“Ele foi quase completamente esquecido na Polônia”, disse Karolina Merska. A artista que vive em Londres se refere ao pajaki, o ofício preservado pelas mulheres mais velhas no interior da Polônia, de onde ela provém. Nesta era de gratificação instantânea, alguns atribuem o lento declínio dessa forma de arte ao seu processo demorado.
O pajaki (pronuncia-se “paionque”), a palavra polonesa para aranha, é um móbile decorativo parecido com um lustre, tipicamente suspenso do teto, feito de palha de centeio e papel. Conhecido por suas cores vivas - magenta, limão, turquesa -, o móbile foi historicamente usado para iluminar as casas durante os meses escuros de inverno. Mas, embora variações de suas formas sejam um destaque em casas na Polônia inteira desde o século XVIII - expostas como símbolos de saúde e felicidade, e como presentes e decorações para casamentos e batizados -, o pajaki foi desaparecendo rapidamente da memória cultural na última década. Merska agora os faz e os vende por cerca de US$ 600 cada e ministra workshops em seu estúdio de arte no leste de Londres há cinco anos.
“Tudo muda. O tempo passou, as pessoas avançaram e querem novidades. Nos museus folclóricos ao ar livre, o pajaki começou até a juntar poeira, porque ninguém se interessava por ele”, disse Sophie Hodorowicz Knab, autora de “Polish Customs, Traditions and Folklore”.
Foi nesse tipo de museu, na cidade natal de Merska, Lublin, que ela viu seu primeiro pajaki quando tinha 18 anos. Foi imediatamente atraída pela vibração e pela sensação de que “todo esse conhecimento foi passado durante gerações nas famílias”.
A confecção do pajaki surgiu da tradição de pendurar a ponta de uma árvore sempre verde de cabeça para baixo no teto, no meio da sala, de acordo com Hodorowicz Knab: “Acompanhada dos feixes de trigo e centeio nos cantos da casa, ela deveria simbolizar que o próximo ano seria fértil. Tratava-se de honrar a terra e seus produtos. Além disso, as pessoas estavam copiando lustres, fazendo a própria versão com os materiais disponíveis. Virou uma peça de decoração.”
Segundo Merska, o pajaki é mais do que apenas a descoberta de uma arte delicada que está desaparecendo. Ela cresceu na cidade, filha de um médico e de uma esteticista, e teve muito pouco contato com a arte popular tradicional. “Sempre invejei quem tinha conhecimento de artesanato.” Ela atribui seu interesse pelo design à avó, que era uma espécie de estilista e fazia muitas das roupas da família.
Foi em parte por isso que, depois do ensino médio, Merska passou a estudar história da arte na Universidade Jagiellonian, em Cracóvia, onde desenvolveu um interesse pela etnografia da arte folclórica polonesa e ficou fascinada “pelo ofício de artistas autodidatas - o tipo de arte que você não encontra frequentemente nas galerias”.
Merska se mudou para Londres em 2007, motivada pelo interesse na cena criativa multicultural da cidade, e teve uma série de empregos estranhos, desde a monitoração de salas de exposição em galerias até tentativas como barista e bartender, mas estava procurando algo criativo. “Sempre tive a necessidade de apresentar minha tradição à cena londrina.” Foi então que pensou em fazer o próprio pajaki. “Às vezes, alguns objetos ficam na sua cabeça.”
Ela começou a aprender a fazê-lo. Com poucas informações disponíveis, foi na base de tentativa e erro, horas de experimentação com diferentes formas e cores. “Eu fazia pajakis no meu quarto, o que acabou sendo muito difícil, porque o chão e a cama viravam uma bagunça de papel e barbante.”
Como não havia cursos nem instruções on-line, Merska estudou fotos e tentou recriá-las usando a imaginação. Em uma visita aos pais, pegou um pouco de palha de centeio que havia sobrado da colheita de um vizinho. Sua primeira tentativa foi um fracasso completo. “Ele se despedaçou quando o levantei. Eu não tinha construído direito a estrutura do meio.”
O pajaki acabou unindo seu interesse de longa data pela arte popular com seu desejo de promover a tradição polonesa. Ela passou algum tempo viajando a diferentes aldeias polonesas para conhecer artistas, algumas das quais tinham experiência em fazer pajaki, que lhe transmitiam seus conhecimentos e truques. Esse aprendizado tem sido uma jornada para Merska, e a cada criação ela vai melhorando. Uma das primeiras peças que fez ainda está pendurada em seu estúdio - mais rudimentar quando comparada a suas criações mais recentes.
“Por causa da simetria, é importante usar os materiais básicos corretos”, frisou ela. Todo verão, Merska estoca palha de centeio durante viagens à Polônia, belos feixes que ficam no canto de seu estúdio. “As pessoas sempre guardavam um feixe de palha depois da colheita para proteger a casa de demônios, tempestades, relâmpagos e até mesmo incêndios. Também acreditavam que garantia uma boa safra no ano seguinte.”
A palha sempre fez parte do pajaki, mas as cores foram uma adição posterior, já que os corantes não estavam prontamente disponíveis. Quando era preciso usar cores, “elas eram tradicionalmente obtidas com vegetais, como beterraba ou batata”, explicou Merska. Embora gloriosamente ousado, o pajaki também pode ser mais discreto, com mais tons de outono, ou mesmo texturas espectrais, restringindo-se a paleta a tons de branco e cinza. Hoje em dia, porém, os rudimentos da arte estão ligados à tradição e há espaço para interpretação temática - conchas, contas, feijões secos, ervilhas, flores e fitas podem ser usados para embelezar tubos de cobre em vez do papel kalinka.
A oficina que Merska dirige é uma experiência meditativa e não dá para ser apressada. Mesmo o pajaki mais simples leva pelo menos seis horas para ser feito (ela oferece um curso de dois dias, com três horas por dia). “As pessoas ficam surpresas com o tempo que leva. É preciso cortar a palha e depois os discos de papel para os pompons. Não é difícil, mas requer muita paciência e muito tempo. Minhas oficinas têm um efeito muito terapêutico nas pessoas: dobrar papel, cortar palha - isso de fato dá um momento extra de calma.”
Mas, longe de um silêncio concentrado, Merska percebe os participantes muitas vezes querendo se abrir. “A gente conversa, e às vezes compartilha coisas bastante privadas. É uma reminiscência do passado quando mulheres idosas se encontravam na casa de uma delas e faziam pajaki para o Natal ou a Páscoa.”
O aumento do interesse tem sido gerado em grande parte pelo boca a boca e pelo Instagram. Alguns participantes viajam mais de uma hora pela cidade para participar da oficina. Há pouco tempo, uma mulher voou recentemente da Suíça especificamente para aprender a arte do pajaki.
Animada pelo desejo de manter viva essa forma de arte, Merska escreveu um livro em inglês sobre o ofício “para que as pessoas possam fazê-lo no mundo todo”. Publicado há alguns meses pela Pavilion, “Making Mobiles” continua sendo um dos únicos livros conhecidos sobre a prática e foi recentemente traduzido para o alemão. “Minha ideia não era que isso fosse só para os poloneses que vivem em Londres, mas uma espécie de colaboração entre culturas.”
Fazer pajaki também tem tido um efeito pessoal não intencional: Merska se sente mais em casa em uma cidade famosamente difícil para um estrangeiro. “Como sou estrangeira aqui, estou tentando encontrar meu lugar em Londres. Ter essa loja e fazer pajaki - acho que encontrei meu lugar.”
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