Na Nova Zelândia, uma experiência com sauvignon blanc e sashimi

Uma viagem pela Ilha Sul do país oferecia vinhos perfeitos, vistas deslumbrantes, restaurantes íntimos e a chance de fazer uma peregrinação a um Shangri-La de salmão

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Por Tom Downey

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Para minha primeira noite na Ilha Sul da Nova Zelândia, eu havia reservado um Airbnb em Hawkesbury, aldeia no meio da região vinícola mais importante do país, Marlborough, famosa pelas enormes quantidades de sauvignon blanc que produz. A estrada de terra para minha casa, com uma única pista, passava por alguns veículos velhos enferrujados no meio de uma fazenda, mergulhava em um vale, subia e depois circulava uma colina íngreme para finalmente revelar uma cabaninha perfeita, aninhada em uma encosta suave, de onde se viam colinas cobertas de verde vívido, ladeadas por montanhas rochosas que se elevavam sobre elas.

A Nova Zelândia tinha acabado de reabrir para o mundo, e eu estava fazendo uma viagem de carro. Ao contrário do oeste americano, onde esse estilo de viagem geralmente significa dias longos cruzando grandes distâncias, a selvagem e rústica Ilha Sul da Nova Zelândia oferece beleza natural comparável, mas com muito menos tempo na direção. Minha noite em Hawkesbury seria seguida por um dia na praia de Kaikoura. Depois de algumas noites em Christchurch, a maior cidade do sul, eu viajaria para a cordilheira mais alta do país. Minha rota, que se estendia por 605 quilômetros do extremo norte ao sul profundo, oferecia trajetos diários fáceis e conseguia cobrir tudo, desde degustação de vinhos até observação de focas, compras nas cidades e caminhadas por geleiras.

Flores silvestres na praia de Kaikoura, cidade cujo nome significa “comer lagostim” na língua maori. Foto: Susan Wright/The New York Times

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Meu destino final era a loja Mount Cook Alpine Salmon, às margens do Lago Pukaki, nos Alpes do Sul. Algumas semanas antes, um chef de sushi em Sydney me servira um dos melhores salmões-rei que já comi - fresco e cheio de sabor. Em um tom com um toque de nostalgia, ele me contara que o peixe tinha vindo dessa loja. “É o lugar mais bonito em que já estive. Sonhei em voltar durante todo o período da covid.”

Minha rota principal seria a State Highway 1, via de pista dupla que me levaria até Christchurch. No meu primeiro dia dirigindo, a estrada saiu da região vinícola, subiu pela montanha e, súbita e surpreendentemente, o Oceano Pacífico surgiu diante de mim. A rodovia desceu para o mar, e vi ondas cinzentas batendo na costa escarpada. Meu destino era Kaikoura, que significa “comer lagostim” na língua maori. Sua rua principal era bem tranquila - uma cidade de praia hibernando na baixa temporada.

Naquela noite, dormi nos arredores de Kaikoura, no Glenburn Coastal Retreat, composto por três casas grandes, confortáveis e modernas, construídas em um penhasco com vista para o oceano.

Riesling e resiliência

À medida que a estrada avançava para o sul em direção a Christchurch, as parreiras dominavam as colinas do Vale do Waipara, uma das mais novas regiões vinícolas da Nova Zelândia. Os primeiros vinhedos foram plantados em Waipara no fim dos anos 1970 e no início dos anos 1980, mas esta começou a florescer como região comercial vinícola apenas na última década.

As focas em Kaikoura têm casacos tão lisos que parecem ter sido lubrificados. Foto: Susan Wright/The New York Times

Meu destino de almoço era a vinícola Black Estate, que me havia sido recomendada por um enólogo aposentado, Guy Porter, dos vinhos Bellbird Spring. Uma construção impressionante de cor escura, inspirada nas estruturas agrícolas locais, continha a sala de degustação, os alojamentos e o restaurante da propriedade, com mesas de madeira simples e vista para os vinhedos cultivados biodinamicamente. Comi um soberbo escabeche de mexilhão, no qual o marisco tinha sido ligeiramente conservado para complementar sua essência salgada, regado com um riesling seco.

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Naquela noite, cheguei a Christchurch, famosa nos últimos tempos por um terremoto devastador ocorrido em 2011, que matou 185 pessoas e deixou grande parte da cidade inabitável. Na manhã seguinte, fui até a Catedral de Transição, projetada pelo arquiteto japonês Shigeru Ban. Também é conhecida como a Catedral de Papelão por causa da maneira como Ban usou esse material para construir uma estrutura provisória depois que a original foi danificada pelo terremoto. Nove anos depois de construída, sua estrutura de papelão ainda funciona como a catedral anglicana da cidade; a estrutura de pedra original deve reabrir em 2027 depois de extensas reformas.

