THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Quando TMNT, um filme de animação das Tartarugas Ninja, foi lançado em 2007, a crítica Jeannette Catsoulis escreveu no The New York Times que ele trazia “uma impressionante falta de textura visual”. Ela não estava errada. Os répteis de mesmo nome são representados em uma forma inerte gerada por computador, como se tivessem sido modelados em plástico e depois colocados em uma tela. Sua pele verde é opaca e lisa.
O mesmo não pode ser dito das tartarugas na última encarnação dessa história cheia de ooze: As Tartarugas Ninja: Caos Mutante. Neste filme nossos heróis - Michelangelo, Donatello, Leonardo e Raphael - parecem surgir do caderno de um (talentoso) desenhista do ensino médio. Seus corpos e rostos são representados com uma qualidade de esboço imperfeita que torna seus olhos vívidos e seus sorrisos vibrantes. Seu tom verde é diferente e ganha contornos extras quando refletido nas luzes neon de Nova York.
Caos Mutante, dirigido por Jeff Rowe, representa uma mudança maior que ocorreu nos 16 anos desde que “TMNT” foi lançado. É parte de uma onda de filmes que prova que a animação gerada por computador não precisa parecer tão chata.
Então o que aconteceu? Bem, em 2018, Homem-Aranha: No Aranhaverso foi lançado. No Aranhaverso - junto com sua sequência ainda mais tecnicamente virtuosa, Através do Aranhaverso (que acaba de entrar no catálogo da HBO Max)- contrariou a tendência da animação moderna ao invocar as origens dos quadrinhos de seu herói com pontos Ben-Day e sequências selvagens e alucinógenas.
Desde que No Aranhaverso se tornou um sucesso de bilheteria e também vencedor do Oscar, os grandes estúdios estão com menos medo de animações que divergem da norma. O filme provou que o público não rejeitaria projetos que parecessem marcadamente diferentes dos estilos da Pixar (Toy Story) e da DreamWorks (Shrek). Filmes como Caos Mutante, A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas, Gato de Botas 2: O Último Pedido e Nimona têm visuais distintos que são visualmente sensacionais, sem estar em conformidade com os manuais estabelecidos.
É animador para os cineastas também. “Todos os animadores já fizeram isso antes: almoçar uns com os outros e reclamar de como todos os filmes de animação parecem iguais”, disse Mike Rianda, diretor de Família Mitchell, em uma entrevista. (Rianda é membro da SAG-AFTRA e falou antes da greve.)
Rianda - que trabalhou nesse filme ao lado de Rowe, seu codiretor - estava desenvolvendo-o na Sony Pictures Animation enquanto No Aranhaverso estava em andamento. (Ambos foram produzidos por Phil Lord e Christopher Miller; Família Mitchell acabou sendo lançado na Netflix em 2021.) Família Mitchell, sobre a viagem de uma família excêntrica durante o domínio da IA, parece uma janela para a mente superestimulada de sua heroína adolescente, Katie Mitchell (dublada por Abbi Jacobson), uma exuberante nerd do cinema - e Rianda e Rowe queriam que a animação tivesse todas as peculiaridades dela. Eles achavam que os humanos deveriam parecer imperfeitos e assimétricos, em vez de Os Incríveis da Pixar, porque o enredo tratava de uma batalha entre Homo sapiens esquisitos e robôs regulados.
Ainda assim, houve pressão do estúdio para seguir o caminho padrão. “Isso é fácil”, disse Rianda. “O computador já sabe como fazer isso. Já aprendeu. Foi maravilhoso ter o Aranhaverso passando na sala ao lado para que pudéssemos apontar para ele e dizer: ‘Olha, eles estão fazendo isso. Nós também podemos fazer isso, certo?’”
Mistura de técnicas
Filmes como No Aranhaverso e aqueles que seguiram seus passos misturam técnicas de animação comuns em filmes 3D geradas por computador com aquelas que eram comuns na animação 2D anterior desenhada à mão. Não é só o fato de as imagens serem menos fotorrealistas, os movimentos das personagens também o são. Os resultados são mais impressionistas, à semelhança dos desenhos animados dos Looney Tunes, dos clássicos da Disney ou de décadas de anime.
Por exemplo, quando o herói gato de Gato de Botas 2: O Último Pedido enfia sua espada na unha do polegar de um gigante na sequência musical de abertura, o céu fica amarelo enquanto o gigante suspira de dor. O polegar do gigante fica vermelho e linhas brancas reverberam no fundo, imitando o latejar.
O objetivo inicial de Rowe para Caos Mutante era ser o mais ousado possível, eliminando qualquer timidez que ele tivesse sentido ao ultrapassar os limites em Família Mitchell. À medida que passava mais tempo trabalhando no mundo das Tartarugas, ele descobriu de onde vinham esses impulsos e como eles se encaixariam na história. Ele e o designer de produção, Yashar Kassai, redescobriram desenhos que faziam quando eram adolescentes. “Existe uma expressão absoluta e uma honestidade nesses desenhos”, disse Rowe. “É um filme sobre adolescentes; essa é a nossa Estrela do Norte. Vamos nos comprometer com o estilo de arte que parece ter sido feito por adolescentes. Idealmente, o mundo e os personagens parecerão como se eles mesmos tivessem desenhado.”
Como espectador, acho revigorante ver os animadores de Caos Mutante literalmente colorindo fora das linhas. Quando as tartarugas saltam pelos telhados, a lua atrás delas parece ser um rabisco vibrante. Você pode ver linhas de caneta (digitais) em explosões e expressões.
“No início, Aranhaverso deu permissão às pessoas”, disse Rowe. “E agora acho que com Através do Aranhaverso isso se tornou um mandato. Acho que se alguém fizer um filme que pareça um filme de computação gráfica em 3D dos últimos 30 anos, vai parecer datado.” Para o público, isso é uma ótima notícia. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES
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