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Documentário aborda história de ambientalista que mudou de vida por amor à natureza

‘Wild Life’ é uma produção da National Geographic, que tem previsão de entrar para o catálogo do Disney+

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Por Nadav Gavrielov

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - A ideia de Kristine McDivitt Tompkins de união entre irmãos é uma viagem de um mês à Antártida em um navio quebra-gelo, incluindo um mergulho glacial nas águas geladas do Mar de Ross, caiaque, caminhadas em icebergs e muito tempo analisando mapas.

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“É o paraíso lá embaixo”, disse Tompkins, ex-CEO da empresa de roupas para atividades ao ar livre Patagonia. Bebendo chá em seu rancho no sul da Califórnia na semana passada, enquanto seu labrador inglês, Finneaus, e o labrador de seu irmão, Beto, entravam e saíam de sua sala de estar, ela se lembrou de uma expedição que fez com seu irmão alguns meses antes.

“Algumas pessoas estavam realmente prontas para ir embora”, disse ela. “Eu poderia ter me virado e voltado pelo outro lado.”

Depois de sua estadia na Antártida, ela foi para o Chile e Argentina, trabalhando em projetos de conservação que ela e seu marido haviam iniciado cerca de três décadas antes. Tompkins, 72, dobrou seus esforços nos últimos anos, o que incluiu uma reunião com o presidente do Chile recentemente para discutir a doação de terras para um novo parque nacional.

Tompkins é o tema de Wild Life, um novo documentário de Elizabeth Chai Vasarhelyi e Jimmy Chin, a dupla vencedora do Oscar por Free Solo. O filme conta a história de Tompkins e seu marido, Doug Tompkins, fundador da North Face e da empresa de roupas Esprit, bem como os ambiciosos - e controversos - projetos de conservação que iniciaram depois de deixar suas carreiras corporativas para trás.

Em uma entrevista, Kristine Tompkins disse que estava mais comprometida do que nunca com seus esforços de conservação, o que a ajudou a encontrar um propósito sete anos depois que um acidente mortal de caiaque mudou sua vida.

De certa forma, sua vida como ambientalista começou quando Tompkins era adolescente no sul da Califórnia, onde fez amizade com Yvon Chouinard; a casa de praia da família dela era vizinha da dele. Ela começou a trabalhar no transporte marítimo de sua empresa de equipamentos de escalada e, após a faculdade, tornou-se uma das seis primeiras funcionárias de uma empresa que ele fundou em 1973, a Patagonia.

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Ela tinha suas impressões digitais em muitas partes do negócio, ajudando a escolher o tipo de letra do logotipo original, produzindo catálogos e imagens de títulos. Ela acabou liderando a empresa por anos nas décadas de 1980 e 1990.

Kristine McDivitt Tompkins, ex-diretora executiva da empresa de artigos para atividades ao ar livre Patagonia; o documentário 'Wild Life' conta a história de Tompkins, que se aposentou aos 43 anos e se mudou para a América do Sul por amor e conservação. Foto: Adam Amengual/The New York Times

Apesar de amar o trabalho, ela começou a sentir que algo estava faltando.

“Eu estava realmente sufocando e sentindo uma espécie de necessidade desesperada de descobrir outra coisa que fosse tão interessante e envolvente quanto a Patagonia”, disse ela, acrescentando: “Às vezes seu corpo está lá, mas seu coração se foi, sua mente se foi.”

Ela encontrou Doug Tompkins, a quem ela já havia conhecido. Ele havia recebido recentemente sua metade da Esprit, supostamente cerca de US $ 150 milhões, lamentando seu papel na economia impulsionada pelo consumo e querendo se concentrar na conservação.

À medida que se aproximavam, ela tomou uma decisão. Aos 43 anos, ela se aposentou da Patagonia, juntando-se a Doug Tompkins apenas alguns dias depois na fazenda para a qual ele havia se mudado no sul do Chile.

“Eu queria uma vida radical, quero dizer realmente radical, e não sabia que era isso que estava procurando e não conseguia encontrar sozinha”, disse ela. “Mas acho que foi isso que reconheci nele.”

