‘Armário duplo’: por que alguns bissexuais encaram batalhas com a saúde mental

Embora mais pessoas se identifiquem como bissexuais, os estigmas persistentes continuam, com muitos não se sentindo completamente aceitos por suas comunidades

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Por Dani Blum

Quando Brooke Lindley tinha 13 anos e falou pela primeira vez para sua família que se sentia atraída tanto por meninos como por meninas, ela nem conhecia o termo "bissexual". Era 2003 e seus pais reagiram com hesitação. “Espere até você arrumar um namorado”, ela lembra de escutar sua mãe dizendo.

Alguns anos depois, Brooke arranjou um namorado, mas descobriu que ainda se sentia atraída por mulheres. Ela imprimia fanfictions bissexuais e as lia à noite, pensando consigo mesma: “Essa sou eu”. Ainda assim, lembrou, seu pai disse que ela estava apenas confusa. Amigos do ensino médio que tinham se assumido para ela como gays não acreditaram quando ela disse que era bissexual e justificaram citando seus relacionamentos anteriores com homens.

Brooke Lindley contou aos pais que era bissexual aos 13 anos; cada vez mais pessoas se assumem bissexuais atualmente. Foto: Emily Rose Bennett/The New York Times

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“Minha ansiedade sempre estava muito alta, porque eu ficava tipo, ‘Não entendo, não entendo’”, disse ela. Ela sentia que sua atração por pessoas do mesmo sexo a afastava de seus amigos heterossexuais e seus relacionamentos com homens a impediam de se relacionar plenamente com seus amigos gays. Ela não sabia onde se encaixava ou como deveria se definir.

Agora, aos 30 anos, Brooke acha que a bifobia que experimentou depois de se assumir contribuiu para suas batalhas atuais e passadas contra a ansiedade e a depressão. E embora o número de pessoas que se identificam como bissexuais esteja crescendo nos Estados Unidos - de cerca de 1% dos adultos em 2008 para cerca de 3% deles em 2021; com mais da metade da população LGBTQIA+ adulta se identificando como bissexual, de acordo com uma pesquisa recente do Gallup - o estigma ainda permanece.

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“Pessoas bissexuais sofrem estigma não apenas de comunidades heterossexuais, mas também da comunidade LGBTQIA+, mesmo elas fazendo parte dela”, disse Jessica N. Fish, pesquisadora da Escola de Saúde Pública da Universidade de Maryland que estuda bem-estar LGBTQIA+. “Os estereótipos de confusão, de que é só uma fase, de que eles são promíscuos, isso se perpetua em ambos os lados. E pode influenciar muito na saúde mental de alguém”.

‘Quanto mais experiências antibissexuais alguém tem, pior pode ser sua saúde’

Compreender as experiências de saúde mental de pessoas bissexuais é desafiador, segundo Jessica e outros especialistas, porque a pesquisa é limitada e tende a se concentrar em pessoas mais jovens e solteiras - principalmente mulheres. Dito isso, alguns estudos sugerem que bissexuais podem estar sofrendo de um modo desproporcional.

Uma revisão de 52 estudos em 2017, por exemplo, descobriu que, quando comparados com heterossexuais, bissexuais tinham taxas mais altas de depressão e ansiedade, e taxas mais altas ou equivalentes dessas condições quando comparadas com aqueles que se identificavam como gays. Um resumo de pesquisa de 2019 da Trevor Project, uma organização sem fins lucrativos dos EUA que fornece serviços de intervenção em crise e prevenção de suicídio para pessoas LGBTQIA+ com menos de 25 anos, concluiu algo semelhante entre os jovens americanos: estudantes bissexuais do ensino médio relataram mais sentimentos de tristeza e desesperança e mais pensamentos de suicídio do que aqueles que se identificaram como heterossexuais ou homossexuais.

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Há também alguns indícios de que os bissexuais se saíram pior do que heterossexuais e gays durante a pandemia, incluindo maior estresse, solidão, sofrimento psicológico e fadiga; além de pior saúde mental e física do que aqueles que se identificam como heterossexuais ou homossexuais.

