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'Adoráveis Mulheres': escritoras falam sobre como livro serviu de inspiração

Julia Alvarez, Sonia Sanchez e Jennifer Weiner analisam importância da obra literária

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Por Concepción De León

A mais recente adaptação cinematográfica do romance Little Women (Mulherzinhas, nas primeiras traduções do livro, ou Adoráveis Mulheres, no título do filme em português), vem atraindo todas as atenções ultimamente, e o romance clássico de Louisa May Alcott, escrito no século 19, influencia as escritoras há várias gerações. O jornal The New York Times perguntou a escritoras de romances o que o livro significou para elas. Abaixo estão alguns trechos de suas respostas.

“Mulherzinhas” inspirou gerações de escritoras. A primeira edição do livro, publicada em 1868. Foto: Louisa May Alcott’s Orchard House

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Julia Alvarez

Adoráveis Mulheres foi o nosso livro favorito em inglês. Eu e minhas irmãs o descobrimos logo que chegamos aos Estados Unidos. Era o único livro que havíamos lido sobre uma família de quatro irmãs composta só de mulheres, como a nossa. Nunca nos cansamos destas meninas March, personalidades fortes, cheias de vida, indomáveis. Incrível, como é um retrato preciso da ligação entre irmãs e de suas complexidades. Que história crucial para nós a esta altura da vida, quando também enfrentávamos tantas mudanças, perdas, contestações das certezas que conhecíamos.

As meninas March eram brancas; nós éramos imigrantes recém-fugidas da ditadura da República Dominicana, mas as diferenças paravam ali, e começavam curiosas semelhanças - inclusive os nossos próprios nomes. A primeira letra do nome de cada irmã era a mesma dos nossos, na mesma ordem de nascimento: Margaret-Meg/Maury; Jo/Julia; Elizabeth-Beth/Estrela; Amy/Ana. Além disso, as nossas personalidades e paixões se coadunavam com as da nossa personagem irmã.

Muito antes do rótulo de “literatura multicultural”, antes de encontrarmos os nossos rostos ou tradições na literatura americana, descobrimos aqui o nosso reflexo. O romance me impressionoupor uma poderosa mensagem: as histórias falavam do que nós compartilhamos com outro povo, famílias, irmãs - embora se tratasse de uma história que claramente não se referia a nós. Ele significou que algum dia, leitores de outras culturas, poderão se descobrir nas minhas histórias, também.

Sonia Sanchez

Eu me identifiquei com Jo, a personagem principal de Adoráveis Mulheres, não só porque ela era independente, mas porque também queria ser escritora. Embora ela vivesse rodeada por uma grande família, estava sempre sozinha, eu pensava, sozinha com suas palavras naquele ambiente - assim como eu, em uma pequena família com uma irmã. Compreendia e compartilhava do seu espírito, e ria e sorria sempre que ela falava de independência e rebelião.

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Jennifer Weiner

É difícil para mim imaginar uma escritora que não tenha se reconhecido em Jo March. Jo era uma jovem um tanto desajustada, inteligente, obstinada, desastrada; irmã e filha amorosa, que decifrava o próprio coração e podia ser corajosa, não apenas ao serviço da própria família, mas também ao serviço de suas próprias ambições. Jo foi tudo o que eu queria ser ao crescer. Pelo menos, a Jo da Parte Um.

A Jo da Parte Dois, como muitas leitoras que sofrem por amor acabam aprendendo, vai para Nova York. Vive em uma pensão, trabalha como governanta, ganha um dólar por coluna para as suas “‘porcariazinhas’” como as chama, Jo se sente uma mulher de recursos”.

Mas os dedos manchados de tinta de Jo revelam sua vocação de escritora ao colega de pensão, o professor Friedrich Bhaer. O professor é perfeito para Jo, salvo quando diz a ela que os escritos dela, que são a vida de Jo, não passam de uma porcaria. Jo concorda com ele e atira às chamas sua produção literária. Então, ela casa com o seu crítico, deixa de lado as veleidades literárias, e se resigna a viver simplesmente ao seu lado.

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Isto pareceu uma enorme traição para mim como leitora. Pelo menos, eu posso me considerar uma pessoa de sorte, porque me preparou para o que aconteceu depois que eu mesma me tornei uma escritora de ficção popular. As críticas de Bhaer - é uma coisa boba, perigosa; não é literatura de verdade - poderiam ser recortadas do século 19 e coladas no 21. Para cada escritora bem sucedida, em qualquer época, talvez haja um professor Bhaer ao seu lado, para explicar o que pode ser considerado literatura e por que o seu trabalho não é.

Compreender as circunstâncias da vida e da época de Louisa May Alcott ajuda a compreender a capitulação de Jo. Como a vida é algo complicado, mas complicado de uma maneira que convida a contínuas interpretações e reinvenções. Não sou a única autora que escreveu sobre a sua própria Jo, e imagino que outras Jo virão. Como quer que interpretemos o casamento de Jo adulta, a garota ambiciosa, obstinada viverá para sempre, para inspirar as próximas gerações de jovens. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

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