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Banda Heilung resgata o som dos vikings com um toque de heavy metal

Grupo se apresenta com réplicas de instrumentos para recriar o mundo sonoro da Europa pré-cristã e trazê-lo para a era moderna

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Por Imogen West-Knights

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - “Temos salada de batata vegana no caldeirão médio”, Maria Franz anunciou aos 17 integrantes da Heilung, sua banda de folk metal, enquanto se reuniam ao redor de uma fogueira aqui recentemente. A banda estava comemorando o lançamento de seu terceiro álbum, Drif, no Midgardsblot, festival que acontece em um cemitério viking e também inclui seminários sobre cultura viking para o público, muitos dos quais vestidos com túnicas e capas. Mais cedo naquele dia, o público do festival se juntou à banda para ouvir o novo álbum sentado no chão de uma réplica do salão de festas Viking equipado com um sistema de alto-falantes.

Barbara Welento, que viajou de Varsóvia, na Polônia, para ver a banda Heilung no festival Midgardsblot. Foto: David B. Torch/The New York Times

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Foi o cenário perfeito para a Heilung, cujo trabalho nos últimos oito anos deu um toque de heavy metal à música da Europa pré-cristã. Trabalhando com uma equipe de pesquisadores e tocando em réplicas de instrumentos do período, a Heilung produz uma música que seus integrantes descrevem como “história amplificada”. A Heilung tira suas letras de textos históricos, como inscrições rúnicas em achados arqueológicos, e usa fontes sonoras que estariam disponíveis para as primeiras civilizações europeias, como pedras, ossos e objetos de metal brutos unidos.

Drif, por exemplo, combina canto difônico, palavra falada, canto, sons de batalha e gravações de campo da natureza. Uma das músicas da Heilung, Hakkerskaldyr, foi usada em um trailer de um filme recente de Robert Eggers, O Homem do Norte, outra imaginação artística da antiga Escandinávia.

“Não estamos afirmando que estamos fazendo exatamente a mesma coisa que nossos ancestrais fizeram, porque ninguém sabe”, disse Franz. “Mas é a nossa interpretação de como pode ter sido.”

A Heilung tem três integrantes principais - Franz, Christopher Juul e Kai Uwe Faust - que são apoiados por um grande elenco de artistas no palco, incluindo atores vestidos como guerreiros vikings, backing vocals e bateristas.

Franz disse que o projeto da banda era mais do que apenas focar na era Viking. Seus integrantes querem explorar o que veem como uma história antiga compartilhada que vai além das fronteiras europeias e abrange toda a humanidade. Por exemplo, Marduk, a última faixa do novo álbum, é um recital de 50 nomes do maior deus da Mesopotâmia. Franz às vezes toca um instrumento primitivo que ela trouxe da Índia: uma vara, metade de um coco, um pouco de pele de cabra e cordas. Se você olhar para trás o suficiente na história, disse Juul, descobrirá que a maioria das culturas compartilha instrumentos semelhantes e mitos semelhantes.

Existem outras bandas no subgênero do folk metal que se baseiam na história pré-cristã, como o grupo norueguês Wardruna. Mas a Heilung se destaca pela profundidade de seu engajamento histórico e pela escala de suas performances ao vivo. O álbum de estreia da banda, Ofnir, foi bem recebido nos círculos do folk metal, mas foi apenas com os primeiros shows ao vivo da banda, em 2017, que a Heilung se tornou popular na cena metal mais ampla.

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“Foi um fenômeno”, disse Jonathan Selzer, jornalista de música da revista Metal Hammer. Ele se lembrou de ter visto a banda no Midgardsblot, em 2017, quando fez o penúltimo show. O cenário incorporava trajes elaborados, incluindo chifres e peles de animais, gritos de guerra e atores seminus interpretando guerreiros correndo pelo palco. Esta performance estabeleceu o tom para todos os shows da Heilung desde então. “Você podia ver essa percepção passando pela multidão em tempo real, da incompreensão à admiração”, disse Selzer. “Todo o campo se transformou em uma rave viking.”

Michael Berberian, que assinou com a Heilung depois daquele show para a Season of Mist, uma gravadora de metal que ele administra, disse que era “uma banda que surgiu do nada com um conceito completo”. Ele acrescentou que “os aspectos visuais, o figurino, a música única, os valores de produção estavam todos lá, totalmente prontos”.

Franz, Faust e Juul se conheceram na cena de reconstituição Viking, na qual os entusiastas se reúnem para se vestir como vikings, aprender sobre sua história e praticar suas tradições, como luta de espadas e cozinhar em fogo aberto. Runa Strindin, fundadora do Midgardsblot, disse que a popularidade das encenações vikings explodiu nos últimos cinco anos no norte da Europa, estimulada por séries de TV como Vikings e filmes como Homem do Norte, bem como a inclusão de deuses nórdicos nos filmes da Marvel.

“As pessoas estão procurando uma identidade para se aproximar de algo que está faltando em suas vidas modernas”, disse Strindin, “e elas são atraídas pelas mitologias nórdicas porque elas são tão facilmente adaptáveis. Qualquer coisa que combinar com você, você encontrará lá.”


As pessoas relaxam no topo de um cemitério viking no festival Midgardsblot, onde a banda Heilung tocou seu novo álbum 'Drif'. Foto: David B. Torch/The New York Times

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A mitologia nórdica também ressoa em alguns grupos de extrema direita que a veem como um endosso de sua ideologia, mas os membros da Heilung rejeitam fortemente essa visão de mundo. Por pelo menos um século na Escandinávia, os nacionalistas extremistas adotaram a linguagem visual das runas antigas para sugerir uma era imaginada e pré-moderna de pureza racial, e os neonazistas usaram os símbolos para se identificarem uns com os outros.

Recuperar a cultura viking, particularmente as runas, dos neonazistas era uma parte central da missão da Heilung, disse Strindin. Cada um dos shows ao vivo da banda começa com um poema recitado que enfatiza a humanidade compartilhada do público. “Lembre-se de que todos somos irmãos, todas as pessoas, e animais e árvores e pedras e vento”, diz uma linha.

Na sessão de audição do álbum na réplica do salão Viking, havia uma atmosfera tranquila e respeitosa, como uma igreja. As pessoas fecharam os olhos para ouvir ou ler um livreto de notas explicativas que a banda havia fornecido para acompanhar cada faixa.

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No dia seguinte, Heilung tocou no festival para uma multidão de fãs que vieram de todo o mundo. Lindsey Epperson, 32, de Tucson, Arizona, que deixou os Estados Unidos pela primeira vez para estar lá, disse que a música da banda era “familiar, embora eu não fosse daquela época”, acrescentando: “Soa como estar em casa para mim.”

Um silêncio caiu sobre a multidão quando o show começou. Um artista soprou incenso sobre a plateia, e o resto da banda se reuniu em círculo para recitar o poema de abertura. Eles deixaram uma pausa após cada linha, para que a multidão pudesse cantar de volta em uma só voz. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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