THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE — Amsterdã não vai abrir mão do Gouda. Os restaurantes de Los Angeles vão continuar servindo combinações de bacon, frango, ovo e queijo azul, essenciais para suas famosas saladas Cobb. E os escoceses podem respirar aliviados sabendo que Edimburgo não tem planos de proibir os haggis.
Mas as autoridades de cada uma destas cidades querem que as pessoas consumam menos carne e lacticínios. Elas são signatárias do Plant Based Treaty [algo como “Tratado de Origem Vegetal”, em tradução livre], lançado em 2021 com o objetivo de chamar a atenção para o papel da produção de alimentos na emissão de gases do efeito estufa.
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O tratado não é vinculativo e seu efeito varia muito, indo desde declarações até planos concretos para reduzir a carne e os produtos lácteos servidos em escolas e outras instituições e reduzir o desperdício alimentar.
Mas os líderes locais que defenderam o tratado disseram que ele ajudou a consolidar seus esforços para incentivar o consumo de vegetais por razões climáticas e de saúde, disseminando uma mensagem urgente.
“Em Edimburgo, temos planos climáticos bastante ambiciosos, quer se trate de energia ou de modernização dos transportes públicos, mas nos faltava uma parte fundamental, que era a alimentação”, disse Ben Parker, membro do Partido Verde Escocês na Câmara Municipal de Edimburgo, a qual aprovou o tratado no início de 2023. “Os alimentos à base de vegetais têm um papel importante em termos de redução das emissões de carbono”.
O tratado surgiu do Animal Save Movement. Diante da piora das mudanças climáticas, uma das suas fundadoras, Anita Krajnc, se consternava com o fato de que as emissões e a destruição ecológica ligadas à carne eram muito pouco consideradas nas negociações climáticas globais.
Ela e outros ativistas elaboraram o Plant Based Treaty a partir do Tratado de Não-Proliferação de Combustíveis Fósseis, que exorta governos a cancelarem novos projetos de petróleo, gás e carvão. Além de incentivar as pessoas a consumirem mais vegetais, o Plant Based Treaty pressiona para que não sejam desmatadas novas terras para a pecuária e para que os ecossistemas e as florestas sejam restaurados.
A primeira cidade a aderir foi Boynton Beach, Flórida, em setembro de 2021. “A ideia é aumentar a conscientização sobre as escolhas individuais e os benefícios de comer mais vegetais”, disse Rebecca Harvey, ex-coordenadora de sustentabilidade da cidade.
Desde então, outros 25 municípios aderiram, entre eles Los Angeles, Amsterdã e mais de uma dúzia de cidades na Índia.
O porta-voz de Amsterdã, Rory van den Bergh, disse que a cidade está tentando mudar os hábitos alimentares e quer que 60% da proteína consumida pelos habitantes venha de vegetais até 2030.
Entre os outros signatários se encontram laureados com o Nobel, políticos, cientistas, médicos, atletas e celebridades, como Joaquin Phoenix, Rooney Mara, Alicia Silverstone, Moby e Paul McCartney e as suas filhas Mary e Stella, que lançaram a campanha Segunda-feira sem Carne, em 2009.
Os sistemas alimentares representam um terço da emissão dos gases de efeito estufa que aquecem o planeta. O impacto ambiental das indústrias de carne e de lacticínios é particularmente elevado. A pecuária é responsável por cerca de um terço das emissões de metano, que tem 80 vezes o poder de aquecimento do dióxido de carbono no curto prazo.
Essa indústria também faz uso intensivo da água. São necessários 10 mil litros de água para produzir 450 gramas de carne bovina, 2 mil litros de água para produzir 450 gramas de queijo e 1.500 de água para produzir 450 gramas de frango. Em comparação, lentilhas ricas em proteínas requerem 720 litros de água para 450 gramas.
Um estudo de 2023 da Universidade de Oxford descobriu que, em comparação com dietas ricas em carne, as dietas veganas resultaram em 75% menos emissões de gases de efeito estufa, 54% menos utilização de água e 66% menos perda de biodiversidade. O autor do estudo também calculou que, se os omnívoros no Reino Unido reduzissem o consumo de carne pela metade, isso equivaleria a tirar 8 milhões de carros de circulação.
Lambeth, um dos 32 distritos de Londres, também assinou o tratado. Jim Dickson, um conselheiro do bairro, disse que isso se encaixou nos esforços para incentivar as pessoas a comer mais frutas e vegetais para ajudar a melhorar a saúde – e também nos programas de “prescrição social”, que encorajaram indivíduos isolados a fazer jardinagem comunitária. O distrito também quer reduzir as emissões por prato das refeições escolares, em grande parte adotando mais alimentos vegetais.
Houve reclamações. “Algumas pessoas disseram que isso é uma conspiração sinistra para criar um imposto sobre a carne para a população local, ou que o estado-babá está controlando a dieta das pessoas”, disse Dickson, acrescentando que nada disso é verdade. E uma organização rural vem pressionando o Conselho Municipal de Edimburgo para cancelar seu apoio ao tratado, dizendo que é “anti-agrícola”.
A Câmara Municipal de Edimburgo seguiu em frente e, em janeiro, adotou um plano de ação do Plant Based Treaty que explicava que a cidade “não procurava eliminar a carne e os lacticínios”, mas sim se concentrar em alimentos de alta qualidade, sustentáveis e de origem local. “O plano de ação consiste em aumentar o acesso aos alimentos vegetais e compreender que isso será uma jornada”, disse Parker.
Este artigo foi originalmente publicado no New York Times.
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/ TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU
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