadequados têm mais sintomas de ansiedade e depressão e se sentem menos satisfeitas com suas vidas do que pessoas que geralmente percebem suas emoções negativas sob uma luz positiva ou neutra.

As descobertas se somam a um crescente corpo de pesquisa que indica que as pessoas se saem melhor quando aceitam suas emoções desagradáveis como apropriadas e saudáveis, em vez de tentar combatê-las ou reprimi-las.

“Muitos de nós temos essa crença implícita de que as emoções em si são ruins, de que vão fazer algo ruim para nós”, disse Iris Mauss, uma psicóloga social que estuda emoções na Universidade da Califórnia, em Berkeley, e coautora do novo estudo. Mas na maioria das vezes, ela disse, “as emoções não nos prejudicam”.

Publicidade

“Na verdade, é o julgamento que causa, em última análise, o sofrimento.”

Pesquisas recentes sugerem que, embora sentimentos ruins possam afetar seu bem-estar, sua visão sobre esses sentimentos pode desempenhar um papel ainda maior em sua saúde mental. Foto: Luke Wohlgemuth/The New York Times

Por que julgar seus sentimentos pode prejudicá-lo

Quando percebemos nossas emoções como ruins, acumulamos mais sentimentos ruins sobre os já existentes, o que nos deixa com uma sensação ainda pior, disse Emily Willroth, psicóloga da Universidade de Washington em St. Louis e coautora do novo estudo. É provável que aumente tanto a intensidade de nossos sentimentos negativos quanto a quantidade de tempo que sofremos com eles. Em vez de ter um sentimento que passa naturalmente depois de alguns minutos, “você pode ficar ruminando sobre isso uma hora depois”, disse ela.

Evitar ou suprimir sentimentos também pode ser contraproducente. Em um pequeno ensaio clínico, os pesquisadores pediram às pessoas que colocassem uma das mãos em um local com água gelada e aceitassem seus sentimentos de dor ou os reprimissem. Aqueles que tentaram suprimir seus sentimentos relataram mais dor e não aguentaram a água gelada por tanto tempo quanto aqueles que aceitaram seu desconforto. Outra pesquisa ligou a supressão emocional a um risco aumentado de problemas de saúde mental, como depressão e ansiedade.

“Quando resistimos, aquilo persiste”, disse Amanda Shallcross, médica naturopata que estuda regulação emocional na Cleveland Clinic. Quando você evita suas emoções, “você está fadado a experimentar uma saúde mental e física negativa a longo prazo”.

Publicidade

A pesquisa também sugere que, se você tem o hábito de julgar negativamente suas emoções, pode ficar mais chateado quando se depara com uma situação estressante. Em um estudo de 2018, a Dra. Mauss e seus colegas perguntaram às pessoas se elas tendiam a aceitar suas emoções ou julgá-las como ruins. Em seguida, eles pediram aos participantes que fizessem um discurso de três minutos sobre suas qualificações para um emprego - uma tarefa conhecida por induzir estresse. Os participantes que disseram que geralmente não aceitavam suas emoções relataram sentir mais sentimentos negativos enquanto faziam o discurso. Em um experimento de acompanhamento, os pesquisadores descobriram que os indivíduos que geralmente não aceitavam suas emoções relataram uma piora em seu bem-estar psicológico e apresentaram mais sintomas de depressão e ansiedade seis meses depois.

Como fazer as pazes com seus sentimentos

Primeiro, lembre-se de que sentimentos desagradáveis fazem parte da experiência humana. “Nenhuma emoção é inerentemente ruim ou inapropriada”, disse a Dra. Willroth. Os sentimentos negativos podem até servir a um propósito, acrescentou ela. “A ansiedade pode ajudá-lo a enfrentar uma ameaça em potencial, a raiva pode ajudá-lo a se defender e a tristeza pode sinalizar para outras pessoas que você precisa do apoio social delas.”

Quando você experimenta um sentimento ruim, você não precisa amar o sentimento, apenas tente se sentir neutro em relação a ele. O novo estudo descobriu que as pessoas que reagiram de forma neutra eram tão psicologicamente saudáveis quanto aquelas que reagiram de forma mais positiva. A Dra. Shallcross sugeriu abordar o sentimento com curiosidade e “usar seu corpo e sua experiência como um laboratório: ‘O que há aqui?’”

Também pode ajudar lembrar que o sentimento não durará para sempre. “As emoções geralmente duram pouco - e, se simplesmente as deixarmos passar, muitas vezes elas se resolvem em questão de segundos ou minutos”, disse a Dra. Willroth.

Publicidade

PUBLICIDADE

A prática e a experiência também podem facilitar a aceitação emocional. O bem-estar emocional aumenta com a idade, e a pesquisa da Dra. Shallcross descobriu que isso pode resultar parcialmente do fato de que as pessoas geralmente aceitam melhor suas emoções à medida que envelhecem.

É importante observar que aceitar as emoções é diferente de aceitar as situações que causam emoções ruins. “Quando falamos sobre aceitar sentimentos, as pessoas costumam ouvir isso como se fosse: ‘Ah, você deveria ser complacente’”, disse Brett Ford, psicóloga da Universidade de Toronto que estuda como as pessoas gerenciam suas emoções. Mas essa não é a conclusão certa, disse ela. No mínimo, a aceitação emocional pode facilitar a mudança: se não estamos concentrando nosso tempo e energia em criticar nossos sentimentos, temos mais tempo e energia para melhorar nossas vidas e mudar o mundo. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.