Novo estudo traz descobertas sobre comportamento humano em mentiras

As pessoas são menos propensas a mentir quando obrigadas a contradizer uma declaração verdadeira do que quando existe espaço para usarem de artimanhas

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Por Benedict Carey
Atualização:

Nesta era de trolls e bots e impostores digitais, palavras como “maníaco” ou “valentão” parecem antiquadas, como rótulos da era da TV em preto e branco. “Canalha” é quase um termo carinhoso – culturalmente indiferente para os provedores de desinformação que desfilam com um prazer nefasto na praça pública virtual. Uma linguagem mais precisa é necessária, uma tipologia para mentira e trapaças que inclua todo mundo e deixe mais nítida a fronteira entre problemas superficiais muito comuns os de personalidade mais profundos. A psicologia está aqui para ajudar.

E um estudo feito por uma equipe de pesquisadores na Espanha é um bom começo, ao produzir um manual rudimentar de padrões de mentiras e trapaças, pelo menos entre os participantes de um experimento feito em laboratório. “Neste estudo, encontramos três perfis diferentes de desonestidade e trapaças, e dentro de cada perfil dois tipos distintos”, disse David Pascual-Ezama, que liderou o estudo e é um economista comportamental na Universidad Complutense em Madri.

Scott Menchin/The New York Times 

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Os psicólogos estudaram a desonestidade em vários aspectos, desde os prelúdios dessa disciplina e concluíram que, como os atos mais socialmente censurados, a desonestidade tem compensações que se desenvolvem, como também riscos claros. As crianças aprendem a guardar segredo já aos seis ou sete anos de idade, e as habilidades necessárias para enganar são parte do desenvolvimento típico, o início de uma identidade psicológica.

Nas últimas décadas, psicólogos têm investigado a desonestidade em cenários mais transacionais. Com que frequências as pessoas mentem no caso de coisa simples, como lançar uma moeda no ar quando um dólar está em jogo? E no caso de US$ 5 ou US$ 10? Que circunstâncias específicas fazem com que as pessoas mintam menos?

Nina Mazar, professora de marketing na universidade de Boston, concluiu, em experimentos feitos, que as pessoas são menos propensas a mentir quando obrigadas a contradizer diretamente uma declaração verdadeira do que quando existe algum espaço de manobra para usarem de artimanhas.

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“Pense num formulário em branco de declaração de imposto em que você tem de informar sua renda. Provavelmente você está mais inclinado a ser desonesto nesta situação do que no caso de o formulário incluir cálculos acurados que você é convidado a corrigir. A nova pesquisa conduzida por Pascual-Azema, Beatriz Gil-Gomez de Liano, da Universidade Autônoma de Madri, e Drazen Prelec, do MIT – Instituto de Tecnologia de Massachusetts, se enquadra perfeitamente nesta tradição de economia.

Em um experimento, eles instruíram os 180 participantes adultos a lançarem uma moeda no ar, usando meios eletrônicos, e informarem o resultado. Se fosse cara (cor branca no jogo virtual) o indivíduo ganhava US$ 5; se coroa (a cor preta) a pessoa nada recebia. Sem os participantes saberem, a equipe de pesquisa monitorou cada jogada. Uma vez iniciado o experimento, os pesquisadores excluíram todos aqueles que lançaram a moeda e o resultado foi cara.

O restante dos participantes foi dividido em diversos grupos distintos. Cerca de 20% foram honestos. Eles jogaram a moeda, deu coroa e eles informaram esse resultado. E 10% mentiram: o seu resultado foi coroa e eles informaram cara, para ganharem os US$ 5. Um terceiro grupo nem mesmo lançou a moeda e informou cara – ou seja, as pessoas foram “radicalmente desonestos”, como os autores escreveram no seu estudo.

E cerca de 8% dos participantes jogaram diversas vezes a moeda até conseguirem cara e reportaram esse resultado para receber a recompensa. Este grupo foi chamado de “não mentiroso desonesto”; “O grupo é o mais interessante para nós”, disse o professor. “Eles estão dispostos a mentir, mas não mentem sobre a última jogada”. Finalmente, os pesquisadores espanhóis e americanos realizaram um experimento adicional com outros 170 participantes, desde vez dando a eles um dado para ser lançado; lançado uma vez e o prêmio seria de US$ 1 dólar; duas vezes seriam US$ 2, e assim por diante.

Um resultado similar foi constatado, de pessoas honestas, mentirosos, os que jogavam os dados diversas vezes e os “radicalmente desonestos – os 8% que nem se preocuparam em jogar e simplesmente mentiram. Mas desta vez havia uma novidade. Dentro de cada categoria de desonestos, algumas pessoas agiram para ganhar os US$ 5, ao passo que outras procuraram fazer ajustes de modo a conseguir US$ 3 ou US$ 4.

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Elas sabiam que estavam infringindo as regras, mas não buscaram o prêmio máximo. “O fato de não buscarem o prêmio máximo talvez oferecesse uma certa proteção para seu autoconceito”, disseram os pesquisadores. Pascual-Ezama disse que os jogos de lançar uma moeda no ar ou de dados não são um guia confiável sobre como as pessoas vão se comportar no mundo exterior, onde enfrentam pressões sociais e profissionais muito maiores.

Trapacear num jogo de dados, com poucas consequências é uma decisão muito diferente do que mentir para a mulher ou sobre os resultados financeiros da empresa para o patrão. Mas esse grupo dos 8% parece um bom grupo para entrevistar sobre fontes na infância e durante o desenvolvimento precursoras da mitomania. Ou seja, se as pessoas disserem a verdade.  / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

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