Chef, garçom, coletor, agricultor

Lá perto, a cidade costeira de Lyttelton é o lar de um restaurante chamado Mapu, que foi recomendado pelo proprietário do La Fuente, meu bar de vinhos favorito em Auckland. Na noite seguinte, o chef do Mapu, Giulio Sturla, recebeu-me em um dos menores espaços de restaurante que eu já tinha visto, menos de 37 metros quadrados para a cozinha e um balcão de seis lugares. Sentei-me ao lado de outros dois clientes e examinei a sala, procurando o garçom, o barman ou o maître.

Na vinícola Black Estate, uma casa comprida de cor escura, inspirada nas estruturas agrícolas locais, abriga a sala de degustação, os aposentos e o restaurante da propriedade. Foto: Susan Wright/The New York Times

Sturla percebeu meu olhar e explicou que ele mesmo fazia tudo no restaurante: não só era sommelier, cozinheiro de preparação e sous chef, mas também coletor e agricultor, com plantações próximas que forneciam grande parte dos produtos do restaurante. Ele atende uma pequena leva de clientes por vez. “Quando você só serve seis pessoas por noite, consegue cultivar a maior parte da comida que serve. E consegue fazer tudo exatamente do jeito que quer.”

A refeição de nove pratos não foi apenas um jantar; foi uma conversa, uma demonstração, diferente de qualquer outra experiência de restaurante que já tive. O Mapu não é só minúsculo; é também extremamente interativo, em constante mudança e intensamente criativo.

Antes de servir o quinto prato, uma berinjela assada com alho preto e molho de chalota, purê de alcachofra de Jerusalém misturado em leitelho caseiro e um óleo de tomilho verde brilhante e cobertura de noz, Sturla demonstrou como descasca manualmente as membranas de cada miolo de noz para obter um sabor menos amargo. (Leva cerca de meia hora por miolo.)

Sturla originalmente administrava um restaurante muito maior e premiado ao lado, para o qual o espaço Mapu fora a cozinha de teste. “Eu queria voltar a fazer o que amo - ser chef - e parar de ser gerente, homem de negócios, profissional de marketing.”

O almoço no Black Estate inclui peixe-manteiga com acompanhamento de beterraba com crème fraîche de queijo de cabra. Foto: Susan Wright/The New York Times

A subida para o nirvana

Para a etapa final da minha jornada, examinei cuidadosamente os boletins meteorológicos, porque teria de atravessar uma passagem de montanha que fecha com frequência por causa da neve. Como a manhã prometia céu claro, sol brilhante e pouca precipitação, peguei a estrada cedo para a viagem de três horas até a loja Mount Cook Alpine Salmon, o fim da minha peregrinação.

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Trata-se da fazenda de salmão de maior altitude do mundo, em que o peixe é criado em uma corredeira infundida com oxigênio para que se exercite bem e não precise de vacinas, pesticidas ou antibióticos para prosperar. A intervenção humana é mínima.

Depois de algumas horas atravessando planícies de nível médio, a estrada começou a subir um planalto montanhoso. O verde foi desaparecendo e a terra estéril e rochosa me rodeou. Contornei o Lago Tekapo, depois passei ao lado do Lago Pukaki. A água azul-turquesa parecia alcançar o horizonte distante, com nuvens encobrindo os picos atrás do lago, tudo isso refletido em suas profundezas.

Um dos pratos do jantar de nove pratos do Mapu: espargos, creme de pinhão, morangos e ervilhas. Foto: Susan Wright/The New York Times
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Finalmente, cheguei à Mount Cook Alpine Salmon, que parecia um estande de parque nacional - um pouquinho melhor que um 7-Eleven. Lá dentro, os recipientes de plástico contendo sashimi de salmão em caixas refrigeradas não ajudaram. Não havia omakase. Mas eu sabia que não deveria me ater muito a esses sinais externos.

Do lado de fora, sentei-me em uma mesa de piquenique de madeira, abri o salmão, o molho de soja e o wasabi, hashi pronto, e dei uma mordida. Não pude deixar de ser influenciado pelo que os profetas das drogas alucinógenas da década de 1960 uma vez chamaram de “set and setting” (algo como expectativa e ambiente): uma jornada espetacular para chegar a essa loja de conveniência glorificada, com seu ambiente surpreendente. O salmão tinha um sabor intensamente gorduroso e notavelmente fresco, como se tivesse acabado de saltar para fora da água, encontrado uma faca de sashimi afiada no ar e depois pousado diretamente no meu recipiente de plástico.

Valeu a pena a viagem?

Na minha última visita à Nova Zelândia, em 2013, achei o país lindo, mas talvez pouco empolgante. Em 2022, sua beleza tranquila não me pareceu comum, mas reveladora. Aceito o sashimi de salmão, ou qualquer outro pretexto que me vier à cabeça, para experimentar um lugar como aquele.

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