THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Desde que ela consegue se lembrar, a comediante de stand-up Carolyn Bergier tem um pesadelo recorrente no qual ela está no palco, parcialmente nua. É assustador, e então ela acorda.
A diferença desta vez é que ela está totalmente nua - e isso não é um sonho. É a vida real, ou pelo menos o mais próximo que você pode chegar disso em um porão de Bushwick, no Brooklyn. No primeiro semestre deste ano, Bergier, o tipo de pessoa que se troca no vestiário o mais rápido e discretamente possível, subiu no palco sem roupa, olhou para uma multidão de 75 pessoas com ingressos esgotados, um letreiro de néon vermelho atrás delas mostrando dois coelhos fazendo sexo e percebeu que havia cometido um grande erro: esqueceu de tirar o elástico de cabelo do pulso.
Que descuido! Quando ela se aproximou do microfone, uma epifania a atingiu. Ela jogou o elástico de cabelo para o lado e brincou: “Eu sabia que estava vestida demais para a ocasião”. Muitas risadas.
Falar em público é sempre classificado nas pesquisas como um dos nossos maiores medos. O stand-up deve ser pior. Mas e o The Naked Comedy Show? Esta vitrine mensal representa o Everest da ansiedade. “Este é o mais vulnerável que você pode estar”, Bergier, 38, me disse mais tarde pelo Zoom. “Foi isso que me atraiu.”
Misturar comédia stand-up e nudez não é novidade. Lenny Bruce trabalhou em clubes de strip. Tig Notaro contava piadas de topless, que é a marca de Bert Kreischer. Um sucesso do East Village, Schtick a Pole in It, alterna pole dance e apresentações de stand-up, sempre com um tema musical diferente. (É Rihanna no fim de semana do Memorial Day.) E também há uma tradição ligeiramente obscura da cidade de Nova York de comédia stand-up com nudez total que incluiu comediantes como Eric André e Mike Lawrence (que se apresentaram no The Naked Comedy Showcase no Pit mais de uma década atrás).
Lidando com o fracasso
Billy Procida, o produtor de 33 anos e apresentador do The Naked Comedy Show, faz comédia sem roupa desde que frequentou a New York University. Na segunda vez que ele se apresentou nu, a mulher com quem ele perdeu a virgindade apareceu. Ele se deu mal. “Fracassar é embaraçoso, mas fracassar pelado é a pior coisa que pode acontecer”, ele me disse em uma cafeteria perto da Union Square, falando como alguém que já superou esses problemas há muito tempo.
No palco, Procida exibe calor e sensibilidade, que eu acho que são qualidades úteis ao usar um anel peniano (ele também o chama de “joia genital”). Após a pandemia, percebendo que não havia shows nudistas regulares em Nova York, ele viu uma oportunidade. Para uma boa noite de comédia vestida no Brooklyn, pode ser difícil atrair uma multidão. Desde setembro passado, seu primeiro Naked Comedy Show esgotou com 10 dias de antecedência. Agora, ele encena dois por noite todos os meses, e a maioria está esgotado. (O próximo é sábado.) Ele espera aumentar para três por mês, talvez adicionando uma batalha nua (embora ele se preocupe que o tom áspero e implacável desses eventos possa não funcionar para a multidão body-positive).
Ele contrata comediantes veteranos, daqueles que se apresentaram em talk shows noturnos e se apresentam na maioria das noites na cidade. Seu material tende a não ser tão diferente de seus shows regulares. Procida disse que buscou diversidade, não apenas de raça, gênero e orientação sexual, mas também de tipo físico. (“É bom não ter cinco comediantes com o corpo definido em um show.”) Seu principal critério: eles precisam ser engraçados e, obviamente, dispostos. Cerca de 2 em cada 3 comediantes recusam. Concordar e depois ficar com medo não é incomum.
Parte do sucesso do show, e o que o torna diferente das versões anteriores, é que ele acontece em um espaço pertencente à Hacienda, uma organização sex-positive que construiu uma lista considerável de clientes para festas de sexo. Alguns dos membros do público são regulares, incluindo nudistas. Antes de um show recente, conversei com pessoas que haviam participado recentemente de noites de jogos nudistas, caratê nudista e boxe nudista.
O aspecto mais surpreendente de The Naked Comedy Show pode ser o quão assexuado ele é. O público é cuidadosamente educado, ri rápido. As piadas eram menos obscenas. Existe até uma inocência incongruente em algumas das apresentações. Como os shows off-Broadway Naked Boys Singing! e Puppetry of the Penis já provaram, combinar nudez com um pouco de sanidade pode ser engraçado e comercialmente bem-sucedido.
“Deixe-me colocar desta forma”, disse Procida sobre a falta de erotismo ou sexualidade. “Se você está na plateia e fica excitado com alguém fazendo piadas de suicídio enquanto está nu, o problema é seu.”
Bergier, que começou a pensar em se apresentar nua há seis anos, depois de se divorciar e pintar o cabelo de rosa, surpreendeu-se com sua falta de nervosismo. “Foi divertido, não uma grande coisa transformadora”, disse ela antes de elogiar a multidão. “Eu sinto que eles estão desarmados se você estiver nu”, disse ela, comparando com um show em um clube de Manhattan. “Ontem à noite no Stand Up NY, o público estava tenso, mas lá, todos baixam a guarda porque estamos nus.”
Sua maior preocupação acabou sendo o calçado. Deve-se usar sapatos e meias no The Naked Comedy Show? Não é um chão muito limpo. Ela decidiu ir descalça. “Vou me sentir uma idiota de meias”, disse ela, acrescentando que isso importava mais do que a nudez. “Essa foi a coisa mais estressante.”
Dito isso, ela ainda não contou para sua mãe, que a aconselhou a não fazer isso anos atrás, quando ela havia manifestado interesse. Seu plano é contar a ela da maneira mais inesperada - nesta coluna. (Oi mãe!)
“Eu esperava que o artigo saísse antes do Dia das Mães”, ela me disse, desapontada.
Ela acha que sua mãe vai ficar chateada? “Acho que sim, mas ela vai superar isso”, disse Bergier, parecendo tão blasé e confiante quanto ao jogar aquele elástico de cabelo. “Está tudo bem.” /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES
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