Cristin Milioti não é acessório de ninguém

Em 'Made for Love' da HBO Max, a atriz mais uma vez desmonta clichês românticos. 'Não entrei nisso para ser acessório para a história de um homem', diz

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Por Alexis Soloski

Cristin Milioti não se considera uma heroína da comédia romântica. E, embora tenha estrelado uma série de ótimas comédias românticas, ela é mais ou menos correta.

Desde que surgiu como Girl (sim, a personagem se chamava Girl) no musical da Broadway Once, Milioti fez carreira desmantelando – e às vezes, eviscerando – os clichês narrativos dos felizes para sempre. No episódio "USS Callister" da série Black Mirror, ela interpreta uma programadora de computador que supera um pretendente incel.

A atriz Cristin Milioti em Nova York. Foto: Jingyu Lin/The New York Times

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Em um episódio da série Modern Love, ela é uma crítica literária que cria um vínculo seguro com o porteiro do prédio onde mora, e não com o pai do filho. A conclusão de seu filme de 2015, Tinha que Ser Você, é que talvez não tivesse de ser. E no perfeito Palm Springs, do ano passado, sua personagem usa um loop temporal para resolver seus problemas. O romance é estritamente opcional. "Posso sobreviver muito bem sem você, sabia?", disse ela ao personagem Nyles, interpretado por Andy Samberg, no clímax do filme.

Made for Love, série nova e muito estranha na HBO Max, começa onde a maioria das comédias românticas termina. Milioti interpreta Hazel, mulher de 30 e poucos anos que é casada com Byron (Billy Magnussen), belo magnata da tecnologia com tanto sucesso que até os Musk e os Gates do mundo inteiro devem se sentir um pouco intimidados. Mas o relacionamento a sufoca.

Escapando, quase por acidente, ela encontra a confusão, o estresse e o incômodo de transitar pelo mundo sozinha. Bom, não totalmente sozinha. Byron lhe implantou um chip no cérebro para espioná-la.

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Na abertura dos episódios, Hazel tropeça na tela, parecendo uma sereia meio afogada – molhada, desgrenhada, em um vestido verde escamoso e com maquiagem borrada nos olhos. Ela parece alegre, assustada, exausta, confusa, desafiadora e muito mais. A maioria dos atores parece trabalhar com uma paleta de cerca de uma dúzia de emoções, mas as cores de Milioti são ilimitadas. "Gosto de interpretar pessoas complicadas. Não entrei nisso para ser o acessório de um homem em uma história", comentou.

Isso foi em uma tarde recente, em um banco de um píer na parte final do parque Brooklyn Bridge, em Nova York, um de seus lugares favoritos. O tempo pulsava com a promessa de um início de primavera, e Milioti – óculos escuros, suéter escuro, jeans escuros, máscara cirúrgica enrugada – assistiu ao que chamou de "desfile de cães". Ela não carregava uma bolsa e sim seu acessório preferido: um anel de dois dedos que se parece com presas.

Pequena, silenciosamente selvagem, com um senso de humor que pode parecer tanto pateta quanto mordaz, Milioti, de 35 anos, não é só mais uma garota como qualquer outra. É mais parecida com a garota que você não notou que morava no sótão.

Magnussen, que a conhece há mais de uma década, descreveu-a como uma das mulheres mais engraçadas, elegantes e envolventes que já conheceu: "Ela é incrivelmente divertida". E é. "É uma pessoa complicada e cheia de camadas na vida real. E ela leva isso para seus papéis", observou Samberg.

Milioti estudou teatro na Universidade de Nova York, mas cursou apenas um ano e meio. Foto: Jingyu Lin/The New York Times

Milioti cresceu em Nova Jersey e fez testes para todas as peças e todos os musicais da escola. "Sempre adorei estar no palco e desaparecer nos papéis."

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Certo, em nem todos os papéis. Sua crítica resumida de Sarah Brown, a heroína cativante que interpretou em Guys and Dolls, foi: "Eca." E a vibe dela então? Ela tentou fazer o personagem Artful Dodger em Oliver!, principalmente porque todos os personagens femininos em Oliver! são horríveis.

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Milioti estudou teatro na Universidade de Nova York, mas cursou apenas um ano e meio. "Eu estava muito impaciente. Só atuava durante, tipo, 15 minutos por semana".

