PUBLICIDADE

Empresa americana cria supercomputador de inteligência artificial alimentado por chips gigantes

Fabricada pela startup Cerebras do Vale do Silício, a máquina foi apresentada no momento em que o boom da IA impulsiona a demanda por chips e capacidade de computação

PUBLICIDADE

Por Yiwen Lu

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Dentro de uma sala cavernosa, esta semana, em um prédio de um andar em Santa Clara, Califórnia, máquinas de quase 2 metros de altura zumbiam atrás de armários brancos. As máquinas compunham um novo supercomputador que começou a funcionar no mês passado.

O supercomputador, apresentado pela Cerebras, uma startup do Vale do Silício, foi construído com os chips especializados da empresa, projetados para alimentar produtos de inteligência artificial. Os chips se destacam pelo tamanho - como o de um prato de jantar, ou 56 vezes maior que um chip normalmente usado para IA. Cada chip Cerebras contém a capacidade de computação de centenas de chips tradicionais.

Um chip Cerebras tem 56 vezes o tamanho de um chip comumente usado para inteligência artificial. Foto: Cayce Clifford/The New York Times

PUBLICIDADE

A Cerebras disse que construiu o supercomputador para a G42, uma empresa de IA. A G42 disse que planeja usar o supercomputador para criar e alimentar produtos de IA para o Oriente Médio.

“O que estamos mostrando aqui é que existe uma oportunidade de construir um supercomputador de IA muito grande e dedicado”, disse Andrew Feldman, CEO da Cerebras. Ele acrescentou que sua startup queria “mostrar ao mundo que esse trabalho pode ser feito mais rápido, pode ser feito com menos energia, pode ser feito por um custo menor”.

A demanda por capacidade de computação e chips de IA disparou este ano, alimentada por um boom mundial de IA. Gigantes da tecnologia como Microsoft, Meta e Google, bem como inúmeras startups, correram para lançar produtos de IA nos últimos meses, depois que o chatbot ChatGPT, alimentado por IA, viralizou pela prosa estranhamente humana que poderia gerar.

Mas fabricar produtos de IA normalmente requer quantidades significativas de capacidade de computação e chips especializados, levando a uma busca feroz por mais dessas tecnologias. Em maio, a Nvidia, fabricante líder de chips usados para alimentar sistemas de IA, disse que o apetite por seus produtos - conhecidos como unidades de processamento gráfico, ou GPUs - era tão forte que suas vendas trimestrais seriam mais de 50% acima das estimativas de Wall Street. A previsão fez com que o valor de mercado da Nvidia subisse acima de US$ 1 trilhão.

“Pela primeira vez, estamos vendo um grande salto nos requisitos de computador” por causa das tecnologias de IA, disse Ronen Dar, fundador da Run:AI, uma startup de Tel Aviv, Israel, que ajuda empresas a desenvolver modelos de IA. Isso “criou uma enorme demanda” por chips especializados, acrescentou ele, e as empresas “correram para garantir o acesso” a eles.

Publicidade

Para colocar as mãos em chips de IA suficientes, algumas das maiores empresas de tecnologia - incluindo Google, Amazon, Advanced Micro Devices e Intel - desenvolveram suas próprias alternativas. Startups como Cerebras, Graphcore, Groq e SambaNova também entraram na corrida, com o objetivo de entrar no mercado que a Nvidia dominava.

Andrew Feldman, executivo-chefe da startup Cerebras, do Vale do Silício, com um novo supercomputador de IA em um data center em Santa Clara, Califórnia. Foto: Cayce Clifford/The New York Times

Equilíbrio de poder

Os chips devem desempenhar um papel tão importante na IA que podem mudar o equilíbrio de poder entre empresas de tecnologia e até nações. O governo Biden, por exemplo, recentemente ponderou as restrições à venda de chips de IA para a China, com algumas autoridades americanas dizendo que as habilidades de IA da China podem representar uma ameaça à segurança nacional dos Estados Unidos, reforçando o aparato militar e de segurança de Pequim.

Os supercomputadores de IA foram construídos antes, inclusive pela Nvidia. Mas é raro que startups os criem.

A Cerebras, com sede em Sunnyvale, Califórnia, foi fundada em 2016 por Feldman e outros quatro engenheiros, com o objetivo de construir hardware que acelere o desenvolvimento de IA. Ao longo dos anos, a empresa levantou US$ 740 milhões, inclusive de Sam Altman, que lidera o laboratório de IA OpenAI, e de empresas de capital de risco como a Benchmark. A Cerebras está avaliada em US$ 4,1 bilhões.

PUBLICIDADE

Como os chips normalmente usados para alimentar a IA são pequenos - geralmente do tamanho de um selo postal - são necessários centenas ou até milhares deles para processar um modelo complicado de IA. Em 2019, a Cerebras lançou o que afirmava ser o maior chip de computador já construído, e Feldman disse que seus chips podem treinar sistemas de IA entre 100 e 1.000 vezes mais rapidamente que o hardware existente.

A G42, empresa de Abu Dhabi, começou a trabalhar com a Cerebras em 2021. Ela usou um sistema da Cerebras em abril para treinar uma versão árabe do ChatGPT.

Em maio, a G42 solicitou à Cerebras a construção de uma rede de supercomputadores em diferentes partes do mundo. Talal Al Kaissi, CEO da G42 Cloud, uma subsidiária da G42, disse que a tecnologia de ponta permitirá que sua empresa crie chatbots e use IA para analisar dados genômicos e de cuidados preventivos.

Publicidade

Mas a demanda por GPUs era tão alta que era difícil obter o suficiente para construir um supercomputador. A tecnologia da Cerebras estava disponível e era econômica, disse Al Kaissi. Assim, a Cerebras usou seus chips para construir o supercomputador para a G42 em apenas 10 dias, disse Feldman.

“A escala de tempo foi reduzida tremendamente”, disse Al Kaissi.

No próximo ano, disse a Cerebras, ela planeja construir mais dois supercomputadores para a G42 - um no Texas e outro na Carolina do Norte - e, depois disso, mais seis distribuídos pelo mundo. Ela está chamando essa rede de Condor Galaxy. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.