Como oferecer apoio a quem está se divorciando?

Especialistas dizem que há muitas maneiras de ajudar aqueles atingidos pela vergonha, choque e pânico econômico decorrentes de uma separação

PUBLICIDADE

Por Louise Rafkin

Mette Harrison, uma romancista que também trabalha no setor financeiro, foi surpreendida em 2020 quando seu marido por 30 anos pediu o divórcio. Mãe de seis filhos, ela estimou que também perdeu metade de seus amigos entre aqueles que a ignoraram e outros que julgaram o rompimento. De acordo com um estudo de 2013 liderado pela acadêmica da Brown University Rose McDermott, se as pessoas em sua rede social próxima se divorciarem, o risco de seu casamento terminar aumenta muito. Isso pode explicar parcialmente por que aqueles em crises no casamento se veem abandonados pelos mais próximos e queridos.

Mas o desaparecimento de entes queridos também pode ser porque eles simplesmente não sabem como ajudar. Além de perder seu casamento, perder amigos era demais, disse Harrison, agora com 51 anos. Mas quando aqueles que a apoiaram ofereceram ajuda, ela também ficou desorientada. “Eu não sabia do que precisava, mesmo quando me perguntavam.”

Uma separação pode resultar em diminuição de renda, especialmente para as mulheres; oferecer ajuda pode ser importante Foto: TUMISU/PIXABAY.COM

PUBLICIDADE

Um amigo ofereceu uma cama até que Harrison encontrasse um apartamento; outro a ajudou através de uma avaliação franca de sua situação financeira. Um terceiro enviou mensagens de texto todos os dias durante um ano – um simples vai e vem do qual Harrison disse ser dependente para acalmar seu pânico nos primeiros meses. Seu irmão mais velho estabeleceu um pagamento mensal de aluguel e comida, além de uma lista de desejos da Amazon, que ele compartilhou com a família. “Eu não teria conseguido sem a ajuda dele.”

De grandes gestos a pequenos atos de bondade, especialistas dizem que há muitas maneiras de ajudar aqueles atingidos pela vergonha, choque e pânico econômico decorrentes de uma separação ou divórcio.

OUÇA… DE NOVO E DE NOVO

Publicidade

Embora muitas vezes se suponha que aqueles em uma separação precisam de espaço, Ashley Mead, uma psicoterapeuta de Nova York especializada em divórcio, recomenda a conexão. Mas o tipo certo de escuta exige sutileza. “Os divorciados estão perdendo a pessoa com quem estiveram mais conectados em toda a sua vida”, disse. “Eles muitas vezes estão desesperados e sentem vergonha. Esteja presente”, acrescentou Mead, que recomenda se abster de comentários como “eu avisei”.

Se você não sabe o que dizer, tente o seguinte: “Sei que não posso consertar, mas estou aqui para você”, aconselhou ela. “Temos a tendência de querer consertar coisas ruins para nossos amigos, mas tentar animar alguém geralmente é acalmar nosso próprio desconforto e não ajuda aqueles que estão tentando aliviar emoções difíceis.”

Erika Anne Englund, uma mediadora de divórcio da Califórnia, disse para “ser o tipo de ouvinte que ajuda as pessoas a chegarem às suas próprias conclusões: certifique-se de que seu amigo tenha um lugar para desabafar, chorar, rir e pensar em voz alta”. “Não pare de convidar amigos divorciados para festas só porque eles estão solteiros, e ligue para eles nos feriados mesmo anos após o término do divórcio”, disse Englund.

Não pare de convidar amigos divorciados para festas só porque eles estão solteiros, e ligue para eles nos feriados mesmo anos após o divórcio

Erika Anne Englund, Mediadora de divórcios

Quando a terapeuta familiar Amy Armstrong passou por seu próprio divórcio, encontrar amigos capazes de ouvir sem transformar sua história em drama – ou fofoca – foi uma tábua de salvação. “Uma pessoa que apoia te ajuda a se ver em um novo capítulo, não alguém que insiste para você reclamar ou permanecer como vítima”, ela disse. 

Stéphane Jutras, que mora no Canadá e apresenta o podcast Divorced Dad Diaries (Diário de um Pai Divorciado), se divorciou em 2018. Quando falou sobre isso com amigos, percebeu que eles se tornaram mais íntimos e se abriram sobre problemas de relacionamento. “Como compartilhei, eles se sentiram seguros para falar sobre seus problemas conjugais.”

