O homem que conhece os drinques preferidos das estrelas diz adeus à noite

Personalidades como Elizabeth Taylor, Lucille Ball e Jack Lemmon já tiveram o prazer de serem servidos por Joe Petrsoric, um dos mais antigos no Sardi’s, famoso bar de Nova York

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Por Julie Besonen

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Em 1968, o Sardi’s ainda desfrutava de seu apogeu de décadas, comandando os holofotes como o principal centro de atenção da Broadway, entre figurões, aspirantes e comoventes astros de outrora. Dramaturgos, agentes, publicitários e colunistas de jornais disputavam mesas estratégicas no espaço do restaurante, trocando olhares maliciosos, fofocas, farpas envenenadas e beijos pelo ar. Turistas eufóricos, sempre um ingrediente da experiência do Sardi’s, deleitaram-se com a presença de Groucho Marx ou Liza Minnelli entrando sob aplausos, uma tradição do Sardi’s.

Josip Petrsoric, conhecido pelas celebridades e turistas do Sardi's como Joe. Foto: Lanna Apisukh/The New York Times

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Esse foi o ano em que um jovem imigrante croata, Josip Petrsoric, cujo inglês não era tão bom, chegou com muito menos alarde. Logo ele estaria preparando drinques para todos eles.

Recentemente, Petrsoric, o barman avuncular do Sardi’s, conhecido por todos como Joe, estava encerrando sua apresentação noturna de mexer, sacudir e servir depois de 55 anos. Ele estava pronto para fazer a última performance, aposentando-se numa sexta-feira.

Por mais improvável que parecesse no momento, o Sardi’s, com endereço no número 234 da W. 44th St. desde 1927, imediatamente pareceu um lar para ele. Hair; Promessas! Promessas!; James Earl Jones em A Grande Esperança Branca; e Marlene Dietrich, em um show solo, eram os brindes da Broadway, e ele estava animado por estar no centro da atenção. O irmão de Joe, Mike, havia emigrado para a América antes e conseguido trabalho como chef do Sardi’s, o que facilitou a entrada de Joe.

Aos 23 anos, Joe tornou-se ajudante no bar, carregando caixas de bebidas alcoólicas, e logo foi promovido a atendente de bar, o que significava fornecer os pedidos de bebidas para os garçons, em sua maioria falantes de italiano. Ele trabalhou fora do palco principal, sem interagir diretamente com clientes como Jackie Gleason, Lauren Bacall, Sammy Davis Jr., Carol Channing, Pearl Bailey, Raquel Welch e Henry Fonda. Naquela época, Petrsoric dizia que preparava 2.000 drinques por dia, um número quase inacreditável: 150 bloody marys, 150 bullshots e inúmeros martinis - “Gin martini-gin martini-gin martini”, disse ele, murmurando as palavras de forma rápida. “Eu era como uma máquina.”

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Sr. Petrsoric em um turno recente com um colega, Jeremy Wagner. Foto: Lanna Apisukh/The New York Times

Vincent Sardi Jr., o proprietário na época, reparou nele e em 1972 chamou-o ao seu escritório. Petrsoric lembrou-se de seu chefe exigindo: “Joe, quero que você atenda no bar”.

“Eu estava com medo”, disse Joe. “Eu disse: ‘Sr. Sardi, não, não conheço o idioma suficiente. Não consigo falar com os clientes.’”

Sardi prevaleceu. E assim, Petrsoric tem sido uma presença constante no bar do andar de cima desde então, exceto por alguns contratempos, como o fechamento temporário do restaurante em 1990 após uma falência e os cerca de 22 meses em que o Sardi’s ficou fechado durante a pandemia de covid. À medida que a Broadway começou a funcionar novamente, para Joe tem sido uma confusão de gin vodka-martini dirty-martini espresso-martini martini-manhattan-cosmo-gimlet, o que quer que as pessoas queiram hoje em dia.

