Cada um tem uma idade cronológica, que comemora nos aniversários. Entretanto, algumas pessoas na casa dos 50, 60, 70 aproximadamente, parecem e se sentem mais jovens, e outras não. Os cientistas podem medir estas diferenças observando os biomarcadores relacionados à idade. Indivíduos com um estilo de vida e condições de vida saudáveis, e com uma herança genética privilegiada, tendem a entrar na categoria dos que se sentem “mais jovens” destas avaliações e apresentam uma “idade biológica” menor.
Mas há uma maneira mais fácil de determinar a situação em que as pessoas se encontram. É a chamada “idade subjetiva”. Quando os cientistas perguntam: “Quantos anos você sente que tem em geral?” a resposta tende a refletir o estado de saúde física e mental destas pessoas. “Esta simples pergunta é particularmente importante”, disse Antonio Terracciano professor de geriatria da Universidade Estadual da Florida.
Os cientistas estão constatando que os indivíduos que se sentem mais jovens do que a sua idade cronológica costumam ser mais saudáveis e psicologicamente mais resistentes do que os que se sentem mais velhos. Eles se saem melhor em tarefas que exigem a memória, e têm um risco menor de declínio cognitivo.
Em um estudo publicado em 2018, uma equipe de pesquisadores da Coreia do Sul fez imagens dos cérebros de 68 adultos saudáveis mais velhos e perceberam que os que se sentiam mais jovens do que os da sua idade tinham uma matéria cerebral mais espessa e haviam sofrido uma menor deterioração relacionada à idade.
Por outro lado, pessoas que se sentem mais velhas do que a sua idade cronológica correm mais o risco de precisarem ser hospitalizadas, de terem demência, e de morrer. “Encontramos inúmeras associações que permitem fazer previsões”, disse Yannick Stephan, professor da Universidade de Montpellier na França.
Perguntando simplesmente às pessoas quantos anos elas sentem que têm, disse Stephan, os médicos poderiam identificar quem tem mais risco de problemas de saúde. Segundo ele, as pessoas têm informações intuitivas a respeito de suas capacidades físicas, acuidade mental e estabilidade emocional, e tudo isto resulta em um único número extremamente importante.
Contudo, os críticos afirmam que para muitos indivíduos, a idade subjetiva reflete obsessões culturais com a juventude. As pessoas cultivam uma identidade mais jovem para afastar os estereótipos de fragilidade e senilidade, afirmou David Weiss, um psicólogo da Universidade de Leipzig. “Se a idade dos idosos não fosse avaliada negativamente, algumas pessoas não teriam a necessidade de dizer que se sentem mais jovens”, afirmou.
De fato, nas culturas em que os mais velhos são respeitados por sua sabedoria e experiência, as pessoas não compreendem o conceito de idade subjetiva, acrescentou. Quando um estudante de pós-graduação de Weiss fez pesquisas na Jordânia, as pessoas com as quais ele conversava diziam: “Eu tenho 80 anos. Não sei o que você quer dizer com ‘Que idade você sente que tem?’ ”
Especialistas concordam que cada um de nós envelhece de maneira diferente e que as pessoas têm certo controle sobre este fato. Hábitos saudáveis, como comer bem e fazer exercício físico, podem adiar o desgaste da idade. Igualmente importante é manter uma atitude positiva.
Os especialistas estimulam as pessoas a reconhecer não apenas as perdas associadas ao envelhecimento, mas também os ganhos, que são importantes. À medida que envelhecemos, tendemos a ser mais felizes e mais satisfeitos, disse Tracey Gendron, gerontologista da Virginia Commonwealth University.
Perguntando que idade as pessoas sentem que têm, “acaso estaremos alimentando a concepção mais comum do envelhecimento como declínio?” ela disse. “A idade avançada é uma época pela qual na realidade podemos ansiar. As pessoas de fato se alegram mais e estão em paz consigo mesmas. Gostaria que todos revelassem a própria idade todos os anos e a comemorassem". / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA
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