SÃO FRANCISCO - Uma notificação do Facebook no telefone de Gary Bernhardt o acordou no meio de uma noite em novembro do ano passado. A notícia era incrível: uma mensagem do próprio Mark Zuckerberg, dizendo que Bernhardt havia ganhado US$ 750 mil na loteria do Facebook.
“Fiquei todo animado. Você não ficaria?”, disse Bernhardt, 67, operador de empilhadeira aposentado e veterano do exército em Ham Lake, Minnesota.
Para retirar seu prêmio, disseram que ele precisava enviar US$ 200 em cartões de presente do iTunes. Ele comprou os cartões em um posto de gasolina e os enviou. Mas os pedidos de dinheiro não pararam. Em janeiro, ele pagou um adicional de US$ 1.310 em dinheiro, cerca de um terço de seus rendimentos da previdência social em três meses.
Bernhardt acabou percebendo que tinha sido vítima de um golpe que se espalhou no Facebook e no Instagram usando as marcas e os executivos dos sites para atrair as pessoas. Ao mesmo tempo que o verdadeiro Zuckerberg prometia limpar o Facebook, a empresa não conseguia eliminar as contas de impostores que tentavam se passar por ele e por sua diretora de operações, Sheryl Sandberg, para enganar os usuários do Facebook.
O New York Times encontrou 205 contas que fingiam ser de Zuckerberg e Sandberg no Facebook e em seu site de compartilhamento de fotos, o Instagram, sem incluir fan pages ou perfis satíricos, que são permitidos pelas regras da empresa. Ao menos 51 das contas davam golpes de loteria.
Os falsos Zuckerberg e as falsas Sandberg proliferaram, apesar da presença de grupos que rastreiam fraudes e reclamações no Facebook desde pelo menos 2010.
Um dia depois de o Times ter informado o Facebook sobre suas descobertas, a empresa removeu todas as 96 contas falsas de Mark Zuckerberg e Sheryl Sandberg do Facebook. Deixou apenas um dos 109 perfis falsos no Instagram, mas o removeu depois que este artigo foi publicado.
Pete Voss, porta-voz do Facebook, não conseguiu dizer por que o Facebook não havia detectado as contas que se apresentavam como de seus principais executivos. “Não é fácil”, disse ele. “Queremos melhorar”.
O Facebook exige que as pessoas usem nomes verdadeiros. Ainda assim, a empresa calcula que cerca de 60 milhões de suas contas sejam falsas. Analistas disseram que a rede social melhorou seus esforços para remover essas contas, mas entrevistas com algumas vítimas recentes - e conversas on-line com nove impostores - mostraram que o golpe da loteria continua com tudo, atacando pessoas mais velhas, menos instruídas e mais pobres.
As contas falsas de Mark Zuckerberg e Sheryl Sandberg geralmente usam as fotos dos executivos no perfil e suas descrições no Facebook. Os golpistas procuram vítimas que, com base em seus perfis, parecem vulneráveis, disse Robin Alexander van der Kieft, que comanda vários grupos que rastreiam golpes no Facebook. Ele descobriu que muitos dos endereços de protocolo de internet dessas contas falsas são da Nigéria e de Gana.
A farsa enganou pessoas como Donna Keithley, 50 anos, uma mãe de quatro filhos que vive em Martinsburg, na Pensilvânia. Em março de 2016, uma conta com o nome Linda Ritchey enviou uma mensagem a Keithley, “em nome do C.E.O. do Facebook, Mark Zuckerberg”, para dizer que ela tinha ganhado US$ 650 mil. Keithley pagou US$ 350 - como taxa de entrega - no dia seguinte. Foi o começo de uma saga que durou um mês. O golpista se aproveitou da fé cristã de Keithley para fazê-la enviar cada vez mais dinheiro.
Em abril de 2016, ela usou sua restituição de impostos e pediu empréstimos a parentes para pagar ao golpista US$ 5.306,43 - a maior parte em transferências em dinheiro para o nome de Ben Amos, em Lagos, na Nigéria.
“Isso acabou com nossa casa”, disse o marido de Donna, Tim Keithley, um segurança que na época ganhava US$ 10 por hora.
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