Livros sobre Trump continuam saindo, e leitores não param de comprar

As editoras estão produzindo livros sobre o presidente dos Estados Unidos para todos os gostos e partidários

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Por Elizabeth A. Harris e Alexandra Alter

Desde que foi lançado, em maio, o mais recente livro da série Hunger Games, The Ballad of Songbirds and Snakes, vendeu 1,3 milhão de exemplares, um verdadeiro golaço em termos de best-sellers, segundo os padrões da indústria editorial. O livro de memórias de Mary Trump sobre o tio, Too Much and Never Enough, vendeu mais ainda na primeira semana depois do lançamento.

Os livros sobre personalidades políticas e o governo não são considerados possíveis sucessos comerciais. Mas desde que o presidente Donald Trump assumiu o cargo, os livros sobre a sua campanha, sua administração, sua família, negócios, políticas, e até mesmo sobre o seu jogo de golfe, as editoras, grandes e pequenas, não param de lançá-los.

Livros sobre a presidência de Donald Trump Foto: Jessica White The New York Times

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Muitos destes títulos vendem extraordinariamente bem. “Independentemente da posição política do leitor, não há nenhuma dúvida de que o ressentimento contra o governo de Trump contribuiu para impulsionar as vendas de uma maneira nunca vista antes na arena política”, afirmou Kristen McLean, diretora-executiva de desenvolvimento de negócios da NPD Books, uma empresa de pesquisa de mercado.

“O volume de títulos mais vendidos é realmente notável”. No início da presidência de Trump, saíram os primeiros grandes artigos jornalísticos, a começar por Fire and Fury de Michael Wolff, e depois Fear, de Bob Woodward, que venderam mais de 2 milhões de exemplares.

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Em seguida, saíram os depoimentos de pessoas de dentro da Casa Branca sobre o tumulto provocado pelas renúncias e demissões de vários funcionários e que tentaram recuperar sua reputação e sua fortuna com memórias de cair o queixo, muitas vezes relatos que eram verdadeiras manchetes.

Entre estes, as obras de Anthony Scaramucci, que trabalhou 11 dias como diretor de comunicações da Casa Branca; Cliff Sims, outro ex-assessor de comunicações; Omarosa Manigalt Newman, ex-assistente do presidente; James Comey, ex-diretor do FBI; John Bolton, ex-assessor de segurança nacional; e de Anonymous, uma figura de alto escalão no governo Trump.

Se houve alguma preocupação de que os leitores pudessem cansar de tantas revelações, elas foram amenizadas pelos números das vendas. As vendas de livros sobre Trump continuam aumentando. Neste verão, o livro de Bolton vendeu mais de 1 milhão de exemplares, enquanto o de Mary Trump está na 20ª reimpressão.

“Os livros de conteúdo político foram mais ou menos bem, em proporção a como é polarizadora a figura ao redor da qual orbitam, e não há nada mais polarizador do que Donald Trump”, afirmou Eamon Dolan, editor-executivo da Simon & Schuster que publicou o de Mary Trump. “Seja qual for a sua opinião a respeito do presidente em termos políticos ou existenciais, em relação ao que ele possa fazer pelo país ou ao país, sempre dará uma grande reportagem”.

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Apesar de ter se portado como um líder que insufla as divisões, “Donald Trump é uma figura muito unificadora para os compradores de livros”, acrescentou Dolan. Na realidade, tem havido inúmeros sucessos de autores conservadores que apoiam o presidente, como All Out War: The Plot to Destroy Trump, de Edward Klein, The Permanent Coup, de Lee Smith, The Russia Hoax: The Illicit Scheme to Clear Hillary Clinton and Frame Donald Trump de Gregg Jarrett; e o recente livro de David Horowitz BLITZ: Trump Will Smash the Left and Win.

Ultimamente, Donald Trump tuitou uma mensagem de apoio a um livro a ser lançado em breve pelo âncora da Fox Business, Lou Dobbs, intitulado The Trump Century: How Our Presidente Changed the Course of History Forever. Thomas Spence, presidente da Regnery Publishing, que publica títulos conservadores, disse que as obras políticas em geral têm uma carreira melhor quando criticam a oposição no poder.

Mas os anos Trump foram bons para a Regnery. “Tivemos muitos sucessos”, afirmou Spence. Os anos do boom se estenderam além das memórias atraentes e dos defensores ferrenhos. A própria Constituição vendeu inusitadamente bem. Suas vendas aumentaram 40% em relação ao mesmo período do segundo mandato do presidente Barack Obama.

E o relatório de Mueller, que era de domínio público e disponível online gratuitamente, vendeu centenas de milhares de exemplares quando os editores lançaram suas próprias edições. “Negativo, positivo, esquerda, direita – os últimos três ou quatro anos foram benéficos para muitos”, disse Robert B. Barnett, um advogado de Washington intermediador de importantes acordos editoriais de ambos os lados da política.

