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Então é Natal... Por que amamos - ou adoramos odiar - músicas natalinas

Como a própria época de festas, a nostalgia que a canção natalina evoca pode ser emocionalmente carregada

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Por Derrick Bryson Taylor

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Faz pouco mais de um ano que os Backstreet Boys lançaram seu álbum de Natal, A Very Backstreet Christmas, e Francine Biondo o tem repetido desde então.

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Para ser justa, Biondo, 39, cuidadora de crianças em Ontário, Canadá, é fã de Nick Carter e talvez seja ainda mais fã de músicas natalinas. Em meados de novembro, a temporada de Natal já estava a todo vapor para ela, com planos de decorar uma árvore. Embora ela normalmente comece a ouvir músicas natalinas depois do Halloween, ela é conhecida por colocar um pouco de alegria natalina durante o verão (do hemisfério norte, entre junho e setembro).

“Isso me coloca em um estado de espírito feliz e alegre”, disse ela por telefone sobre músicas como All I Want for Christmas Is You, de Mariah Carey, acrescentando que elas evocam lembranças felizes de sua infância.

Para Biondo, as músicas fazem mais do que colocá-la no espírito natalino; elas também aumentam sua produtividade.

“Para ser sincera, preciso de música para passar o dia”, disse ela. “Preciso de música quando estou limpando a casa e fazendo as coisas do dia a dia. Ela ajuda a me motivar. As músicas natalinas, especialmente nessa época do ano, são mais divertidas.”

Ela pode estar certa.

Daniel Levitin, autor e músico em Los Angeles e professor emérito de psicologia e neurociência na Universidade McGill em Montreal, disse que a pesquisa mostrou que a maioria das pessoas nos países ocidentais usa a música para se acalmar.

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“Elas sabem que há certos tipos de música que as deixam de bom humor”, disse ele. “A música natalina é uma música confiável para muitas pessoas.”

Os efeitos curativos da música são estudados há muito tempo. Levitin participou de um estudo de 2013 que concluiu que a música estimula o sistema imunológico do corpo e reduz o estresse.

Levitin disse que ouvir uma música que não se ouvia há muito tempo pode transportar a pessoa de volta no tempo.

“Esse é o poder da música de evocar uma lembrança”, disse ele. “Com essas lembranças, vêm as emoções e possivelmente a nostalgia, a raiva ou a frustração, dependendo de sua infância.”

Para as pessoas que encontram alegria na música de Natal, o cérebro pode aumentar os níveis de serotonina e liberar prolactina, um hormônio calmante e tranquilizante que é liberado entre mães e bebês durante a amamentação, disse Levitin.

Capa do disco '25 de Dezembro', da cantora Simone. Incomum entre artistas brasileiros, discos e músicas de Natal são muto comuns nos EUA. No Brasil, o álbum de Simone foi sufocado pelos memes e virou um disco subestimado. Foto: Polygram/Divulgação

Por outro lado, se memórias e sentimentos negativos estiverem associados ao Natal, as mesmas músicas podem fazer com que o cérebro libere cortisol, o hormônio do estresse que aumenta a frequência cardíaca, e acione a amígdala, o centro do medo do cérebro.

“Há muitas pessoas que, quando chega a época do Natal, só querem correr para casa, colocar a cabeça debaixo das cobertas e esperar que tudo passe”, conta Levitin.

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A música natalina, como todas as formas de música, é poderosa. Mas esse gênero talvez seja mais poderoso do que outras formas de música porque a época de festas em si é emocionalmente carregada. Ela representa os ideais pelos quais a maioria dos seres humanos se esforça, como igualdade, tolerância, amor e tranquilidade.

“Para alguns de nós, essa é uma mensagem inspiradora”, disse Levitin. “Para outros, ela apenas mostra com clareza como estamos longe de alcançar esse objetivo.”

A música natalina cantada para comemorar o solstício de inverno existe há milhares de anos, algumas até anteriores ao cristianismo, de acordo com Alisa Clapp-Itnyre, professora de inglês da Indiana University East. Essas canções eram cantadas em ambientes comunitários e seculares e, já no século III, o cristianismo adaptou os festivais de Natal para as comemorações do nascimento de Jesus. Em seguida, as histórias de Jesus foram incorporadas às canções de natal, que ainda eram cantadas em ambientes comunitários, mesmo entre as classes sociais.

“Durante os meses sombrios do inverno, as pessoas se reuniam para comemorar e ser generosas”, disse Clapp-Itnyre, acrescentando que isso ainda acontece hoje em dia de várias formas, como o Exército da Salvação realizando campanhas de doação e cantando canções de natal em asilos.

No século 20, canções seculares de Natal, como I’ll Be Home for Christmas e White Christmas, começaram a refletir a dor que as pessoas estavam enfrentando e trouxeram consolo, principalmente para os soldados da Segunda Guerra Mundial que não podiam estar em casa no Natal.

“Essas músicas estão se tornando populares durante a guerra porque as pessoas estão buscando algo tradicional, algo que costumavam conhecer sobre família e paz e essas boas tradições, mesmo quando todo o seu mundo está sendo destruído”, disse Clapp-Itnyre.

Os sentimentos positivos associados à música natalina são algo que Vanessa Parvin, proprietária da Manhattan Holiday Carolers, uma empresa de entretenimento natalino, conhece bem. Parvin, 45 anos, canta músicas natalinas profissionalmente desde 1999.

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Parte da alegria, segundo ela, é “aumentar a experiência mágica e a nostalgia das festas de fim de ano de outras pessoas”, o que pode significar atender a pedidos de músicas que lembrem os convidados de sua infância ou de parentes que já morreram.

Embora ela tenha um repertório memorizado de cerca de 90 músicas natalinas, há uma que evoca lembranças de sua própria família.

O Little Town of Bethlehem era a favorita de minha avó, portanto não me faz pensar em canções de Natal”, disse ela. “Ela me faz pensar na minha avó e na minha mãe.”

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