Desde que as notícias sobre a aposentadoria de Petrsoric foram divulgadas, os clientes regulares têm se aglomerado, alguns deles chorosos, para que Petrsoric lhes sirva mais um para a viagem. Foto: Lanna Apisukh/The New York Times

No início deste ano, Petrsoric, 78 anos, trabalhava sozinho por volta das 22h quando cerca de 60 pessoas entraram após o término dos shows da Broadway. Ele se viu voltando ao modo máquina, um posto calmo de eficiência em coquetéis. Acontece que Matthew Broderick estava sentado no bar, observando com admiração. Ele expressou seu espanto, que Petrsoric reconheceu sutilmente, com uma mão colocada suavemente sobre o coração. Embora tenha gostado do elogio, ele dá o mesmo tratamento educado a estrelas como Broderick, bem como aos membros dos elencos, diretores, produtores, letristas e compositores de produções da região.

Quando um jovem barman contou a Joe a lista de celebridades que inundaram a festa no Sardi’s na estreia do último filme de Wes Anderson, Asteroid City - Margot Robbie, Greta Gerwig, Scarlett Johansson, Colin Jost, Uma Thurman, Ethan Hawke, Maya Hawke, Tom Hanks, Bill Murray, Adrien Brody, Bryan Cranston, Jeff Goldblum, Jason Schwartzman - Petrsoric simplesmente deu de ombros.

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“Não sou tão louco por celebridades”, disse ele. “Para mim, todo mundo é humano, não deuses.” Muitos anos atrás, ver Lucille Ball no restaurante, com sua carreira encerrada, ensinou-lhe algo sobre a fama. “Ela odiava ser velha”, disse ele. “Ela não estava feliz. Deve ser muito difícil quando você é tão popular. Isso vai para o seu cérebro, e então você vê que não é para sempre e tem que voltar a colocar os pés no chão.”

Os frequentadores habituais de Sardi erguem uma taça para Petrsoric. Foto: Lanna Apisukh/The New York Times

Ele tem seu favorito

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Sem querer escolher favoritos, mas o ator que ele mais gostava de esperar, ele admitiu, era Jack Lemmon. “Ele era uma pessoa realista”, disse Petrsoric. “Ele vinha sempre que estava em Nova York. James Gandolfini, Vanessa Williams, eles eram legais. Paul Newman era muito quieto, bebia Heineken. A esposa dele - Joanne Woodward - “vinha com ele, e toda vez que ele ia ao banheiro, ela o esperava na porta, não sei por quê. Elizabeth Taylor era humana. Uma vez ela veio do banheiro e um cara tinha vomitado - ela não o conhecia - e ela chamou os garçons para ajudá-lo.”

Expulsar bêbados do bar era um anátema para ele. “Você diz gentilmente: ‘Hora de ir’, e eles vão”, disse Petrsoric. “Uma vez tivemos um cara que carregava duas armas. Vi que ele era maluco e disse: ‘Vamos dar uma festa privada’, e ele disse: ‘OK, estou indo.’ Não quero machucar ninguém. Eu me preocupo com a pessoa. Tive que levar muitas pessoas para casa quando ficaram bêbadas.” Com isso ele quis dizer voltar ao hotel, geralmente perto da Times Square. “Não ultimamente”, acrescentou. “Temos boas pessoas aqui, com certeza.”

Desde que a notícia da aposentadoria de Petrsoric foi divulgada, os frequentadores do bar têm se aglomerado, alguns deles chorosos, pedindo para que Petrsoric lhes sirva mais um. Ele está saindo do local em boa forma, mas levando consigo seu conhecimento institucional.

“Ele está aqui há muito tempo e viu de tudo, desde o início”, disse Max Klimavicius, sócio-gerente do Sardi’s, que começou a subir em sua própria carreira em 1974. “Veja como ele é jovem. Ele ainda tem muita energia, sempre sorrindo.” / TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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