Mulheres escolhem ter filhos mais velhas e reescrevem suas histórias e as de seus filhos

A gravidez na adolescência despencou nos EUA, assim como a pobreza infantil e o resultado é uma mudança profunda nas forças que trazem oportunidades entre as gerações

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Por Jason DeParle

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Brittnee Marsaw nasceu de uma mãe de 15 anos em St. Louis e foi criada por uma avó que deu à luz ainda mais jovem. Já um pouco crescida quando sua mãe foi capaz de sustentá-la, Marsaw se juntou a ela em outro estado, mas nunca encontrou o vínculo que procurava e chama a gravidez na adolescência das gerações anteriores de “a maldição da família”.

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Ana Alvarez nasceu na Guatemala de uma mãe adolescente tão pobre e isolada que acabou entregando sua filha a um estranho, apenas para pegá-la de volta depois. Logo sua mãe partiu para procurar trabalho nos Estados Unidos e, após anos esperando inutilmente por seu retorno, Alvarez fez a mesma viagem arriscada - tornando-se uma adolescente morando em Washington, DC, sem permissão legal - para se reunir com a mãe que ela mal conhecia.

Enquanto suas experiências divergem, Marsaw e Alvarez compartilham uma característica notável. Feridas pelas lutas de suas mães adolescentes, ambas fizeram promessas inusitadamente autoconscientes de não se tornarem mães adolescentes. E ambas dizem que adiar a maternidade deu a elas - e agora a seus filhos - uma chance maior de sucesso.

Suas decisões destacam mudanças profundas em duas forças relacionadas que moldam como as oportunidades são transmitidas ou impedidas de uma geração para a seguinte. Os números de gravidez na adolescência caíram mais de três quartos nas últimas três décadas (nos Estados Unidos), uma mudança de magnitude tão improvável que os especialistas lutam para explicá-la completamente. A pobreza infantil também despencou, levantando uma questão complexa: a redução da gravidez na adolescência diminui a pobreza infantil ou a redução da pobreza infantil diminui a gravidez na adolescência?

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Brittnee Marsaw esperou até os 24 anos para ter um filho - uma filha, Zaharii.  Foto: Shuran Huang/The New York Times

Embora as duas coisas possam ser verdadeiras, não está claro qual delas prevalece. Uma teoria afirma que a redução da gravidez na adolescência diminui a pobreza infantil, permitindo que as mulheres terminem a escola, iniciem carreiras e formem relacionamentos maduros, aumentando sua renda antes de criarem os filhos. Outra diz que o progresso é inverso: a redução da pobreza infantil reduz a gravidez na adolescência, uma vez que as adolescentes que veem oportunidades têm motivos para evitar a gravidez.

Marsaw, que esperou até os 24 anos para ter um filho - uma filha, Zaharii - considerou a questão longamente e abraça os dois pontos de vista.

“Este é um tema muito, muito, muito bom; ele me toca de muitas maneiras!”, ela disse, acrescentando que a gravidez na adolescência e a pobreza infantil se reforçam mutuamente. “Se você escapar de uma, terá mais chances de escapar da outra.”

O número de partos de mães adolescentes caiu 77% desde 1991 e, entre as adolescentes mais novas, a queda é ainda maior: 85%, segundo análise do Child Trends, um grupo de pesquisa que estuda o bem-estar das crianças. Os nascimentos caíram em taxas aproximadamente iguais entre adolescentes brancas, hispânicas e negras, e caíram mais da metade em todos os estados.

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O declínio está se acelerando: o número de partos de mães adolescentes caiu 20% na década de 1990, 28% na década de 2000 e 55% na década de 2010. Três décadas atrás, um quarto das meninas de 15 anos se tornaram mães antes de completar 20 anos, de acordo com estimativas do Child Trends, incluindo quase metade das que eram negras ou hispânicas. Hoje, apenas 6% das meninas de 15 anos se tornam mães adolescentes.

“Esses são declínios drásticos - impressionantes, surpreendentes e bons tanto para as adolescentes quanto para os filhos que eventualmente terão”, disse Elizabeth Wildsmith, pesquisadora do Child Trends que fez a análise com uma colega, Jennifer Manlove.

Nem todas as mães adolescentes são pobres, é claro, e muitas que vivenciam a pobreza escapam dela.

As razões pelas quais os partos de mães adolescentes caíram são apenas parcialmente compreendidas. O uso de contraceptivos cresceu e mudou para métodos mais confiáveis, e o sexo na adolescência diminuiu. Campanhas cívicas, restrições a políticas assistencialistas e mensagens da cultura popular podem ter desempenhado um papel importante.

