A arte do tricô reverso

Artesãs que procuravam o cardigan colorido de Harry Styles e as luvas que Bernie Sanders usou na posse de Biden estão criando seus próprios modelos

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Por Hannah Wise

Tudo começou com um simples suéter. Depois que Harry Styles apareceu com um cardigan de patchwork em várias cores para o ensaio do programa Today, no ano passado, as tricoteiras foram atacadas por um verdadeiro frenesi e tentaram criar seus próprios padrões.

Foram tantas as usuárias do TikTok e do YouTube que compartilharam o seu processo usando o hashtag #harrystylescardigan – com dezenas de milhões de visualizações – que o criador do cardigan original, Jonathan Anderson da marca JW Anderson, lançou um padrão oficial com um vídeo tutorial.

Cardigã de patchwork feito para se parecer com o de JW Anderson, de Selina Veronique Bernier. Foto: Selina Veronique Bernier via The New York Times

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No fim, o casaco original foi adquirido pelo Museu Victoria and Albert de Londres, e foi elogiado pela instituição como um “fenômeno cultural que fala do poder da criatividade e da mídia social que conseguiu unir as pessoas em um momento de extrema adversidade”.

Tricoteiras e crocheteiras sempre constituíram um grupo de pessoa cheias de recursos (e com uma profunda consciência de comunidade). Mas a coqueluche do tricô reverso que está ocorrendo na mídia social deve muito ao momento atual.

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“O artesanato floresce quando as pessoas estão presas em casa”, afirmou Abby Glassenberg presidente e uma das fundadoras da Craft Industry Alliance.

O seu valor, segundoAbby, está em parte no fato de as artesãs encontrarem inspiração e encorajamento entre si. Os modelos de cachecóis de Harry Potter, dos xales de Adoráveis Mulheres e do Baby Yoda de pelúcia podem ser encontrados com facilidade no Ravelry, um site muito conhecido que tricoteiras e crocheteiras usam para divulgar padrões e para se comunicarementre si.

Senador Bernie Sanders e suas luvas exclusivas, que chamaram a atenção nas redes sociais, no Dia da Posse do Presidente Joe Biden. Foto: Ruth Fremson / The New York Times

Quando o senador Bernie Sanders foi visto (talvez você o tenha visto em alguns memes?) usando umas luvas grandes com desenhos na posse, as fãs do tricô correram para o Ravelry em busca do modelo. E, evidentemente, em menos de 24 horas, Meg Harlan, uma cientista do clima de 27 anos, dos Estados Unidos, que mora em Copenhague, na Dinamarca, já havia feito um par destas luvas e postado no site.

“Escrevi o padrão para tricotar para mim mesma, quase como uma brincadeira, mas decidi postá-lo por que amo a comunidade que o Ravelry criou para compartilhar ideias e a febre do tricô e do crochê no mundo inteiro”, escreveu Harlan em um e-mail. “Foi muito divertido ver todos os comentários de pessoas animadíssimas por conseguirem tricotar o próprio par!” (As luvas autênticas de Sanders foram feitas por Jan Ellis, uma professora de escola de Vermont, que reaproveitou malhas de lã e tecido feito a partir de garrafas plásticas recicladas).

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Os modelosde tricô de material reaproveitado não são necessariamente para iniciantes. Na Filadélfia, Caryn Shaffer, 32, passou meses trabalhando no seu modelo do suéter cor creme usado por Chris Evans no filme Entre facas e segredos, de 2019.

“Aquele filme está repleto de agasalhos de tricô realmente bonitos,” disse Shaffer. “O suéter de Chris Evans, particularmente, serviu de inspiração para muita gente”.

Chris Evans em um suéter de assinatura no filme "Entre Facas e Segredos", de 2019. Foto: Claire Folger / Lionsgate via The New York Times

‘Desconstruído, e punk’

No ano passado, enquanto proliferavam no TikTok as pessoas que explicavam o cardigan de Harry Styles, Anderson sabia que iria entrar na briga com o seu modelo original. Ele pediu a Ruth Herring, criadora de tricô e autora do modelo, de Londres, que criasse um modelo oficial.

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“Queria mostrar, realmente, o nosso reconhecimento, então estamos compartilhando o modelos com todo mundo”, falou Anderson por meio de um porta-voz em um email, depois da divulgação do modelo. “Gostei da ideia de uma coisa que parece autêntica, quase feita em casa, como se você ou a vovó a tivessem feito, mas ao mesmo tempo um modelo que parece quase desconstruído, bem punk”.

Herring, 62, trabalhou vários anos com Anderson e a equipe de tricô da JW Anderson, mas não criou o cardigan original usado por Styles. Depois que ela concordou em escrever a explicação do padrão feito à mão, o cardigan original foi entregue para que ela o examinasse.

“O modelo é perfeito para uma iniciante”, ela disse em entrevista por telefone. “Você está começando com os seus pontos básicos, depois passa para um trabalho colorido”.

Infelizmente, as crocheteiras que quiseram fazer o cardigan tiveram de converter o ponto no seu próprio (o crochê é uma arte diferente do tricô). Em Newcastle upon Tyne, na Inglaterra, Selina Veronique Bernier, 38, passou todo o tempo do lockdown fazendo exatamente isto, (ela disse que começoua ver o cardigan no TikTok depois que foi afastada temporariamente do seu emprego na loja de departamento de luxo Fenwick’s).

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Um suéter parcialmente concluído por Caryn Shaffer baseasoem um modelo usado por Chris Evans no filme "Entre Facas e Segredos", de 2019. Foto: Caryn Shaffer via The New York Times
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Em Los Angeles, Liv Huffman, 22, também começou a trabalhar no seu modelo em crochê para o cardigan. O processo de duas semanas que Liv, influenciadora de mídia social conhecida por seus tutoriais de maquiagem, postou no TikTok, se tornou tão conhecido que a criação dela passará a fazer parte do design da JW Anderson no Museu Victoria and Albert.

Shafffer também vê um intenso interesse em seu modelo inspirado no filme Entre Facas e Segredos.

Ela começou a escrever o padrão em um Google Docs depois de ver o filme em dezembro de 2019, mas começou a trabalhar com afinco depois de ficar em licença temporária no ano passado. Trabalhar o modelo em um documento público permitiu que outras tricoteiras a seguissem enquanto ela bolava como fazer o acabamento singular do suéter.

O progresso de Shaffer no suéter foi ficando mais lento em parte porque ela começou um novo emprego no The Philadelphia Inquirer, mas afirmou que não impediu que as colegas concluíssem os seus suéteres seguindo o modelo delas.

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“Eu fiz o modelo gratuitamente, porque queria que o maior número possível de pessoas pudessem ter acesso ao tricô por si própriase encontrassem nisso o mesmo conforto que eu sinto há anos”, acrescentou. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

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