Recém-casados que geraram suspeitas

Eles se casaram em 1994, ele aos 51 anos, ela aos 44. Os primeiros anos em seu lar adotivo foram isolados e difíceis, pois Kristine Tompkins descobriu que precisava melhorar o espanhol e se acostumar com as condições chuvosas e frias da Patagônia.

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Eles se concentraram em comprar lotes de terra - centenas de milhares de acres por vez - dos quais removeram gado, cercas e espécies invasoras em um esforço para restaurar a terra.

Esses esforços foram vistos com suspeita e uma oposição local feroz. As reclamações variaram de críticas de que eles estavam atrapalhando o desenvolvimento e prejudicando os meios de subsistência dos agricultores locais a teorias mais conspiratórias (Doug Tompkins foi acusado de conspirar para enviar a água da região para a China ou substituir as vacas locais por bisões americanos).

Ainda no começo do casamento, eles continuaram a buscar projetos no Chile e na Argentina e montaram uma organização, a Tompkins Conservation. Kristine Tompkins aproveitou seus instintos de gerenciamento, mantendo os projetos em andamento enquanto Doug Tompkins definia uma visão geral e ocasionalmente se fixava no projeto de estruturas específicas nos parques.

O relacionamento “funcionou porque ele é um cara durão, mas respeita quando você o enfrenta - e ela é durona”, disse Chouinard. “Ela o enfrentou e ele respeitou isso, e funcionou.”

‘Eu não queria deixá-lo ir’

Em 8 de dezembro de 2015, Doug Tompkins estava em um passeio de caiaque no Lago General Carrera, entre o Chile e a Argentina, com um grupo de amigos, incluindo Chouinard. Kristine Tompkins, que estava a várias horas de distância de carro, deu discretamente a um membro do grupo um telefone via satélite, um dispositivo que Doug Tompkins e Chouinard odiavam. Depois de um tempo, as chamadas de emergência começaram a chegar. O caiaque de Doug Tompkins virou devido ao vento e ele passou cerca de uma hora na água gelada antes de ser retirado.

Quando ela descobriu, ela se arrastou para baixo do pequeno avião estacionado que ele costumava usar para explorar os parques. “Eu não queria sair”, disse Kristine Tompkins, acrescentando: “Eu não queria aceitar isso”.

Doug Tompkins morreu antes que ela chegasse ao hospital.

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“Eu me arrastei para a cama dele e não queria deixá-lo ir”, disse ela em meio às lágrimas, acrescentando: “Ele teve sorte de ter vivido tanto tempo, considerando como viveu sua vida”.

Em seu luto, Kristine Tompkins se sentiu perdida e insegura sobre como proceder, mas finalmente decidiu dobrar seus esforços de conservação.

“Vamos pro tudo ou nada”, ela se lembra de ter pensado.

Carolina Morgado, diretora executiva da Rewilding Chile, que surgiu da Tompkins Conservation, a descreveu naquele momento como uma mulher que “transformou sua dor em poder”.

Em 2018, a Tompkins Conservation finalizou um acordo com o governo chileno no qual a organização doou mais de 1 milhão de acres de terras de conservação, com o governo adicionando cerca de 9 milhões de acres para criar cinco novos parques nacionais e expandir três. No total, a organização criou ou expandiu 15 parques nacionais, protegendo mais de 14 milhões de acres na Argentina e no Chile - uma iniciativa que continua. A organização e suas ramificações também empreenderam os chamados esforços de reflorestamento, reintroduzindo onças, araras vermelhas, tamanduás gigantes e outras espécies.

Para os diretores, marido e mulher, de “Wild Life”, que estreou nos cinemas na sexta-feira e chegará ao Disney+ em 26 de maio, Kristine Tompkins provou ser um assunto atraente. (Os documentários anteriores de Chin e Vasarhelyi cobriram o resgate na caverna da Tailândia e a tentativa de um alpinista de escalar o El Capitan de Yosemite sem corda.)

“Escalar o El Cap é realmente incrível, mas o que é mais extraordinário do que salvar o planeta?” Chin disse.

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Tompkins disse que com sua recente viagem à Antártida, assim como em seu relacionamento com Doug Tompkins e seu trabalho de conservação, “o que eu ainda procuro é essa clareza glacial e o confronto com circunstâncias extremas, dureza e dificuldade. Acho que isso me dá a sensação de estar respirando.” /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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