Um 'passeio em busca de deslumbramento' pode fazer maravilhas para o seu bem-estar

Mulheres e homens de idade que passaram a apreciar objetos e a natureza ao seu redor com um novo olhar sentiram-se mais otimistas e esperançosos

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Por Gretchen Reynolds

Se você aprender a observar as pequenas maravilhas que existem no mundo ao seu redor durante uma caminhada normalmente comum poderá ampliar os benefícios do passeio para a sua saúde mental, é o que afirma um novo e interessante estudo psicológico sobre o que os autores chamam de “passeios em busca de deslumbramento”.

No estudo, as pessoas que passam a ver com novos olhos os objetos, os momentos e a natureza que as cerca durante breves caminhadas semanais, em geral, sentiram-se mais otimistas e esperançosas do que outras que não tentaram esta prática. As descobertas são subjetivas, mas indicam que estes passeios podem se tornar uma maneira simples de combater doenças e preocupações.

Idosos foram separados em dois grupo, um deles foi instruído a prestar mais atenção no mundo ao redor. Foto: Charlotte Kesl/The New York Times

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E também ressaltam o fato de que a maneira como pensamos e nos sentimos durante o exercício pode alterar a mudança que o exercício produz em nós. Evidentemente, já existem consideráveis provas de que o exercício físico, como a caminhada, pode melhorar enormemente a nossa disposição. Estudos anteriores relacionaram o aumento da atividade física a uma felicidade maior e reduziram os riscos de ansiedade, depressão e outras doenças mentais.

Experimentar uma sensação de deslumbramento também intensifica, aparentemente, os nossos sentimentos de alegria e melhora a saúde. O deslumbramento, uma emoção nebulosa, em geral é definido como a sensação de que você está diante de algo maior e mais importante do que você mesmo e que este algo é misterioso e inefável.

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Em estudos anteriores, as pessoas que relataram ter experimentado esta sensação também disseram ter sentido um estresse emocional bem menor e apresentavam níveis mais baixos de substâncias relacionadas a alguma inflamação no seu organismo. Mas nenhum estudo havia analisado se mesclar deslumbramento com atividade poderia de algum modo aumentar os benefícios de cada uma destas coisas – ou reduzi-los.

Portanto, para o novo estudo publicado em setembro na revista Emotion, os cientistas filiados ao Memory and Aging Center da Universidade da Califórnia, em São Francisco, e de outas instituições decidiram começar a ensinar a idosos que gostam de caminhar e cultivar o deslumbramento. Eles se concentraram em pessoas acima dos 60, 70 e 80 anos, uma idade em que algumas pessoas enfrentam um risco maior de declínio de sua saúde mental.

Os pesquisadores também dispunham de um grupo de homens e mulheres que já participavam de outro estudo da UCSF sobre como envelhecer bem. Os cientistas perguntaram a 52 dos voluntários do estudo se teriam algum problema em acrescentar uma caminhada semanal de 15 minutos às suas rotinas normais.

Todos os voluntários selecionados gozavam de saúde física e cognitiva. Novos estudos de base sobre a sua saúde mental mostraram que eles eram psicologicamente bem-ajustados também, com escassa ansiedade ou depressão. Os cientistas dividiram estes voluntários em dois grupos. Um, como grupo de controle, começou a caminhar, pelo menos uma vez por semana, por 15 minutos, de preferência ao ar livre, mas com poucas instruções.

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Os membros do outro grupo também passaram a caminhar uma vez por semana, mas também foram instruídos a cultivar o deslumbramento durante a caminhada. “Basicamente, nós pedimos que eles procurassem caminhar em algum lugar novo, na medida do possível, pois a novidade ajuda a cultivar o deslumbramento”, diz Virginia Sturm, uma professora de neurologia da UCSF, que chefiou o novo estudo.

Os pesquisadores também sugeriram que os voluntários prestassem atenção nos detalhes durante o passeio, “que observassem todas as coisas com o olhar novo de uma criança”. Eles enfatizaram que o deslumbramento pode estar em todo e qualquer lugar, de uma ampla vista de rochedos e do mar, à luz do sol em uma folha.

“O deslumbramento está em parte em se concentrar no mundo exterior, fora da nossa cabeça”, afirmou, em redescobrir que está repleto de coisas maravilhosas que não nós mesmos. Foi sugerido aos caminhantes em busca de deslumbramento, assim como ao grupo de controle, que caminhassem ao ar livre. Nenhum dos grupos foi avisado de que deveria limitar os passeios a parques ou a evitar ambientes urbanos, disse Sturm.

Ambos os grupos foram solicitados a fazer alguns selfies durante as caminhadas, a fim de documentar os locais, mas a evitar o uso do celular durante o exercício. Os participantes de ambos os grupos enviaram os seus selfies para um site de laboratório e também realizaram uma avaliação diária on-line de sua disposição no fim do exercício, se tivessem caminhado naquele dia, e sobre como se sentiram durante o passeio.

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Depois de oito semanas, os cientistas compararam as respostas e as fotos dos grupos. Não surpreende que tenham constatado que os participantes haviam se tornado adeptos da descoberta e da ampliação do deslumbramento. Um voluntário contou que agora ele se concentrava “na beleza das cores do outono e da sua ausência na floresta perene”.

Uma voluntária do grupo de controle, por outro lado, disse que passava a maior parte da caminhada preocupada com as próximas férias e com “todas as coisas que tinha de fazer antes de viajar”. Os pesquisadores também constataram diferenças pequenas porém significativas na sensação de bem-estar entre os grupos.

Em geral, os integrantes do grupo do deslumbramento se sentiam mais felizes, menos preocupados e mais conectados socialmente do que os homens e as mulheres do grupo de controle. Os voluntários do grupo de controle notaram certa melhoria no humor, mas seus ganhos foram menores.

O que mais surpreende é que os pesquisadores constataram uma variação nas selfies dos grupos. No decorrer das oito semanas, nas fotos, o tamanho dos rostos dos voluntários do deslumbramento encolheu em relação ao cenário ao seu redor. Seus rostos se tornaram menores, e o mundo maior.

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Nada semelhante aconteceu com as fotos do grupo de controle. “Não esperávamos por isto”, diz Sturm. Entretanto, as descobertas são subjetivas, porque o deslumbramento, como outras emoções, é difícil de ser quantificado, e até este momento não há outra ciência que indique que o fato de você tornar-se a parte mais insignificante dos seus selfies indique algo a seu respeito. Os participantes do estudo também eram uniformemente pessoas mais idosas de boa saúde que caminhavam.

Não está claro se jovens ou pessoas doentes teriam se beneficiado do mesmo modo, ou as pessoas em geral podem e devem tentar corridas, natação, caminhadas ou passeios. Mas Sturm acha que esta possibilidade é atraente, principalmente agora, quando a pandemia e outras preocupações se tornaram cada vez maiores. “É uma coisa muito simples” olhar em volta em busca de pequenas maravilhas enquanto praticamos um exercício físico, ela afirma, “e não tem qualquer inconveniente”. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

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