Por isso, ela trabalhou como garçonete e babá. E também como passeadora de cães e em uma fábrica de biscoitos caninos. Ela começou a atuar no circuito off-Broadway, interpretando papéis multidimensionais – em peças como Crooked, Stunning, That Face – em que tirou o máximo proveito de seu exterior de menina com olhos grandes e de seu coração escuro batendo por baixo. Como o circuito off-Broadway paga muito mal, ela continuou trabalhando como passeadora de cães.

Nos primeiros workshops de Once, o musical baseado no filme de John Carney, ela desempenhou um papel coadjuvante. Papéis românticos – Sarah Brown, eca – não eram para ela. Mas John Tiffany, o diretor da peça, pensava diferentemente. Ele a achou engraçada e inconstante. "E incrivelmente comovente, de uma forma bastante generosa", afirmou.

Quando a peça fez uma temporada experimental em Cambridge, Massachusetts, Tiffany convenceu os produtores de que ela deveria assumir Girl, o papel que acabou interpretando na Broadway por mais de um ano. Esse papel resultou em uma aparição recorrente na temporada final de How I Met Your Mother – no qual interpretou a mãe – e o papel principal na comédia romântica da NBC A to Z, que não durou muito.

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Depois de conseguir certa segurança financeira, Milioti começou a priorizar papéis que não a fizessem se sentir como "um soldado involuntário do patriarcado". Ela queria papéis que lhe permitissem explorar "o lado estranho e selvagem e as florestas internas da natureza humana", comunicar a estranheza essencial de se comportar como uma pessoa, especialmente como mulher; papéis em que ela nunca tivesse de se desculpar pelos ângulos agudos e pelas escolhas duvidosas do personagem.

“Eu não entrei nisso para ser acessóriopara a história de um homem”, disse ela. Foto: Jingyu Lin/The New York Times
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Milioti adora as escolhas duvidosas e pensar como e por que uma pessoa as toma. No set ou no palco, ela trabalha com as facetas mais fragmentadas, mais incômodas e mais feias de qualquer papel, sem ego ou seriedade indevida. "Ela quer que as coisas se [palavrão]", disse Samberg.

Nas coletivas de imprensa de Palm Springs, os jornalistas às vezes perguntavam por que ela havia aceitado o papel de Sarah, a irmã nervosa, volátil e totalmente destruída da noiva. Ela teve de fazer um esforço para não revirar os olhos – quando papéis como esse aparecem, toda atriz que se preza os quer. E as audições são um massacre, segundo ela. "Porque, infelizmente, é muito raro ver uma mulher interpretando todos esses papéis tão diferentes".

Milioti não precisou fazer um teste para Palm Springs – o papel ficou com ela depois de um único encontro –, bem como para Made for Love, outro papel repleto de coisas diferentes. "Gosto de brincar que o personagem de Made for Love foi feito para Milioti. Nunca vi outra atriz que conseguisse fazer aspas no ar com os olhos", observou Alissa Nutting, produtora executiva e autora do romance no qual o seriado foi baseado. Nutting sabia que Milioti podia tanto fazer drama quanto comédia, muitas vezes instantaneamente.

Milioti leu o piloto e se apresentou imediatamente. A oferta anárquica de Hazel por liberdade e as escolhas questionáveis e muitas vezes violentas que ela faz ao longo do caminho a atingem em cheio. "A quantidade de coisas pelas quais ela passa, com as quais ela não lida e com as quais lida... Fiquei morrendo de vontade", contou.

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Em Made for Love, Hazel experimenta um despertar, transformando-se de uma ajudante perfeitamente preparada, com o sorriso pulverizado de uma mulher em situação de refém, em uma fugitiva corajosa, desordenada e manchada de sangue que pode empunhar um machado quando necessário.

Milioti já havia experimentado algo parecido, pessoal ou profissionalmente? Houve alguma experiência que a fez desistir de papéis nos quais ela era apenas um acessório ou um soldado de infantaria? Ela não diz.

Mas deu uma resposta mais abrangente, dizendo que muitas mulheres agora estão confrontando os papéis que a sociedade – e não apenas Hollywood – lhes pediu que desempenhassem. Porque todas devem ser a heroína da própria história complicada, e não a garota inocente que acaba em um porta-malas. "Seria esse um reconhecimento do tipo: 'Uau, o que consumimos por todo esse tempo?' Temos sido alimentadas com uma dieta constante de [palavrão]. Estamos acordando de repente e pensando: por que nos sentimos tão mal? E por que se permitiram essas coisas? Isso, para mim, é emocionante. E deveria ter acontecido há muito tempo."

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