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Os nascimentos de adolescentes caíram 77 por cento desde 1991, e entre os jovens o declínio é de 85 por cento. Foto: Shuran Huang/The New York Times

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Mas com um progresso tão amplo e sustentado, muitos pesquisadores argumentam que a mudança reflete algo mais fundamental: um crescente senso de oportunidade entre mulheres jovens desfavorecidas, cujos rendimentos e educação cresceram mais rápido do que entre seus colegas do sexo masculino.

“Elas estão estudando e vendo novas oportunidades de carreiras se abrindo”, disse Melissa S. Kearney, economista da Universidade de Maryland. “Se elas estão entusiasmadas com suas próprias oportunidades ou sentem que parceiros masculinos não confiáveis as deixam sem escolha, isso as leva na mesma direção: não se tornar uma mãe jovem.”

Conscientes das lutas de suas mães, Marsaw, 29, e Alvarez, 34, oferecem um estudo sobre por que a gravidez na adolescência está caindo e como o declínio pode afetar a ascensão social. Uma delas descobriu que isso trouxe a prosperidade que ela buscava. A outra espera que isso ainda aconteça.

Um caminho para a faculdade

Alvarez sentiu-se deixada para trás antes mesmo de sua mãe deixar a Guatemala. Com dezenove anos e solteira quando teve o segundo filho, sua mãe deixou a fazenda da família para trabalhar na cidade, e o contato diminuiu para visitas mensais.

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Depois que sua mãe teve mais filhos, uma mulher que ela conheceu na sala de espera de uma clínica se ofereceu para adotar um deles. Alvarez ficou igualmente surpresa primeiro ao ser dada em adoção e depois ao ser recuperada meses depois. Então sua mãe partiu para Washington, e Alvarez passou a pensar em uma mãe como “algo que eu esperava ter algum dia”.

Ela abandonou a escola após a quarta série para ajudar seu avô a cuidar de seus irmãos mais novos. Em seu aniversário de 15 anos, ela pediu à mãe que contratasse alguém para levá-la para o norte.

O reencontro decepcionou. Para surpresa de Alvarez, sua mãe era casada e tinha outro filho. Ela parecia distante, severa e impaciente com perguntas sobre por que ela havia partido. “Eu tinha mais ressentimento do que entendia”, disse Alvarez.

Embora Alvarez não tenha encontrado reconciliação, ela encontrou uma oportunidade. Começando o ensino médio como uma imigrante de língua espanhola que havia estudado até a quarta série morando no país sem permissão legal, ela era uma aluna melhor do que imaginava. Uma conselheira em uma clínica de Washington, Mary’s Center, disse que ela poderia ganhar uma bolsa de estudos.

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Sem conseguir ver além da vida de sua mãe, ela sentiu uma ameaça. “Percebi que, se eu engravidasse, não iria para a faculdade”, ela disse.

Uma coisa era estabelecer seu objetivo, outra era sustentá-lo durante uma adolescência precária. Das duas maneiras de evitar a gravidez, Alvarez julgou a abstinência mais certa do que a contracepção e ignorou as meninas que a provocavam por evitar o sexo.

Em seu primeiro ano, um pretendente chamado Fredy, que trabalhava como cozinheiro, pediu que ela fosse morar com ele. Ele era sete anos mais velho, divertido e solidário, e ela precisava de um lugar para ficar, tendo trocado o apartamento da mãe por um quarto alugado. Mas ela se forçou a parar de atender suas ligações. Ela se formou no ensino médio aos 20 anos com uma bolsa de estudos - nem adolescente e nem mãe.

“Uau, consegui traçar o caminho para a faculdade!” ela disse a si mesma.

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Marsaw pode estar ainda mais inclinada a ver sua vida através do prisma da gravidez na adolescência. Sua avó a criou com um orçamento de auxílio-alimentação em uma casa com uma dúzia de tias, tios e primos, enquanto sua mãe, que deu à luz aos 15 anos, ia e vinha e terminava a adolescência com um segundo filho.

Quando Marsaw deixou escapar na terceira série que sua mãe tinha um endereço diferente, ela foi transferida para uma escola distante e os cuidados recaíram sobre um grupo rotativo de parentes. Ela passou a pensar em sua mãe como “uma pessoa de quem eu precisava e que não conseguia alcançar”.

Sua mãe mudou-se para Atlanta para trabalhar como técnica médica. Marsaw a seguiu, mas se sentiu frustrada com as longas horas e o afastamento emocional de sua mãe. Onde outros podem ver uma mãe se esforçando para progredir, Marsaw sentiu uma nova maneira de ser deixada para trás. “A razão pela qual eu falo rápido é porque queria deixar claro meu ponto de vista antes que ela saísse para seu turno de 16 horas”, ela disse.

