Carne bovina contribui para doenças e mudança climática, diz estudo

Revista científica defende dieta sustentável devido à projeção da população mundial chegando a 10 bilhões em 2050

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Por Jane E. Brody
Atualização:

Suspeito que a maioria de vocês já faz muitas coisas para ajudar a preservar a viabilidade do planeta que chamamos de lar. Talvez reciclar vidro, plástico e papel, e destinar o lixo orgânico à compostagem; fazer compras com sacolas reutilizáveis; recorrer bastante ao transporte público e às bicicletas, ou ao menos dirigir veículos de baixo consumo de combustível. Mas já pensaram seriamente a respeito dos efeitos planetários daquilo que comemos, fazendo as mudanças que vão proteger não apenas nosso planeta e seus oceanos, mas também sua saúde e o bem estar das próximas gerações?

Em janeiro, o New York Times descreveu um abrangente novo relatório da Comissão EAT-Lancet para a Alimentação, o Planeta e a Saúde. Foi preparado por 37 cientistas e outros especialistas de 16 países, com o objetivo de estabelecer uma economia global dos alimentos que combateria doenças crônicas em países ricos e proporcionaria nutrição melhor para os países pobres, tudo isso sem acarretar na destruição do planeta. O objetivo dos cientistas era definir os parâmetros de uma dieta saudável e sustentável capaz de alimentar as quase 10 bilhões de pessoas que devem habitar o mundo já em 2050.

Carne bovina contribui para doenças e mudança climática. Foto: Gracia Lam

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Em 1900, dois terços da proteína consumida pelos americanos eram de origem vegetal, e não animal. Já em 1985, essa proporção tinha se invertido, com mais de dois terços da proteína vindo de origens animais, principalmente a carne bovina. Esses animais consomem até quatro quilos de grãos para produzir meio quilo de carne, gerando toneladas de gases-estufa no processo, enquanto suas calorias e gorduras saturadas contribuem muito para a alta incidência de doenças crônicas.

Como disse à Nutrition Action Healthletter, Walter C. Willett, professor de epidemiologia e nutrição da Faculdade de Saúde Pública T.H. Chan, da Universidade Harvard, e participante da equipe do relatório da Lancet, “simplesmente não podemos consumir a quantidade de carne bovina atual e acreditar em um futuro para nossos netos".

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Em editorial, a Lancet publicou: “A produção intensiva de carne se encontra em uma trajetória irresistível que representa o principal fator que contribui para a mudança climática. As dietas predominantes da humanidade fazem mal para nós, e prejudicam o planeta". A reportagem da Lancet não insiste para que todos se tornem vegetarianos nem veganos, mas define como meta uma redução no consumo de carne vermelha dos países ricos - principalmente a carne de vaca e de cordeiro - a uma porção de 85 gramas por semana, ou uma porção de 170 gramas a cada duas semanas. 

É possível ir um pouco além com a carne de porco, de frango e de peixe, que são menos nocivas à saúde e causam um estrago menor no planeta. A proporção de conversão de grãos em carne no caso dos frangos e porcos é de apenas 2,5 para 1, aproximadamente, e a gordura nos peixes não é saturada, e sim rica em ácidos graxos ômega 3.

Mas o melhor para a saúde e para o planeta é adotarmos gradualmente uma dieta que derive a maior parte de suas proteínas de fontes vegetais - incluindo legumes e castanhas - com os frutos do mar cultivados como nossa fonte principal de alimento de origem animal, somada a quantidades moderadas de frango e ovos.

A Comissão EAT-Lancet enfatizou que sua recomendação para um consumo mais farto de alimentos de origem vegetal e mais restrito de alimentos de origem animal “não é uma questão de tudo ou nada, e sim de pequenas mudanças que levam a um impacto positivo maior".

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O grupo apontou que “alimentos de origem animal, especialmente a carne vermelha, têm uma pegada ambiental relativamente alta por porção se comparados aos demais grupos alimentares", algo que Willett descreveu como “insustentável". Mas, mesmo se os problemas ambientais não estiverem entre as suas principais preocupações, a saúde deveria estar. E, como concluiu a comissão, “Atualmente, mais de dois bilhões de adultos têm sobrepeso e obesidade". / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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