Modern Love: Por que meu marido está se casando com ela?

Ele era fofo, engraçado - e totalmente inadequado para mim. Era mesmo?

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Por Briana Pozner

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Quando a noiva de Josh se aproximou dele no altar, uma voz estranha surgiu da minha psique, me pegando de surpresa. “Lá vai seu marido”, ela dizia. E por um segundo tive certeza de que Josh, agora a minutos de dizer “sim”, deveria se casar comigo.

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Esse momento de pressentimento, embora chocante, foi algo surpreendentemente fácil de me livrar. Quando se tratava de Josh, eu tinha me acostumado a questionar, tendo passado pelo menos metade dos meus 20 anos recusando-me a se comprometer com a ideia de “nós” enquanto também lutava para seguir em frente. Além do fato de que ele morava do outro lado do país, sempre parecemos ter temperamentos diferentes demais para fazer um relacionamento funcionar.

“O que é seu ninguém toma”, meu melhor amigo me disse uma vez. E aqui estava Josh, prometendo sua vida a outra pessoa, então eu tive que assumir que meu instinto inicial - que éramos fundamentalmente incompatíveis - estava certo.

Onze anos antes daquele momento no casamento, eu conheci Josh no corredor de seu apartamento em Londres no início do nosso programa de estudos no exterior da faculdade. “É também uma escova de dentes”, ele disse antes de se apresentar. Eu havia comentado sobre a anomalia da lavadora/secadora, provocando sua piada sobre as muitas funções do interruptor de luz britânico. Ele fez essa piada como se não se importasse se eu entendesse, parecendo ser a rara combinação de engraçado e seguro. Decidi que seríamos amigos.

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Mas logo, o contato visual ansioso de Josh e a imitação brincalhona dos meus padrões de fala deixaram claro que seus sentimentos estavam se transformando em algo mais. E os meus também, embora eu relutasse em admitir. Senti pontadas de ciúmes quando ele ficou com minha colega de apartamento e não conseguia esconder o rosto vermelho quando sua mão ficava perto da minha.

Mas Josh era um menino de Santa Bárbara, obcecado por cachorrinhos e beisebol e exibindo uma visão ensolarada do mundo, o que me ameaçava por eu ser alguém com uma visão consideravelmente mais sombria.

Além disso, em três meses nosso semestre terminaria e eu voltaria ao meu namoro “aberto enquanto estive fora”, mas bastante sério em Nova York, com um namorado que compartilhava do meu cinismo. Eu não queria complicar minha vida por um cara que tinha um mapa emoldurado da Disneylândia na parede.

Mas meu pragmatismo foi afogado por pints de cidra, e em outubro Josh e eu estávamos nos beijando em todos os quartos desocupados que pudemos encontrar até que eu tive que criar regras para nos impedir de ficar muito íntimos.

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Regra 1: Nada de ficar pra dormir

Regra 2: Nada abaixo da cintura

Regra 3: Não contar a ninguém

Quando dois amigos fazem questão de não se relacionar, mas o destino apronta das suas. Foto: Brian Rea/The New York Times

Depois de muitas mãos dadas escondidas e pegadas no estilo adolescente, o semestre terminou e nós seguimos nossos caminhos separados; eu estava terminando o ano letivo em Londres, enquanto ele voltava para a Califórnia. Achei que nunca mais nos veríamos.

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“Talvez a gente possa se encontrar em nossos sonhos?” Josh me escreveu em uma mensagem no Facebook um mês depois.

Logo estávamos trocando mensagens diariamente. Em uma cruel reviravolta do destino, fui alocada em seu antigo dormitório e fiquei olhando todas as noites para sua cama, frustrada por desejar alguém tão descaradamente sincero.

Lembrei-me de uma ex-colega de trabalho descrevendo alegremente um caso que ela estava tendo no trabalho. Ela parecia animada com isso, mas também sabia que se cedesse ao seu desejo, a chama se apagaria. O ilícito era o atrativo.

Decidi que esse também era o caso comigo e com Josh. Os parâmetros que eu havia estabelecido estavam me impedindo de confrontar nossas incompatibilidades e chegar a um desfecho. Eu precisava vê-lo sem aquelas restrições emocionais e físicas. Eu precisava chegar perto o suficiente para me desiludir e seguir em frente.

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Um mês depois de meu retorno a Nova York, visitei Josh na Califórnia. Minha viagem novamente falhou em acabar com minha atração pouco prática, e estabelecemos uma rotina enlouquecedora de infrutíferos voos duas vezes por ano pelo país para nos vermos.

“Não parece certo me mudar para Los Angeles para estar com você”, eu disse depois de uma visita particularmente importante, ainda acreditando que não tínhamos um caminho a seguir. Meu questionamento perpétuo nunca seria páreo para o otimismo entusiasmado de Josh. Mas só alguns anos depois, quando eu tinha 25 anos, Josh postaria uma foto de sua nova namorada no Facebook, e eu saberia oficialmente que “nós” tínhamos terminado.

