Cientistas encontram novas auroras brilhando nas luas de Júpiter

Pesquisadores relataram o fenômeno em torno das duas maiores luas galileanas de Júpiter pela primeira vez e encontraram novas características nas auroras da vulcânica Io e da gelada Europa

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Por Robin George Andrews

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Um extraterrestre viajando pelo nosso sistema solar faria bem em verificar as faixas de cor esmeralda e laranja-sangue das auroras da Terra. Mas nosso mundo não é o único com exibições espetaculares de luz em sua atmosfera. Novas pesquisas mostram que as auroras também podem ser vistas nas luas galileanas de Júpiter: a hipervulcânica Io, a gelada Europa, a peculiar Calisto e a gigantesca Ganimedes.

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Auroras existem em todo o cosmos, mas geralmente em comprimentos de onda que os olhos humanos não podem ver. Em dois artigos publicados este mês no The Planetary Science Journal alguns astrônomos são os primeiros a relatar que, se você estivesse na superfície de Ganimedes e Calisto, auroras visíveis estariam dançando acima. Os pesquisadores também descrevem a existência de novos tipos de auroras visíveis em Io e Europa.

Os pesquisadores capturaram as novas auroras observando através de telescópios no Havaí, Arizona e Novo México. A equipe passou anos observando os satélites serem repetidamente engolidos pela sombra de Júpiter e depois ressurgirem.

As auroras são visíveis nas luas durante um eclipse, disse um autor dos estudos. Foto: NASA/The New York Times

Capturar brilhos indescritíveis e efêmeros em luas distantes, diminutas e em movimento rápido pode ser difícil. Mas “as auroras sempre estão lá quando você observa um eclipse”, disse Katherine R. de Kleer, astrônoma planetária do Instituto de Tecnologia da Califórnia e uma das autoras de ambos os estudos. Os pesquisadores rastrearam as luas sufocadas pela escuridão com frequência suficiente para revelar os novos brilhos do céu.

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As auroras galileanas são geradas de forma diferente das da Terra. Campos magnéticos e partículas energéticas ejetadas do sol atingem a Terra e são apanhados pela bolha magnética do nosso planeta. Essas partículas mergulham em direção aos polos magnéticos norte e sul e colidem com as moléculas de gás na atmosfera superior, energizando-as brevemente e liberando vários tons de luz visível.

Mas, além de Ganimedes, as grandes luas de Júpiter carecem de bolhas magnéticas. Suas auroras devem sua existência a Io. Sua atmosfera nociva - parcialmente suprida pelas épicas erupções vulcânicas da lua - se espalha regularmente no espaço. Os refugos se misturam com a luz do sol e ficam eletricamente excitados. Muitos são capturados pela colossal bolha magnética de Júpiter, mas alguns deles voltam para a atmosfera de Io ou para as bainhas gasosas das outras três luas. Esses impactos são o que acendem as luzes aurorais das luas.

Os pesquisadores confirmaram que os céus de todas as quatro luas brilham em tons de verde e vermelho semelhantes aos vistos na Terra. Embora menos luminosas do que as auroras do nosso próprio mundo, essas exibições do outro mundo têm suas próprias características sedutoras.

As atmosferas extremamente finas das luas fazem com que suas auroras vermelhas brilhem com muito mais intensidade do que as verdes. Io, o satélite galileu mais estranho, tem uma resplandecência amarelo-alaranjada semelhante à de um poste de luz. Este show de luzes escurece logo após Io entrar na sombra de Júpiter. Depois de ressurgir e banhar-se por algumas horas na luz do sol, esse fraco brilho âmbar volta a brilhar intensamente.

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Como na Terra, o surgimento de cores específicas depende em parte da altitude de uma aurora. Mas Io tem uma mistura incomum de pigmentos aurorais. “Você obteria um efeito arco-íris”, disse Carl Schmidt, astrônomo planetário da Universidade de Boston e autor de ambos os estudos. Tons de laranja e vermelho podem estar em toda parte, como tinturas diferentes juntas, mas o verde seria encontrado apenas quando uma aurora ocorresse muito acima.

Esses fogos de artifício exóticos são impressionantes. Mas o objetivo científico subjacente deste trabalho era revelar as composições e comportamentos das atmosferas dessas luas.

As cores nas auroras das luas fornecem pistas sobre os ingredientes da atmosfera de cada mundo. O componente atmosférico dominante de Calisto, Europa e Ganimedes é o oxigênio molecular, o que explica as recém-descobertas tonalidades verdes e vermelhas das auroras. A cor laranja suave de Io vem de compostos de sódio, enquanto uma luz carmesim descrita pela primeira vez em um dos novos artigos vem do potássio.

Essas auroras visíveis também sugerem que existe pouco vapor de água nas atmosferas de Europa e Ganimedes, uma descoberta surpreendente, considerando que Europa e provavelmente Ganimedes contêm vastos oceanos de água líquida sob suas carapaças frígidas.

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O Jupiter Icy Moons Explorer, uma espaçonave da Agência Espacial Europeia lançada em abril, pode ajudar a resolver esse enigma. “Talvez com um olhar mais atento, possamos descobrir definitivamente quanta água, se houver, existe na atmosfera de Europa”, disse James O’Donoghue, astrônomo planetário da Agência de Exploração Aeroespacial do Japão, que não está envolvido nos estudos.

Deixando de lado as químicas confusas, qualquer astronauta que fotografasse esses brilhos galileanos - tendo como pano de fundo o tempestuoso Júpiter e as próprias auroras caleidoscópicas do gigante gasoso - capturaria uma visão memorável. Acima de tudo, esses estudos demonstram que a beleza não é exclusiva da Terra. Se estivermos dispostos a procurar, cenas encantadoras podem ser encontradas em qualquer lugar do cosmos. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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