A história do homem que pulou no Lago Michigan todos os dias por um ano

Ele começou quando a pandemia se alastrava e continuou sem se importar com o inverno de Chicago

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Por Julie Bosman

CHICAGO – Em um sábado de junho do ano passado, Dan O’Conor começou o seu dia em um estado irritadiço e doloroso. Estava ansioso por causa da pandemia de coronavírus, preocupado com a política americana e naquela manhã particularmente, depois de comemorar com os vizinhos a formatura do filho no ensino médio e de algumas doses de Bourbon, estava espetacularmente de ressaca.

Cansada de ouvi-lo chorar, sua esposa Margaret mandou que ele saísse de casa. Ele pegou a bicicleta e pedalou por cerca de cinco quilômetros até o Lago Michigan, onde podia ver ao longe os arranha-céus de Chicago brilhando mais ao sul.

Dan O'Conor no Lago Michigan, em Chicago. Foto: Lyndon French/The New York Times

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O’Conor ficou de pé na base de concreto na beira do lago em um ponto onde a água tinha cerca de cinco metros de profundidade e estimulantes 10ºC. Sua cabeça latejava. Então, pulou.

“Eu me senti muito bem”, disse. “Só queria deixar de pensar em tudo aquilo, a pandemia, tudo”.

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Esta é a história de um homem de 53 anos que pulou por um ano, todos os dias, no Lago Michigan. Os saltos de O’Conor acompanharam o arco completo das estações em Chicago, desde o calor glorioso até o frio terrível, e então, tudo de novo. Quase pegaram a pandemia também, dos primeiros meses até o seu declínio no Centro-Oeste.

O salto diário começou como um ritual pessoal, uma maneira de fugir das notícias desanimadoras do dia, de fazer um pouco de exercício e alegrar a si mesmo com uma corrida de bicicleta e o esplendor do lago.

Dan O'Conor viu a ida ao lago e o mergulho como uma forma de lidar com as frustrações da pandemia. Foto: Lyndon French/The New York Times

Um ano mais tarde, tornou-se algo absolutamente maior.

O que era um pulo matinal solitário no lago agora atrai uma multidão regular de espectadores: familiares, amigos, conhecidos casuais, pescadores e, às vezes, duas mulheres tagarelas da Polônia que interrompem a sua caminhada diária.

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O pulo é um espetáculo musical, também, desde que O’Conor começou a convidar alguns grupos locais – muitos deles desempregados por causa da pandemia – para fazer um fundo musical para ele enquanto pula no Lago Michigan.

E ainda há milhares de espectadores on-line: O’Conor posta um breve vídeo do seu salto diário no Twitter e no Instagram.

Foi aí que vi pela primeira vez O’Conor, que se identifica como @TheRealDtox, um aceno ao seu trabalho temporário na produção de camisetas estampadas, que vendia no Lollapalooza e em outros festivais antes da covid.

Depois do pulo na primeira manhã, O’Conor voltou no dia seguinte e no outro. Por volta do quarto dia, postou uma foto nas redes sociais. Cerca de um mês mais tarde, um amigo perguntou se ele continuava pulando no lago. As coisas eram tão sombrias com a pandemia, os protestos, a política. As pessoas perguntavam: Por quanto tempo você vai fazer isso? Por que você está fazendo isso?”

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O’Conor não sabia por quanto tempo continuaria pulando ou mesmo particularmente por que motivo continuava pulando uma manhã após a outra. Mas havia algo no seu ritual que agradava a sua grande e obsessiva personalidade e seu gosto pelas rotinas. Antes da pandemia, O’Conor, um ex-executivo de publicidade da revista Spin, atarracado, com um cabelo indomável, assistia a festivais e shows de música pelo menos duas vezes por semana – e levava consigo um pequeno caderno onde anotava cada música que os músicos tocavam. Há uma pequena lixeira cheia de caderninhos na sua garagem.

Durante o inverno, havia dias em que não conseguia pular: quando o lago Michigan ficava coberto de neve e gelo, ele precisava quebrá-lo com uma pá para mergulhar cuidadosamente no lago, e depois subir de novo. Certa vez, uma mulher o interrompeu na beira da água, preocupada com a sua saúde mental.

“Está tentando se matar?” perguntou ela.

“Não. Estou só pulando e saindo da água”, respondeu.

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Com o tempo, os mergulhos de Dan O'Conor chamaram atenção e as pessoas começaram a procurá-lo pedindo para saltar também. Foto: Lyndon French/The New York Times
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Algumas pessoas acharam a sua façanha contagiante, divertida, até mesmo inspiradora. Outras se perguntavam se ele havia enlouquecido.

“Nunca as pessoas me disseram isso diretamente”, contou sua mulher, que tem um banco de alimentos em Chicago. “Mas as que não costumam assumir riscos diziam: ‘Como você pode deixar que seu marido faça isto?’ e coisas assim. Mas se você vive há 30 anos com um sujeito, em geral o conhece. Não vou poder dizer para ele não fazer isso”.

Um dos empregos de O’Conor é dirigir um ônibus nos bairros da região norte de Chicago que leva as pessoas com problemas de saúde ou deficiências às suas consultas do início da tarde até tarde da noite – o trabalho lhe consentia pular todas as manhãs.

Alguns meses depois, um veículo da mídia local, o jornal Block Club, ficou sabendo dos seus pulos, ampliando a atenção entre amigos e conhecidos.

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Um amigo que estava atravessando um período de graves problemas pessoais passou a ir ao lago para vê-lo pular, só para começar o dia numa atmosfera mais leve e tirar as coisas negativas de sua cabeça. O’Conor, uma pessoa extremamente sociável antes da pandemia, descobriu que por causa dos seus pulos estava renovando velhas amizades, fazendo novas, inclusive recebendo mensagens de pessoas que não via há 20 anos.

Dan completou um ano pulando no Lago Michigan em junho; ele segue com os mergulhos e postando os saltos nas redes sociais. Foto: Lyndon French/The New York Times

No início de junho, O’Conor chegou ao seu lugar costumeiro às 10h30 da manhã, vestindo um longo roupão – de um brechó de Wisconsin – que ele tinha decorado com as palavras “O Grande Saltador do Lago”. O sol era muito forte; algumas pessoas estavam sentadas conversando quando Tim Midyett, um músico local, começou a afinar o seu violão.

“Não toco na frente de uma pessoa desde janeiro de 2020”, falou.

O’Conor se preparou para pular. Não há nada de elegante ou de bonito em sua técnica. Ele não mergulha e nem desaparece corretamente embaixo da água. Salta apenas, de maneira desengonçada. Às vezes, executa um salto mortal de costas, bastante impressionante.

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Ainda estava alegre quando saiu pingando da água, e insistiu em fazer mais duas ou três tentativas antes de ir embora.

“Refrescante”, disse falando da água. “É de tirar o fôlego”. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

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