THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Quando ativistas climáticos que protestavam contra a construção de um enorme complexo de igrejas num parque natural no sul de França escalaram o local da construção, as freiras começaram uma perseguição.
Uma irmã agarrou um ambientalista que subia em uma escavadeira, mas perdeu o controle e caiu rolando em um buraco. Duas outras freiras tentaram segurar um manifestante, que conseguiu se soltar. A Irmã Benoîte correu e abordou um ativista que corria - e empurrou-o para uma vala.
“Eles perderam”, disse a Irmã Gaetane, que também agarrou um manifestante. “Tentamos não causar ferimentos.”
Os confrontos do mês passado foram uma escalada significativa de uma hostilidade de longa data entre ativistas ambientais e a Família Missionária de Nossa Senhora, uma ordem católica romana que pretende construir um novo e majestoso centro religioso em um vale verdejante das imaculadas montanhas de Ardèche.
A ordem, que faz parte de uma comunidade católica de cerca de 150 pessoas que inclui freiras e frades e tem sede na aldeia de Saint-Pierre-de-Colombier, planejou construir o novo local por mais de sete anos para acolher o que diz ser um crescente número de peregrinos que visitam a aldeia para venerar uma estátua da Virgem Maria, Nossa Senhora das Neves.
Dois pilares já foram erguidos no rio Bourges, entre as trutas que nadam, para sustentar uma passarela. O projeto também inclui refeitórios para peregrinos e uma igreja - um gigante de cor creme com mais de 26.000 metros quadrados, torres pontiagudas e dezenas de vitrais.
As freiras e frades dizem que a igreja, financiada por doações de peregrinos e outros fiéis, trará novo prestígio à região. Eles estão entusiasmados com o fato da França, um país que tem visto o número de católicos praticantes diminuir constantemente, ainda construir igrejas.
Os seus oponentes, disse o irmão Clement-Marie, membro da ordem, usam a “ecologia como desculpa” porque são fundamentalmente “anticatólicos”.
Mas o que o grupo religioso local diz ser um projeto da “graça de Deus”, os ativistas ambientais dizem ser um monstro poluente numa região densa de encostas rochosas, castanheiros e caminhantes zelosos.
A própria hierarquia católica também se opôs, em parte, ao grande projeto. Um antigo arcebispo local, Jean-Louis Balsa, afirmou em 2020 que a parte da igreja do complexo era “desproporcional” e não devia ser construída. A ordem local recorreu da decisão ao Vaticano, sem sucesso, e teve que suspender a construção da capela, concentrando-se, por enquanto, nos outros edifícios.
Mas o irmão Clement-Marie continua com esperanças de que, no futuro, o projeto completo receba sinal verde. Talvez, disse ele, o número de peregrinos cresça tanto que terão que construir a megaigreja “por razões de segurança”
Cerca de 2.000 peregrinos visitam o local uma vez por ano, em dezembro, para rezar e pedir graças à estátua de Nossa Senhora das Neves. Ela foi erigida para cumprir uma promessa feita em 1944 por fiéis locais, pedindo à Virgem Maria que protegesse a aldeia das forças alemãs durante a Segunda Guerra Mundial.
Os fiéis agora estão orando para que ela os ajude a derrotar um inimigo diferente - um que não carrega armas, mas faixas que dizem: “Sem concreto”.
Os ativistas ambientais organizaram durante anos protestos ou reuniram-se em frente à missa dominical e trouxeram múltiplos desafios legais que conseguiram atrasar o projeto, mas nunca o mataram.
Eles argumentam que as aprovações legais para o projeto da igreja eram falhas e que a ordem religiosa fraudou um formulário de autorização. Na questão sobre se o edifício seria inserido num parque natural, a ordem marcou “não”.
“Eles estão sequestrando a paisagem”, disse Martine Maurice, uma ativista, em entrevista por telefone.
O irmão Clement-Marie disse que houve um erro honesto no formulário. “Na França, para questões de administração, temos que preencher muita papelada”, disse, acrescentando que num dossiê com dezenas de páginas, “é difícil não cometer um erro”.
Ultimamente, os ativistas depositaram as suas esperanças de interromper o projeto na descoberta de uma planta protegida, a resedá de Jacquin, no canteiro de obras.
“A resedá de Jacquin tem o poder de interromper as obras”, disse Pierrot Pantel, engenheiro ecológico e membro da Associação Nacional de Biodiversidade. “De derrubar a basílica.”
No dia 12 de outubro, os ativistas se acorrentaram às escavadeiras instaladas no local para evitar que arrancassem a planta de flor branca.
“Bloqueie as máquinas”, disse Maurice. “Proteja a planta.”
Mas no segundo dia de sua ocupação, os ativistas foram confrontados por uma falange de freiras e frades que procuravam proteger as escavadeiras. Os confrontos físicos - que fizeram com que um irmão torcesse o tornozelo e um ativista quebrasse um dedo - foram seguidos por um impasse de horas em que as freiras cantaram Ave Maria para os manifestantes, que estavam sentados nas máquinas.
No final do dia, os ativistas voltaram para a casa, mas comprometeram-se a continuar a tentar bloquear o projeto. “A nossa principal forma de reagir”, disse o irmão Clément-Marie, “é a oração”. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES
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