Essa disparidade frequentemente é resultado dos preconceitos que bissexuais enfrentam, disse Jessica, com um estudo de 2019 sugerindo que uma grande forma de discriminação é a “invalidação de identidade” - ou a ideia de que a sexualidade deles não é válida ou é ignorada. O estudo descobriu que grande parte dessa discriminação muitas vezes vem de gays e lésbicas, seguidos de parentes e heterossexuais. E pode impactar diretamente na saúde mental de bissexuais, inclusive contribuindo para depressão, estresse e agravar ou desencadear ansiedade (incluindo ataques de pânico e transtorno de estresse pós-traumático).

“Vemos pelas pesquisas que quanto mais experiências antibissexuais alguém tem, pior pode ser sua saúde”, disse Tania Israel, professora de psicologia que estuda saúde LGBTQIA+ na Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara.

Brooke Lindley, que se revelou bissexual para os pais aos 13 anos. Foto: Emily Rose Bennett/The New York Times

É como estar em um ‘armário duplo’

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Ethan Mereish, psicólogo e professor de estudos de saúde na American University em Washington, D.C., disse que esse tipo de discriminação de dentro e de fora da comunidade queer pode criar "um armário duplo" que pode desencorajar pessoas bissexuais a se assumirem, em parte porque elas talvez se preocupem em não encontrar uma comunidade acolhedora.

Isso também pode criar um ambiente social hostil, que por sua vez pode contribuir para transtornos mentais, disse Ilan H. Meyer, estudioso de políticas públicas do Instituto Williams da Escola de Direito da UCLA que pesquisa disparidades de saúde LGBTQIA+; e pode desencorajar pessoas bissexuais a acessar os recursos e o apoio da comunidade.

Jessie Miller, 27 anos, estudante de pós-graduação em sociologia na Universidade de Illinois em Chicago, que usa os pronomes ela/dela ou ele/dele, se assumiu como bissexual aos 14 anos em um discurso para toda a escola. Ela disse que nunca teve vergonha de sua sexualidade até os 20 anos, quando amigos gays, heterossexuais e familiares começaram a lhe dizer que não acreditavam que ela realmente se sentisse atraída por mulheres e que ela estava passando por uma fase.

“Foram outras pessoas que colocaram na minha cabeça pouco a pouco que havia algo de errado comigo, que eu não sabia quem eu era”, disse.

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Há vislumbres de esperança

Christopher McKenzie, 46 anos, professor de cinema da Universidade Boston que se identifica como bissexual, disse que presta muita atenção às maneiras como as pessoas bissexuais são retratadas - ou não - na telona. Essas representações muitas vezes perpetuam os estereótipos de que os bissexuais são “anormais” ou não confiáveis, disse ele, e podem influenciar a forma como bissexuais veem a si mesmos e como as outras pessoas os tratam.

McKenzie disse que é difícil revelar sua sexualidade quando está namorando por causa do estigma que enfrenta. “As situações mais desafiadoras não foram com meus amigos heterossexuais, mas com os gays que namorei”, disse. “Eles olham para mim como se eu fosse um alienígena”, disse McKenzie, referindo-se a quando ele falou para um namorado gay que era bissexual. Quando isso acontece, ele disse que às vezes se sente como se não pertencesse àquele mundo ou como alguém que não pode ser "levado a sério como um parceiro romântico".

Nos EUA, vários grupos de defesa oferecem recursos e apoio. O Bisexual Resource Center, uma organização sem fins lucrativos que conecta organizações bissexuais e pessoas em todo o mundo, mantém uma lista de grupos de apoio on-line e presenciais para bissexuais. Ele também sedia a campanha on-line do Mês de Consciência sobre a Saúde Bissexual todo mês de março para disseminar informações a respeito das discrepâncias de saúde na comunidade bissexual. A Trevor Project também oferece telefones de emergência para crises, assim como comunicação por mensagens de texto. / TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

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