Publicidade

Ao buscar uma equipe de apoiadores, a terapeuta Susan Pease Gadoua, que administra grupos de apoio ao divórcio, recomenda recorrer às pessoas sem medo de sentimentos fortes ou do tempo que pode levar para processá-los. “As pessoas têm um limite de dois a quatro meses para lidar com a dor dos outros, mas a recuperação do divórcio em menos de seis meses é muito difícil.”

PUBLICIDADE

Para aqueles que questionam suas habilidades de conversação, uma boa escuta não exige conversas ininterruptas. Assistir a um filme juntos pode ser reconfortante, assim como conversar durante uma caminhada. “Não fique falando mal, agindo como líder de torcida ou tentando resolver problemas”, disse Abby Medcalf, psicóloga e fundadora do podcast Relationships Made Easy (Relacionamentos Sem Complicação, em tradução livre). “Conecte-se com o sentimento, não com a situação”, disse Medcalf. “Pergunte, o que está deixando você mais triste, mais raivoso, mais temeroso? Então, ouça com atenção.”

OFEREÇA UMA MÃO, OU APENAS VALIDAÇÃO

O divórcio muitas vezes significa que pegar uma carona, pagar contas e muitos outros requisitos da vida diária agora caem em um par de ombros, não em dois. “O divórcio é uma enorme transformação de vida. Ajudar de pequenas maneiras pode ter um impacto duradouro”, disse Mandy Walker, coach e mediadora de divórcios.

Procurando maneiras criativas de oferecer apoio? Considere quais habilidades sociais você pode ter. Você pode ser babá uma noite por semana? Você pode editar um currículo? Sabe algo sobre conserto de automóveis? Você tem habilidades? Se você não pode oferecer suas habilidades, faça uma lista de quem pode ser útil.

Publicidade

Sentimentos de luto e perda após uma separação ou divórcio são uma parte normal do processo de cura. Há um cronograma para a recuperação do divórcio, disse Medcalf, e acompanhar as mudanças adicionais nos sentimentos pode ser útil quando um amigo ou membro da família divorciado estiver muito perturbado para ver as melhorias. “A coisa mais generosa que você pode fazer é deixar de lado seu próprio medo de sentimentos fortes e afastar as pessoas do desespero.”

Em alta
Loading...Loading...
Loading...Loading...
Loading...Loading...

Quando Shawna Hein, 37, finalizou seu divórcio em 2020, ela disse que amigos que não impuseram seus sentimentos sobre a situação foram seus salvadores. “Adorei quando contei às pessoas que estava me divorciando e elas disseram: ‘Ótimo’”, conta Hein, designer-chefe da Ad Hoc que mora em Nevada City, Califórnia. “Para mim, isso foi um reconhecimento de que eu estava sendo corajosa e que a vida ia melhorar.”

Pease disse que “a linguagem em torno do divórcio é sobre fracasso, mas às vezes é uma vitória que pode ajudar as pessoas a fazer as mudanças necessárias. Permitir emoções negativas ao longo da jornada abre caminho para emoções positivas no futuro”.

O DINHEIRO PODE AJUDAR – MAIS DO QUE VOCÊ IMAGINA

Estudos mostram que a renda pode cair depois de um divórcio, especialmente para as mulheres. Detalhes sobre pensão alimentícia e conjugal levam meses e às vezes anos para serem resolvidos. E mesmo se concedido, não há garantia desses pagamentos. De acordo com um relatório do censo dos EUA de 2018, menos da metade daqueles que têm direito à pensão alimentícia recebem o que lhes é devido.

Publicidade

Sydney Petite, 30, terminou seu casamento em julho de 2018 com três filhos, incluindo gêmeos de 3 meses. A única com a custódia, ela tinha direito a um apoio de seu ex-marido, mas não recebeu nada por quase três anos. “Aprendi – de maneira desajeitada e rápida – como pedir ajuda”, disse. Um amigo emprestou-lhe dinheiro para conseguir um advogado, uma escola particular ofereceu ao filho mais velho aulas gratuitas e a babá contratada para ajudar com as crianças adiou seu pagamento até que Petite se recuperasse economicamente. Desde o divórcio, ela pagou todos os seus empréstimos. “Estou onde estou hoje por causa de um apoio inesperado.”/ TRADUÇÃO DE LÍVIA BUELONI GONÇALVES

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.