Bad Bunny prova que 2022 foi ano de crescimento explosivo para a música latina

Cantor foi artista mais indicado ao Grammy Latino, além de acumular números gigantescos no streaming

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Por Ben Sisario

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - O principal indicado ao 23º Grammy Latino que aconteceu este ano foi a superestrela porto-riquenha Bad Bunny, com 10 indicações para Un Verano Sin Ti, lançamento que está no topo das paradas, é dominante no streaming e também o LP mais popular do ano.

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Mas para o negócio mais amplo da música latina, Bad Bunny é a cereja no topo de um ano extraordinário em serviços de streaming e em turnês de artistas como as cantoras Karol G, da Colômbia, e Anitta, do Brasil; artistas inovadores que cruzam gêneros como a cantora pop espanhola Rosalía; e bandas mexicanas regionais como o Grupo Firme.

Há muito vista como um campo de nicho, a música latina continua a penetrar em novos mercados, com plataformas de streaming ajudando artistas a alcançar novos públicos, que por sua vez estão comprando centenas de milhões de dólares em ingressos para shows.

O cantor Bad Bunny, de Porto Rico, posa com seu Grammy. Foto: Danny Moloshok / Reuters

“A música latina está tendo seu momento”, disse Gary Gersh, um executivo da música de longa data que é presidente de turnês globais e talentos da companhia de shows AEG Presents. “Mas ela não vai embora. As portas foram arrombadas”.

No primeiro semestre de 2022, as vendas de gravações de música latina atingiram US$ 510 milhões nos Estados Unidos, um novo pico, segundo a Recording Industry Association of America, e podem passar de US$ 1 bilhão até o final do ano. Desse total, 97% vieram do streaming - indicando um público jovem e conectado tecnologicamente. De acordo com o Spotify, metade de seus usuários em todo o mundo reproduz pelo menos uma música latina por mês.

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No passado, os artistas latinos eram poucos e estavam distantes das principais turnês da indústria, mas isso está mudando. De acordo com dados da publicação comercial Pollstar, as 100 principais turnês ao redor do mundo nos três primeiros trimestres de 2022 incluem 13 artistas latinos que juntos venderam US$ 436 milhões em ingressos - acima dos 9 com US$ 205 milhões em vendas no mesmo período de 2019, o último ano comparável antes da pandemia. (O período de rastreamento da Pollstar a cada ano começa no final de novembro.)

Bad Bunny, 28, é o líder da atual onda latina, com números de vendas e turnês que rotineiramente rivalizam e superam titãs do pop de língua inglesa como Taylor Swift e Beyoncé. Seu último álbum ficou 13 semanas em primeiro lugar na parada Billboard 200, mais do que qualquer outro título este ano. De acordo com estimativas da indústria, suas duas turnês em 2022 - uma em arenas e a outra em estádios - estarão no topo da lista de turnês globais de fim de ano, com cerca de US$ 400 milhões em vendas combinadas, colocando-o na liga de gigantes como Swift e U2.

Em 2022, Anitta se tornou a primeira brasileira a vencer um prêmio American Music Awards. Foto: Valerie Macon/AFP

Quem é Bad Bunny?

Nascido Benito Antonio Martínez Ocasio, Bad Bunny - seu nome artístico vem de uma fantasia de infância - representa um novo tipo de estrela pop, com estilo eclético e apelo amplo e global. Depois de emergir em 2016, ele construiu sua carreira como convidado especial, fazendo rap e cantando com artistas como J Balvin e Cardi B, antes de lançar seu primeiro álbum, “X100PRE”, em 2018.

Desde então, ele se tornou incontornável, atraindo não apenas os ouvintes de língua espanhola, mas também os fãs cujas playlists pessoais também podem conter hip-hop, K-pop e muito mais. Enquanto isso, Bad Bunny se expandiu para uma marca global. Ele tem uma parceria de tênis com a Adidas, lutou na WWE e deve estrelar o novo filme de super-heróis da Marvel, “El Muerto”, da Sony Pictures - enquanto também fala abertamente sobre as lutas políticas e sociais em Porto Rico.

