PUBLICIDADE

Cientistas observam maior explosão no universo que já dura três anos

Por três anos, os telescópios monitoraram “um dos eventos mais luminosos” de todos os tempos: um buraco negro supermassivo consumindo uma gigantesca nuvem de gás interestelar

PUBLICIDADE

Por Dennis Overbye

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - É um cosmos que se consome. Em 3 de maio, astrônomos relataram ter observado uma estrela que estava engolindo um de seus próprios planetas. Apenas dois dias antes, outra equipe havia descrito buracos negros que estavam despedaçando estrelas e as consumindo em um processo conhecido como evento de perturbação de marés, ou TDE.

A impressão de um artista de uma acreção de um buraco negro.  Foto: John A. Paice via The New York Times

PUBLICIDADE

Agora, um grupo internacional de astrônomos relata que está observando um dos atos mais violentos e enérgicos de canibalismo cósmico já testemunhado, talvez a maior explosão já vista na história do universo. A oito bilhões de anos-luz da Terra, na escuridão além da constelação de Vulpecula, um buraco negro talvez com 1 bilhão de vezes a massa do Sol parece estar devorando uma enorme nuvem de gás. Um estudo do fenômeno apareceu na revista Monthly Notices da Royal Astronomical Society.

O estudo começou em 13 de abril de 2021, quando o Zwicky Transient Facility, um pequeno telescópio que estava ocupado procurando estrelas explosivas, ou supernovas, detectou um flash brilhante que não correspondia às expectativas. A maioria das supernovas desaparece após algumas semanas; esta, conhecida como AT2021lwx, persistia - e continua a explodir há três anos.

Na verdade, a explosão foi detectada pela primeira vez um ano antes pelo Sistema de Alerta de Impacto Terrestre de Asteroide, ou ATLAS, uma rede de telescópios robóticos no Havaí, África do Sul e Chile. Esse foi o início real do cataclismo; à medida que avançava, uma rede mundial de telescópios e satélites o monitorava, medindo suas emanações em todo o espectro eletromagnético, desde os raios X de alta energia até os infravermelhos.

“A maioria dos eventos de supernovas e perturbações de marés dura apenas alguns meses antes de desaparecer”, disse Philip Wiseman, astrofísico da Universidade de Southampton e principal autor do novo artigo. “O fato de algo ficar brilhante por mais de dois anos foi realmente muito incomum.”

O que estava acontecendo?

“A princípio, pensávamos que esse surto poderia ser o resultado de um buraco negro consumindo uma estrela passageira”, disse Matt Nicholl, da Queen’s University Belfast, que ajudou a analisar a explosão em andamento. “Mas nossos modelos mostraram que o buraco negro teria que engolir até 15 vezes a massa do nosso Sol para permanecer tão brilhante por tanto tempo”.

Outra ideia era de que se tratava da explosão de um quasar - energia esguichando da borda de um buraco negro supermassivo no coração de uma galáxia. Mas não havia registro de atividade quasar anterior no local, nem havia qualquer sinal visível de uma galáxia lá.

Publicidade

Das muitas explicações improváveis, a mais provável, Wiseman e seus colegas concluíram, era que um buraco negro com a massa de 1 bilhão de sóis estava desfrutando de um banquete prolongado em uma gigantesca nuvem de gás. Eles encorajaram os colegas a ficarem atentos a eventos semelhantes.

“A AT2021lwx é um evento extraordinário que não se encaixa em nenhuma classe comum de transientes”, disse Wiseman em um e-mail. Ele acrescentou que, com uma energia irradiada total igual a 100 supernovas, “é um dos transientes mais luminosos já descobertos”.

Choque por choque, isso a colocaria na companhia de buracos negros em colisão. “A colisão de buracos negros libera energia em ondas gravitacionais com uma luminosidade extrema - 10 bilhões de vezes mais ‘poderosa’ do que esta explosão”, escreveu Wiseman. “Mas essa energia dura apenas 20 milissegundos”, acrescentando que essa explosão durou anos. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.