Ano passado, no meio da pandemia, apareci como convidado em um (agora extinto) programa para encontrar um namorado. Com as câmeras filmando, sentei-me em um sofá verde-petróleo ao lado da apresentadora, que havia se preparado para uma entrevista com um homem que é neurótico sobre seus pretendentes - um homem que cria planilhas de etapas de relacionamento e listas de características para possíveis namorados.
Aquele homem era eu. É quem eu sou e o que faço. Na mente da apresentadora, minha neurose era ruim. Na minha, era boa. Tão boa, na verdade, que recentemente conheci um cara por quem me interessei e com quem fui capaz de imaginar um futuro junto.
"Então, Alex", disse ela. "Como vai sua vida amorosa?"
“Acabei de começar a sair com um cara”, respondi. "Então, está ótima."
Ela fechou a cara e tocou o ponto eletrônico. Claramente, minha resposta não era a que ela estava esperando.
A produtora apareceu com seu imponente fone de ouvido. Ela era o tipo de pessoa que obviamente se destacava em seu trabalho - um trabalho que eu estava dificultando.
Ela explicou que minha vida amorosa não deveria ser boa. A razão pela qual eles me levaram para o programa era que minhas expectativas eram exageradas. Eu tinha listas malucas de pré-requisitos para pretendentes que, segundo as suposições delas, vinham do meu medo profundo de compromisso, como se eu estivesse me sabotando com um sistema que excluiria quase todo mundo.
Elas presumiram errado.
Tenho muitos medos: inadequação, parecer desesperado, encontrar com o cara do ônibus da escola que me disse que eu tinha “quadris de mulher”. Mas medo de compromisso? Não. No entanto, eu não estava ali para discutir com a produtora e a apresentadora do programa do qual queria participar.
Elas estavam certas sobre uma coisa, entretanto. Na verdade, sou um criador de listas incrível. Crio listas de pré-requisitos para pretendentes e progressos que são medidos com ferramentas e dados. Pequenos pedaços de informação que me incentivam a continuar remando em um mar de namorados em potencial, ao mesmo tempo que me impedem de atracar meu navio em um relacionamento medíocre e "satisfatório". Um tipo de relação semelhante à de tantos casais que conheço, repleto de refeições silenciosas, olhares desencontrados e lamentações sem fim do que cada um deles poderia ter sido.
Comecei meu sistema há sete anos no Trello, o software de gerenciamento de projetos que uso no trabalho. Eu simplesmente tinha passado por muitos primeiros encontros ruins. O cara que conheci no Hinge e talvez tenha usado as fotos de seu filho como suas. O advogado cuja história de como saiu do armário era menos interessante do que seu amor por ternos feitos sob medida. O colega da área de finanças que achava estranho eu ser judeu e loiro ao mesmo tempo.
Experimentei choques repetidos de valores não compatíveis e descobri traços de personalidade que queria evitar. Encontros que me fizeram ser versões de mim mesmo que não gostei e me fizeram perder um tempo que poderia ter sido aproveitado no meu sofá: apenas eu, um Vicodin e um livro sobre tristeza.
Para quebrar esse ciclo, decidi analisar tudo. Entender os padrões e mudá-los.
E então comecei a usar o Trello. Assim como hoje, o painel tem seis etapas e oito características. É semelhante ao processo de evolução de negócios de um comerciante, com cada etapa representando um passo em direção a uma negociação bem-sucedida e cada atributo representando uma característica com maior probabilidade de obter sucesso.
As etapas são: Para Avaliar, Avaliando, Avaliado e Encontros. Cada pessoa é representada por um cartão no Trello - uma espécie de post it digital.
Antes de eu sair com alguém, o cartão dessa pessoa avança da esquerda para a direita, passando por essas etapas até o encontro. Se nunca chegarmos tão longe, arquivarei seu cartão e, nesse caso, um cartão arquivado é tudo o que ele será.
Eu avalio meus potenciais encontros com base em oito características. Tento descobrir cinco dessas características antes do encontro. Penso nas três restantes após o encontro.
Antes do primeiro encontro, tento determinar o seguinte: Ele me faz rir por mensagem de texto? Ele mora em Los Angeles? Ele gosta do seu trabalho? Ele está a fim de fazer um mochilão? Ele vai ficar checando o celular?
Depois do primeiro encontro, respondo as perguntas: Ele gosta de si mesmo? Ele é curioso? Ele é gentil?
É um pouco louco, imperfeito e, sim, cheio de julgamentos. Minha estratégia sistemática pode muito bem acabar deixando de fora alguém que poderia me fazer mais feliz. Mas a alternativa de deixar tudo nas mãos do destino, de confiar na química, na atração física e no acaso também não me levou a essa pessoa.