Ela identificou a causa das lutas de sua mãe - a maternidade na adolescência - e prometeu evitá-la. No segundo ano do ensino médio, ela insistiu que o namorado usasse camisinha. No terceiro, ela parou de namorar. Os colegas de classe a provocavam, mas o status de solitária era um preço que ela estava disposta a pagar. “Fiz o que foi preciso para não ter filhos”, ela disse.

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Ela voltou ao Missouri para o último ano e escreveu uma carta para si mesma anos depois, comemorando o que conquistou: “Você terminou o ensino médio sem filhos, então dê um tapinha nas costas.”

A Sra. Alvarez abandonou a escola após a quarta série para ajudar seu avô a cuidar de seus irmãos mais novos. Foto: Shuran Huang/The New York Times

Alcançando um sonho

Como teste para saber se o adiamento da gravidez reduz a pobreza, a vida de Marsaw produz conclusões ambíguas. Mesmo sem filhos, sua transição para a vida adulta foi difícil. Ela teve um surto imobilizante de depressão, que ela culpou em parte pelas separações de sua mãe na infância.

“Perdoe sua mãe”, ela escreveu mais tarde para si mesma. “Ela era tão jovem.”

Com 20 e poucos anos, ela seguiu sua mãe para o Texas, conseguiu um emprego em um parque de diversões coberto e namorou um homem que estacionava carros. Apesar de toda a vigilância adolescente, ela parou de usar anticoncepcionais, imaginando que “se acontecer, não será uma crise”.

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Ela deu à luz aos 24 anos, quase nove anos depois de sua mãe.

Mesmo assim, as dificuldades continuaram. Sua depressão voltou e seu relacionamento acabou. Incapaz de pagar o aluguel sozinha, ela voltou para St. Louis. Ela e Zaharii, 5, moraram em pelo menos sete lugares - oito, contando as vezes em que dormiram em um carro - embora Marsaw se orgulhe de nunca ter deixado a filha aos cuidados de outra pessoa, ao contrário de sua mãe. Como estratégia antipobreza, adiar a maternidade não foi infalível.

Ainda assim, Marsaw vê benefícios na espera. Ela é mais “emocionalmente inteligente” como mãe, disse, mais experiente sobre empregos e mais resiliente. Ela também disse que começar mais cedo poderia tê-la deixado com um segundo filho antes que ela estivesse pronta.

Em 2021, ela tirou carteira de motorista comercial e passou meses como caminhoneira cross-country, com Zaharii dividindo a boleia. Ela dirige a van de uma creche durante o inverno e, com uma renda de cerca de US$ 40.000, conseguiu comprar uma pequena casa. Sua mãe às vezes ajuda, e o relacionamento delas melhorou, com Marsaw mais solidária com os sacrifícios que ela fez para progredir.

“Não sinto que tenha realizado completamente quem sou ou onde quero estar”, ela disse. “Mas eu não estou mais na pobreza.”

Para Alvarez, a história é mais simples: seu futuro se desenrolou conforme planejado. Embora ainda trabalhando em seu inglês, ela conseguiu a transição para a Universidade do Distrito de Columbia. Em seu segundo ano, a sorte sorriu: ela embarcou em um ônibus da cidade e se deparou com Fredy, o homem que a perseguia no colégio.

As filhas da senhora Alvarez, Emily, à esquerda, e Madeline, com sua mãe, Juana. Foto: Shuran Huang/The New York Times

Como Marsaw, ela não temia mais a gravidez como na adolescência. Quando um lapso no uso de anticoncepcionais teve um efeito previsível, a notícia solidificou seus planos mais do que os interrompeu. Ela se casou pouco antes de dar à luz aos 23 anos. “Você nunca está pronta para ser mãe, mas senti que posso fazer isso”, ela disse.

Um bebê de fato retardou seu progresso educacional. Trabalhando em dois empregos, ela levou seis anos para obter o diploma de bacharel, depois começou a trabalhar no Mary’s Center, a clínica que a encorajou a buscar bolsas de estudo.

Ela coordena o atendimento a pacientes com câncer e tem proteção legal no Deferred Action for Childhood Arrivals, um programa para imigrantes que vieram para os Estados Unidos quando jovens sem permissão legal. Com uma renda familiar acima da média nacional, ela e o marido compraram recentemente a primeira casa.

“Se eu morrer amanhã, posso dizer que alcancei o sonho americano”, disse Alvarez. “Mas se eu tivesse engravidado na adolescência? Não tenho certeza, mas acho que não.” /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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