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Os livros políticos que detalham o funcionamento interno de um governo são, há décadas, um gênero popular, desde a era Eisenhower. Mas a quantidade de títulos, e o público para estes, aumentaram nos últimos anos. Com a ascensão dos noticiários da TV a cabo claramente partidários, e a crescente polarização da mídia e do público a partir dos anos 1990, quando os escândalos que cercaram os Clinton alimentaram a fúria da direita e as táticas defensivas da esquerda, as editoras começaram a publicar mais livros partidários na tentativa de apelar para os leitores de todo o espectro político.

Os subgêneros que surgiram – livros que elogiam o presidente, livros que o criticam, memórias da Casa Branca, narrativas jornalísticas – brotaram em um grau sem precedentes no governo de Donald Trump, disse Jon Meacham, biógrafo e autor de obras sobre os presidentes Thomas Jefferson, Andrew Jackson, Franklin Roosevelt e George W. Bush. “Trump atiçou o interesse na política, para o bem e para o mal”, ele disse.

“Este é um momento profundamente dramático, ferozmente tribal, urgente, por isso há este espantoso apetite por todas as coisas políticas”. Nos últimos quatro anos, saíram mais de 1,2 mil títulos exclusivamente sobre Trump, em comparação a cerca de 500 sobre Obama e o seu governo durante o primeiro mandato deste, segundo um analista da NPD BookScan.

Foram publicados tantos livros importantes a respeito da era Trump que inclusive está prestes a sair um sobre todos os livros que falam do presidente: What Were We Thinking, do crítico do Washington Post Carlos Lozada. Ele faz a resenha de cerca de 150 títulos que tentam explicar como Trump ganhou e vem governando, e o que a sua presidência nos diz sobre o país que o elegeu.

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Trump manifestou sua indignação em relação a alguns dos livros, respondendo com tuítes irritados e ações legais que provocam uma cobertura ainda maior do noticiário e contribuem para aumentar as vendas.

Representantes do setor concluem que o aumento extraordinário das vendas de livros políticos favoreceu a recuperação da indústria nos últimos meses, apesar da pandemia e da crise econômica. As vendas de unidades de impressão cresceram mais de 5% até o presente mês de 2020, em comparação ao mesmo período de 2019, segundo a NPD BookScan. A apenas dois meses das eleições, está chegando uma super safra de obras sobre Trump.

No próximo mês, a Skyhorse, uma editora independente, lançará Disloyal, as memórias de Michael Cohen, o ex-advogado e faz tudo do presidente, com suas afirmações explosivas a respeito do comportamento de Trump em uma apresentação que ele divulgou no seu site. A Skyhorse está prevendo um sucesso, com uma primeira impressão de 600 mil volumes.

Entre outros livros importantes sobre o presidente que sairão no próximo mês está Rage de Woodward, uma obra investigativa que detalha os negócios de Trump com a Coreia do Norte e sua gestão da pandemia do coronavírus; um livro de memórias de Rick Gates, um assessor de alto nível na campanha de 2016 e testemunha na investigação da Rússia; um livro de Andrew Weissmann, o principal promotor do escritório do conselheiro especial; um livro sobre a investigação do FBI na interferência da Rússia nas eleições, de Peter Strzok, ex-vice-diretor assistente do serviço de contrainteligência do FBI, e Donald Trump v. The United States: Inside the Struggle to Stop a President, de Michael S. Schmidt.

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Há também Melania and Me: The Rise and Fall of My Friendship with the First Lady, de Stephanie Winston Wolkoff, uma antiga amiga e assessora que diz ter sido obrigada a sair do governo e “jogada embaixo do ônibus” depois da publicação de artigos sobre os gastos excessivos da posse, na qual esteve profundamente envolvida.

Embora Trump forneça o material original para estes livros não teve, aparentemente a capacidade de aumentar as vendas daqueles de sua preferência. No início deste ano, ele postou no Twitter para os seus 86 milhões de seguidores a respeito de um livro intitulado Trump and Churchill: Defenders of Western Civilization, de Nick Adams. Segundo a NPD BookScan, o livro vendeu apenas 2.810 exemplares desde maio.

A Post Hill Press, que o publicou, anunciou uma continuação a sair no próximo ano: Trump and Reagan. Quando Donald Trump recomenda um livro, isto exerce uma influência limitada sobre as vendas, mas quando Trump odeia um livro, este se torna o número 1, “ disse Matt Latimer, fundador da Javelin, uma agência literária com sede em Washington. “Reze para Trump odiar o seu livro, e reze para o presidente tuitar sobre ele”. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

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