“Não acho que a cultura pop tenha mais fronteiras ou barreiras linguísticas”, disse Jbeau Lewis, da United Talent Agency, que agenda as turnês de Bad Bunny. “Eu não sei se um fã necessariamente faz uma distinção entre BTS, Taylor Swift ou Bad Bunny.”

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Quando os ingressos para sua turnê El Último Tour del Mundo em arena foram colocados à venda em abril de 2021, ela se tornou uma das turnês de venda mais rápida na história da Ticketmaster e um dado importante mostrando à indústria que os fãs estavam ansiosos para voltar aos shows em meio a pandemia.

Lewis disse que enquanto esses ingressos estavam sendo vendidos, ele podia ver no sistema de back-end da Ticketmaster que, para alguns shows, até 300.000 fãs esperavam para comprar mais - um sinal de grande demanda. Naquele dia, disse Lewis, ele ligou para Noah Assad, empresário do Bad Bunny, e disse a ele: “Cara, precisamos segurar alguns estádios para o ano que vem”.

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Quebrando barreiras

A recente força das turnês latinas abrange um amplo espectro de estética e tradições. Karol G, conhecida por perucas de cores neon e seu hit com sabor caribenho Provenza, fez sucesso no Coachella em abril - onde prestou homenagem a músicas crossover latinas anteriores como Macarena e Gasolina de Daddy Yankee - e depois vendeu US$ 70 milhões em ingressos para sua turnê norte-americana. Essa pode ser a maior conquista da história para uma artista latina.

Maná, uma veterana banda mexicana de rock, tocou 12 vezes no Kia Forum em Inglewood, Califórnia, como parte de uma residência este ano, e acaba de anunciar uma turnê norte-americana para 2023. O Grupo Firme, banda mexicana que já colaborou com astros pop pan-latinos como Camilo e Maluma vendeu US$ 57 milhões em ingressos em 2022, de acordo com a Pollstar.

Historicamente, artistas cantando principalmente em espanhol - ou em qualquer idioma que não seja o inglês - enfrentaram uma enorme barreira para o sucesso quando se tratava de rádio. Mas o streaming forneceu um caminho para contornar esse obstáculo, e muitos latinos floresceram como resultado. Uma indicação inicial dessa mudança foi Despacito, a música de 2017 de Luis Fonsi e Daddy Yankee, que se tornou um grande sucesso no YouTube - embora seu sucesso tenha sido parcialmente atribuído a um remix para rádio com Justin Bieber.

“A barreira não é a mesma de antes, você tinha que ter uma música no rádio para vender muitos ingressos”, disse Gersh, da AEG. “Acho que veremos mais músicas que não são cantadas em inglês alcançando crianças que falam inglês, e provavelmente veremos mais músicas em inglês chegando a outros países onde o inglês não é a língua materna.”

Até certo ponto, as mudanças demográficas podem ajudar a explicar o crescimento da música em espanhol. Em 2021, 19% da população total dos EUA foi identificada como hispânica, acima dos 16% em 2010 e apenas 5% em 1970, de acordo com dados do Censo e do Pew Research Center.

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Esses fãs podem percorrer vários gêneros e espaços culturais, disse AJ Ramos, um programador de rádio e streaming de longa data que é o chefe de parcerias de artistas para música latina no YouTube. Usando a si mesmo como exemplo - nascido nos Estados Unidos, falando espanhol em casa em uma família salvadorenha, mas crescendo como fã de hip-hop - ele descreve esses fãs transversais à cultura como representando “os 200%”.

“Você tem artistas mexicanos como Yahritza y Su Esencia e Fuerza Regida, que abraçam a cultura americana e abraçam a cultura latina, vivendo em ambos os espaços”, disse Ramos. “Esse público passará de um disco de Kendrick Lamar para um disco de Fuerza Regida.” (Yahritza y Su Esencia, um trio de irmãos cuja família mexicana migrou para uma área agrícola do estado de Washington, concorreu a dois Grammys Latinos, incluindo o de melhor artista revelação.) /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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