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Fotógrafa lança livro com imagens de mulheres em intimidade ‘enganosamente casual’

O novo livro de Morgan Maher, ‘Girls in Bed’, captura uma jovem geração de talentos criativos em imagens confiantemente vulneráveis

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Por Jon Caramanica

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Em dezembro, a fotógrafa Morgan Maher, hospedada na casa de uma amiga no bairro Silver Lake em Los Angeles, ocupou todo o espaço da sala de estar. Em uma ampla bancada, havia uma variedade de revistas vintage: edições da década de 1990 de The Face com Winona Ryder e Liv Tyler na capa, a famigerada capa “Gossip Girl” da revista Rolling Stone com Blake Lively e Leighton Meester compartilhando uma casquinha de sorvete.

E em outra parte da bancada estava o primeiro lote de imagens que comporia Girls in Bed, livro de fotos que Maher estava preparando para ser lançado em fevereiro. Havia cerca de cem fotos de mulheres jovens - muitas delas amigas de Maher -, clicadas em uma cama coberta de lençóis brancos (em geral, a dela). As fotos, como grande parte do trabalho que Maher vinha postando no Instagram nos últimos dois anos, eram divertidas, enganosamente casuais, reveladoras e pacientes. As modelos se mostravam atraentes, simples, e, ao mesmo tempo, transmitiam um propósito.

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“O que amo e o que me interessa tanto é a experiência da adolescente ou o que significa ser uma jovem hoje. E sinto que as mulheres que experimentam prazer e honestidade e uma conexão íntima real com alguém, o que acontece inerentemente no quarto, não estão totalmente presentes na internet”, disse Maher, de 27 anos, usando óculos de bibliotecária enormes e batom vermelho brilhante.

Trabalhos desse tipo se tornaram o cartão de visita de Maher, e Girls in Bed, lançado pela editora nova-iorquina Friend Editions, é o expoente mais completo de sua abordagem até agora. Também a estabelece como a fotógrafa de uma nova geração de mulheres jovens que surgem como líderes no cinema e na televisão (Rachel Sennott, Lukita Maxwell, Zelda Barnz), na moda (Michelle Li, Salem Mitchell), na música (Harmony Tividad, Sabrina Fuentes) e outras no nebuloso grupo da fama on-line que abrange a notoriedade do Instagram (Gabrielle Richardson), renome no YouTube (Enya Umanzor, Orion Carloto) e parentesco com celebridades (Stella Rose Gahan).

O segredo de fotografar pessoas está na confiança, e a consistência nas imagens de Maher sugere um dom para a conexão. No todo, o livro borra a linha entre o profissional e o privado, oferecendo uma visão mais artística e mais privilegiada das novas séries de fotos de Hollywood que costumam apimentar as tradicionais revistas de celebridades.

Trajetória

Nascida e criada em Frederick, Maryland, de pai militar e mãe dona de casa, Maher aprendeu a se ver através da câmera na adolescência, fotografando-se com as roupas que planejava usar durante toda a semana e depois colando as fotos na parede para referência. “Eu me lembro de ser uma garota de 16 anos folheando ‘J-14′ ou qualquer outra coisa e percebendo que tudo era tão pouco realista em relação a vários aspectos do que eu experimentava. E eu ia à internet, ao Tumblr, fazia amigos por correspondência e encontrava minhas referências dessa maneira.”

Depois de se formar na Escola de Arte e Design de Savannah em 2016, mudou-se para Nova York e trabalhou para Marc Jacobs e Tory Burch, bem como para um recrutador de modelos que trabalhava para Marc Jacobs, Sies Marjan, Miu Miu, Bottega Veneta e Celine. “Não quero parecer ingrata. Durante os três anos que passei nesse mundo, aprendi muito, mas também descobri o que nunca quero fazer. Acho que é também por isso que me interessei por criar trabalhos como esse, porque, quando trabalhei com seleção de pessoal e tinha a mesma idade de todas as garotas que estavam sendo tiradas de casa porque diziam a elas ‘você é a pessoa mais bonita do planeta’, percebi que também estavam sendo totalmente desumanizadas no processo.”