Prefiro ter algo com o que trabalhar. Tarefas a fazer e cartões a classificar, em vez de esperar que algum cara e eu nos encaremos magicamente no Whole Foods enquanto pegamos a mesma caixa de leite de aveia.
Até agora, meu sistema no Trello tem funcionado, ou pelo menos é o que digo a mim mesmo. Isso me levou a momentos de sobra deitado feliz ao lado de alguém esquecendo de checar meu e-mail, olhar para alguém e saber que estou crescendo de maneiras que são importantes para mim e acreditar, independentemente da longevidade de seu cartão no Trello, que ficar deitado ali com ele foi um bom uso do meu tempo.
Foi assim que originalmente me apresentei no programa de TV - como alguém que acreditava no meu sistema. “A única razão pela qual qualquer um dos meus namorados foi meu namorado é porque eles tinham pelo menos seis das oito características”, eu disse em uma conversa por Zoom com a pessoa que escolhia quem participaria da atração.
Mas não era sobre isso que eles queriam que eu falasse. Eles não gostaram das minhas características. Para a TV, elas precisam ser sexy: rosto, abdômen e cintura. Coisas que em algum momento desaparecem e lhe deixam com um parceiro que você odeia e uma versão de si mesmo que você odeia ainda mais. Alguém que lhe tira do sério porque enrola o tubo de pasta de dente ou não enche a garrafa quando ela seca.
De volta ao estúdio, era hora de refazer a cena comigo abraçando minha persona neurótica demais para encontrar o amor, para que os espectadores em casa pudessem me ver como um exemplo de como não ser, um exagero, talvez, de suas próprias neuroses.
No sofá azul-petróleo, com minhas mãos tremendo, eu encarei a apresentadora do programa enquanto ela me fazia perguntas.
"Alex, acho que você está sozinho porque tem pré-requisitos exigentes demais", disse ela. "O que você pensa disso?"
“Uau,” eu disse. "Nunca havia pensado nisso."
“Você não pode esperar que alguém preencha tantos pré-requisitos tão rapidamente”, disse ela. “E se você está tão ocupado analisando, provavelmente não está preenchendo os pré-requisitos de outras pessoas.”
“Isso faz sentido,” eu disse. "Você provavelmente está certa."
Ela sorriu. “Agora, saia por aí com a mente mais aberta. Deixe as pessoas entrarem em sua vida. Você tem muito a oferecer.” Então, ela se virou para a câmera e disse: “Todos vocês têm muito a oferecer. Abram seus corações e mentes e sejam vocês mesmos. E obrigada por nos assistir. ”
Ela respirou fundo, exalou o ar e se virou para mim. “Prazer em conhecê-lo, Alex. E estou muito feliz que sua vida amorosa esteja indo bem. Boa sorte com aquele cara.” Suas palavras pareciam gentis e genuínas. Ela piscou para mim quando foi embora, como se tivesse conseguido por meio de mim o que estava procurando, como se ela tivesse avançado meu cartão em seu próprio pequeno painel no Trello.
Enquanto eu estava sentado ali, consensualmente deixando que manipulassem informações a respeito de mim e de minha sanidade, pensei naqueles conselhos feitos para a TV. Sobre como meu sistema criou um método completo de movimentos rápidos para a esquerda - um sistema que, se continuado, pode me levar a uma vida solitária como um homem gay solteiro, talvez encontrando validação social como treinador assistente em um time de kickball LGBTQIA+, alguém que se refere a seus cães como seus filhos e que não acredita em deixar de sair por aí com pessoas porque isso implicaria que acredita em algo em que fracassou completamente.
Mas ainda não cheguei nesse ponto. E, até o presente momento, odeio kickball.
Por ora, vou olhar para o meu painel no Trello com nomes como "Mark MensagensEmEmoji" e "DavidGatoEstranho" e aceitar que não sei se meus métodos são mais eficientes do que as pessoas do reality show que sabiam como eu," AlexNeurótico”, iria me sair em um episódio de seu programa.
Eu penso no cara com quem estava saindo feliz na época. Aquele de quem falei enquanto estava sentado naquele sofá azul-petróleo. Com seu grande sorriso e pontuação perfeita de oito das oito características. O cara com quem não estou mais saindo.
Por que não deu certo?
Acho que é porque ele não gostava de mim.
Tudo certo, então. "Ele também gosta de mim?"
Uma nona característica a ser adicionada ao painel. /TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA
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