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Na crise energética, Alemanha diminui aquecimento, mas não limita velocidade em suas estradas

Colocar restrições gerais nas célebres estradas do país é um passo simples para economizar energia, emissões de carbono e vidas; mas mesmo com os Verdes no poder, é improvável que o país o faça

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Por Christopher F. Schuet

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - A Alemanha está tentando todas as medidas para combater uma crise de energia que só deve piorar neste inverno (no hemisfério norte). Os edifícios públicos podem ser aquecidos a apenas 18º C e a maioria das piscinas privadas nem mesmo são aquecidas. A partir deste mês, outdoors e outros pontos de referência ficam escuros às 22h. O governo até estendeu a vida de dois dos últimos reatores nucleares do país.

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Mas a única coisa que a Alemanha não fará, aparentemente, é colocar um limite geral de velocidade nas lendárias autoestradas, uma proposta levantada - e derrubada - embora pudesse economizar gasolina e reduzir as emissões de dióxido de carbono.

A questão do limite de velocidade tem uma ressonância especial na Alemanha, semelhante aos debates sobre o controle de armas nos Estados Unidos. A ausência de limites é tão sacrossanta que quando um desenvolvedor tcheco postou um vídeo de si mesmo no YouTube no ano passado dirigindo a quase 418 Km/h - ou tão rápido quanto um avião bimotor voa - os promotores não puderam apresentar acusações.

Uma promessa de não haver limites gerais de velocidade nas autoestradas foi parte do acordo que permitiu que a atual coalizão de três partidos, que inclui os ambientalistas Verdes, bem como o Partido Democrático Liberal, de mentalidade libertária, assumisse o poder.

“O Partido Democrático Liberal transformou isso em uma questão de identidade”, disse Wolfgang Schroeder, professor de ciência política da Universidade de Kassel, na Alemanha central, que estuda a coalizão. “Eles disseram: ‘Somos o partido dos motoristas e da liberdade, e não queremos nenhuma interferência do Estado’.”

Ainda assim, o clima sobre as restrições de velocidade vem mudando nas últimas duas décadas, com a atual crise do petróleo parecendo acelerar a mudança, talvez pelo menos na mente do público, se não na classe política.

Em abril, dois meses após a Rússia atacar a Ucrânia e enquanto a Alemanha tentava reduzir sua dependência energética da Rússia, Ricarda Lang, colíder dos Verdes, propôs um limite de velocidade temporário para ajudar a economizar gasolina.

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Embora a ideia tenha sido bloqueada pelos parceiros da coalizão, uma pesquisa recente encomendada pela revista Der Spiegel descobriu que 55% dos alemães apoiavam a ideia de um limite de velocidade imediato, embora temporário, com 39% contra.

O Ministério do Meio Ambiente alemão descobriu que, se um limite de velocidade de 100 km/h fosse estabelecido nas autoestradas, com um limite de 80 km/h em outras estradas, os 48 milhões de automóveis da Alemanha poderiam economizar 2,1 bilhões de litros de combustível todos os anos.

Se os motoristas realmente mantivessem essa velocidade, 5,4 milhões de toneladas métricas de emissões de dióxido de carbono poderiam ser economizadas, cerca de 3% de todo o CO2 emitido pelo transporte. Se os motoristas mantivessem um limite de velocidade de 130 km/h - um limite mais realista - a economia cairia para 1,9 milhão de toneladas, ou pouco mais de 1% do total de emissões de transporte.

Atualmente, cerca de 30% do sistema de autoestradas tem restrições permanentes. Outras partes têm limites temporários ligados a obras.

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Em 2020, o ADAC - um clube automobilístico de quase 120 anos na Alemanha com mais de 20 milhões de membros - parou de fazer lobby contra os limites. Pesquisas com seus membros descobriram que, pela primeira vez em quase três décadas, a maioria não se opunha mais a um limite.

“É bem simples: a sociedade está mudando e, com ela, o ADAC”, disse Katrin van Randenborgh, porta-voz do clube.

Outra parte do debate envolve acidentes. Embora a autoestrada seja elogiada por sua segurança quando comparada com outras rodovias, números oficiais mostram que onde ela não tem restrição de velocidade, há 75% mais acidentes com morte do que em trechos com limite de velocidade.

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Muitas das autoestradas da Alemanha não têm limites de velocidade. O Ministério do Meio Ambiente alemão descobriu que a adição de restrições poderia economizar 2,1 bilhões de litros de combustível a cada ano. Foto: Felix Schmitt/The New York Times

No entanto, Bernd Reuther, especialista em trânsito do Partido Democrata Liberal, defendeu o status quo.

“Contamos com o senso de responsabilidade das pessoas e não queremos regulamentar”, ele disse.

Com o acordo de coalizão sem consolidar novos limites de velocidade, Reuther e o Partido Democrata Liberal dizem sentir que a questão está resolvida, pelo menos até o próximo governo.

Estabelecer limites de velocidade seria um passo fácil, embora modesto, para ajudar a atingir as metas de emissão do país, de acordo com Swantje Henrike Michaelsen, legisladora dos Verdes e membro do comitê parlamentar de trânsito. Mas, ela disse, “tornou-se um símbolo gritante na política”.

Seu partido optou por se concentrar “no progresso que podemos fazer juntos”, em vez de pressionar a questão divisória, ela acrescentou.

Com o membro dominante da coalizão, o Partido Social Democrata, desempenhando um papel mais mediador, as coisas parecem destinadas a permanecer como estão.

“É uma espécie de pacto de não agressão que estamos vendo entre os membros da coalizão que é especialmente importante quando se trata de posições ideológicas”, disse Schroeder. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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