THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Quando Davis Guggenheim abordou Michael J. Fox há três anos na esperança de fazer um filme sobre sua vida, o diretor tinha algumas coisas a seu favor, além de seu sucesso anterior com documentários sobre outros grandes nomes, incluindo Al Gore (o vencedor do Oscar Uma verdade inconveniente) e a ativista paquistanesa Malala Yousufzai (He Named Me Malala). A esposa de Guggenheim, a atriz Elisabeth Shue, já havia trabalhado com Fox antes, estrelando como sua namorada na segunda e terceira partes da série De Volta para o Futuro. E Guggenheim havia dirigido A Todo Volume, um documentário sobre Jimmy Page, Jack White e The Edge, um fato que o aproximou de Fox, um guitarrista de longa data.
Mesmo assim, Fox inicialmente recusou a ideia de um filme, especialmente um filme centrado em histórias sobre as quais ele já havia escrito em quatro livros best-sellers de memórias. “Eu disse a ele que minha história é bastante autoexplicativa”, lembrou Fox. “Eu não sei quantas vezes é possível contá-la.”
Mas Guggenheim perseverou. Ele não queria fazer uma versão cinematográfica das próprias memórias de Fox, que detalham a vida e a carreira do ator e as lutas contra o Parkinson, por melhores que elas fossem. E ele não queria fazer um documentário padrão, com pessoas falando e narração sombria. Guggenheim queria fazer um filme com tanta vida e humor quanto o sujeito retratado, um trabalho divertido e acelerado não muito diferente, digamos, de um filme estrelado por Michael J. Fox.
“Eu queria levar o público a um passeio selvagem”, disse Guggenheim.
No final, Fox cedeu, embora com um pedido: nada de violinos. “Nenhum tratamento piegas para um cara com um diagnóstico terrível”, disse Guggenheim.
Still: Ainda Sou Michael J. Fox (disponível no Apple TV+) entrelaça reconstituições, filmagens de bastidores de arquivo, entrevistas com Fox e vários clipes da carreira de quatro décadas de Fox, incluindo seus papéis inovadores em De Volta para o Futuro e em Caras & Caretas, que estabeleceram Fox como uma das maiores estrelas de Hollywood.
O resultado é um filme híbrido que desafia o gênero, que usa o próprio trabalho de Fox no cinema e na TV para ilustrar criativamente os principais momentos de sua vida (mais sobre isso depois) e até mesmo revelar segredos de longa data - por exemplo, como Fox conseguiu esconder o Parkinson por anos, mesmo enquanto estrelava a série de comédia da ABC Spin City.
O filme explora a carreira de Fox desde o início, quando o ator tinha 16 anos, mas interpretava alguém de 12, na sitcom canadense Leo and Me. Em uma entrevista em vídeo de seu escritório em Nova York, Fox criticou seu trabalho naquelas primeiras performances. “Acabei descobrindo como atuar”, disse ele, “mas no início não fazia ideia”.
Inicialmente, Guggenheim queria contar a história de Fox em grande parte por meio de reconstituições, com atores interpretando Fox em vários estágios de sua vida. O editor do filme, Michael Harte (Três Estranhos Idênticos), foi contra a ideia. “O problema é que você não pode mostrar o rosto do ator”, disse ele. “O que é brilhante sobre Michael é que ele é muito envolvente, ele tem essa qualidade de superstar.” Usar um dublê de alguém tão conhecido como Fox, ele pensou, “jogaria o público para fora do filme”.
Em vez disso, Harte pensou que eles poderiam usar trechos de filmes e séries de TV do ator para contar a história de Fox, o que estabeleceu uma “batalha” (palavra de Guggenheim) de desejos criativos entre o diretor e o editor.
Um dia, por capricho, Harte combinou uma cena de Nova York - Uma cidade em delírio, na qual Fox folheia um artigo no qual ele precisa verificar os fatos, com um clipe de áudio de Fox descrevendo a primeira vez que leu o roteiro de De Volta para o Futuro. Guggenheim adorou a mistura e encorajou Harte a fazer mais. Não foi difícil. Como observou Guggenheim, havia muitos filmes e episódios para serem usados.
No final, os dois chegaram a um acordo imaginativo, misturando cenas do dublê de Fox, filmadas por trás para que seu rosto não fosse visto, e cenas do verdadeiro Fox, dos filmes e séries do ator, ou de trechos de bastidores selecionados a partir de 92 fitas VHS das filmagens de Caras & Caretas.
Para encontrar todas essas cenas, Harte passou oito semanas assistindo a todos os filmes e séries de TV em que Fox já havia atuado. “As séries de TV eram o Everest”, disse Harte. Ele assinalou meticulosamente todas as cenas que achava que poderiam ser úteis: Michael bebe café. Michael caminha por um corredor.
Os cineastas também se debruçaram sobre horas de episódios de Spin City para encontrar imagens de como Fox manteve seu Parkinson escondido do elenco, equipe e público da série, um fato sobre o qual Fox escreveu em seu primeiro livro de memórias, Lucky Man. Em uma montagem, vemos Fox girando canetas, segurando telefones, verificando o relógio, arregaçando as mangas, qualquer coisa para mascarar o tremor em sua mão esquerda. “Estávamos pegando coisas que estavam roteirizadas e usando como arquivo”, disse Guggenheim.
Enquanto Harte vasculhava os milhares de vídeos em busca de material, Guggenheim começou a escalar atores para as reconstituições, que incluíam substitutos para Woody Harrelson, um amigo de longa data e antigo colega de cena; o pai pragmático, mas em última análise, solidário de Fox; e, claro, o próprio Fox. Para encontrar alguém que pudesse igualar a fisicalidade ágil de Fox, os criadores fizeram os atores pularem e deslizarem pelo capô de um carro - ou tentarem. O único ator que conseguiu fazer isso, Danny Irizarry, conseguiu o emprego. “Adorei os atores que me interpretaram”, disse Fox.
Quando a primeira versão bruta foi concluída, os cineastas a exibiram para Fox. “Foi totalmente aterrorizante”, disse Harte. “Estava com alguém que cresci observando e adorando, e a primeira vez que o encontrei, não foi para tomar alguns drinks em um bar, foi para apresentar o que vejo como 90 minutos de sua vida. Aqui está o que eu acho relevante, e aqui está o que eu acho que não é relevante, então eu cortei.”
Fox ficou satisfeito com o projeto finalizado. “Acho que eles fizeram um belo trabalho”, disse ele. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES
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