“Ele vai se casar com ela”, pensei enquanto estudava seus olhos pixelados, tentando fazer as pazes com sua capacidade de adorar outra pessoa.

Também comecei a sair com alguém novo, e minha dinâmica com Josh diminuiu para conversas ocasionais por telefone e encontros duplos quando estávamos na cidade com nossos parceiros. Com o passar dos anos, eu me sentia cada vez menos como a garota selvagem que vomitou remédios para infecção urinária no chão de seu Toyota Camry e mal conseguiu ver seus olhos de cachorrinho quando ele disse: “Vou pensar em você toda vez que vir a mancha”.

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“Fico feliz que ele e eu fomos sábios o suficiente para não tentar”, lembro-me de dizer ao meu então namorado depois de uma noite com Josh e sua namorada. Naquela época eu tinha 29 anos.

“A gente podia se encontrar em nossos sonhos”, Josh havia sugerido em nossos dias de faculdade, mas só 11 anos depois, semanas antes de seus votos, que ele me encontraria inconvenientemente no meu.

“Eu tenho que voltar lá para cima agora,” seu eu do sonho disse enquanto ele estava deitado ao meu lado em um porão desconhecido. Ele exalava sua mesma autoconfiança, mas possuía um pouco mais de consciência. Meu eu dos sonhos estava mais vulnerável do que eu jamais me permiti estar em sua presença. Por alguma forma de telepatia mística, eu sabia o que ele estava tentando comunicar. Ele estava me dizendo que precisava voltar lá para cima para sua esposa.

“Não”, eu implorei, incapaz de acreditar que ele não ficaria comigo agora que nosso amor era evidente. Mas meus apelos foram inúteis. Ela estava esperando por ele.

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“Eu sei”, ele disse, reconhecendo nossa intimidade. “Mas eu tenho que ir agora.”

E então eu acordei.

Um ano depois do casamento de Josh, meu namorado e eu terminamos. Três meses depois disso, Josh e sua esposa se separaram. Esses casos não estavam relacionados, mas meu melhor amigo notou imediatamente a coincidência.

“Você acha - ?”

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“Não, eu disse. Eu tinha acabado de completar 32 anos e me sentia velha demais para recaídas incessantes.

Mas semanas depois, quando Josh mencionou que iria a um casamento no exterior, eu o convidei para ficar comigo em Nova York em seu caminho de volta para a Califórnia.

“Eu tenho um colchão inflável”, eu disse, acreditando que esta era uma opção viável, mas sabendo onde isso provavelmente levaria.

Quando Josh chegou, ele mal olhou para o colchão antes de subir comigo. Na manhã seguinte, nos deitamos nos braços um do outro e elogiamos nossas habilidades de ser um apoio saudável um para o outro.

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“Mal posso esperar até você conhecer alguém incrível”, ele disse após a quarta vez que fizemos sexo em 48 horas.

“Eu também” eu disse.

Alguns meses depois, ao embarcar no meu segundo avião para o oeste em quatro semanas, mandei uma mensagem para minha irmã: “Vou para Los Angeles só mais uma vez para fazer sexo”. Eu precisava escrever para me convencer. Eu queria ter certeza de que Josh não me impediria de encontrar meu futuro marido.

“Depois desta viagem, vamos nos afastar”, Josh escreveu. Ele queria ter certeza de que eu não o impediria de processar seu divórcio.

Mas quando voltei para Nova York, em vez de responder às minhas mensagens de namoro online, assisti várias vezes a um comercial de Gatorade que Josh havia estrelado, lembrando-me do conforto de sua disposição equilibrada.

Com medo de confiar em minha própria certeza, abri o Facebook e cliquei novamente em Josh e no diálogo de meia década antes, esperando chegar à conclusão definitiva que eu havia passado tantos anos evitando.

“Gosto de como você é sincero e aberto, e que eu te amo há 12 anos de 10 formas diferentes”, escrevi pra ele.

“Tenho medo de perdê-la, embora nunca tenha tido você, mas acho que se não tivermos um tempo, vamos estragar tudo”, ele respondeu.

Um ano e meio depois, me mudei para a Califórnia. Três anos depois disso, nos casamos. Em julho tivemos nosso primeiro filho, um menino.

“Sempre teríamos encontrado nosso caminho um para o outro”, Josh costuma me dizer.

Essa é a sua visão ensolarada falando. Tenho dúvidas. No que eu acredito: não importa o quanto eu tenha tentado evitar a ideia de “nós” por mais de uma década, outra força misteriosa estava em ação. E essa força venceu. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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