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Essas experiências formaram sua abordagem, que ela descreveu como “esculpir a intimidade”, quando atuava como amiga informal e terapeuta nas sessões de fotos. “Sua atitude como pessoa é a maneira como fotografa. Ela cria um ambiente divertido e libertador que permite que você se divirta em um espaço que às vezes pode te deixar vulnerável”, afirmou Sennott, estrela de Shiva Baby e Morte, Morte, Morte.

Maher vê seu trabalho como uma espécie de restauração da inocência, especialmente para as jovens que muitas vezes são desempoderadas em seu ambiente profissional. Sua lente serve como uma ferramenta de reparo. “Tem sempre um tipo de papo sobre trauma que começa durante uma conversa. E é interessante a quantidade de mulheres que confessam: ‘Sim, uma coisa horrível aconteceu comigo.’ E então sinto que há uma relação de segurança com as mulheres que fotografo. Só quero ser o mais agradável, real e humana possível.”

Ela também frequentemente é a própria modelo, aproximando observador e observado. “Acho que, como uma mulher que trabalha em um campo criativo, postar o rosto normalmente é bom para construir um público para seu trabalho. Mas isso deixa claro que ela faz parte de seu universo. Ela é uma das meninas na cama”, observou Biz Sherbert, que escreve sobre a cultura da internet e apresenta o podcast Nymphet Alumni.

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Em junho passado, buscando uma mudança de ares, Maher se instalou em Los Angeles e acabou se envolvendo com um círculo de jovens mulheres do mundo do entretenimento. Oportunidades de trabalho comercial logo surgiram. Recentemente, fotografou Sennott para uma campanha da Calvin Klein, e Emma Chamberlain para a Aritzia. Além disso, trabalha para o Sofia Wine, rótulo de vinhos de Sofia Coppola. (“Adoro Sofia Coppola, e o fato de ela dizer que ama minhas fotos me faz pensar: ‘Posso morrer agora.’”)

A designer de sapatos Nicole Saldaña contratou recentemente Maher para fotografar uma campanha digital. “Eu queria que as imagens fossem como uma garota compartilhando seu estilo favorito no quarto. Dei carta branca a ela para fazer imagens que parecessem orgânicas.” As fotos, tímidas, mas focadas, pareciam uma extensão natural da série Girls in Bed.

Em uma noite de neve de segunda-feira no fim de fevereiro, Maher comemorou o lançamento de Girls in Bed com uma instalação e uma festa na Lubov, galeria no bairro Chinatown, em Nova York. Na sala principal, as pessoas tomavam cerveja e olhavam para algumas das fotos do livro, que haviam sido impressas e emolduradas. Mas Maher também tinha as imagens transformadas em slides e um projetor as exibia, em tamanho enorme, em uma parede na sala dos fundos.

Assim, alguns padrões surgiram. Muitas das modelos se espalhavam além da moldura, sugerindo o alcance de sua ambição corporal e uma ânsia de se conectar ao mundo exterior. Também ficou claro que a cama como espaço significava algo diferente para cada uma. Para algumas era um retiro, para outras um playground. As fotos aludem à brincadeira, à energia, mas não confiam nisso para garantir seu poder de conversação. “Muitas vezes as mulheres são só sensuais. Suas fotos não explicitam muito isso”, disse Sherbert.

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Nenhuma delas parecia tímida, nenhuma parecia terrivelmente preocupada com a câmera, apesar do contato visual persistente. “Sinto que o contato visual parece consensual e fortalecedor, como se elas estivessem assumindo o fato de que estão na foto”, explicou Maher. Ela apontou o número de fotos em que as modelos estão deitadas de costas. “São as mais vulneráveis. É realmente emocionante poder criar isso, porque, tipo, você está se sentindo segura o suficiente para ser retratada tão bonita quanto é, tão real quanto é.”

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