O vinil está indo tão bem que está ficando difícil vendê-lo

Abandonados na década de 1980, os discos de vinil são agora o formato físico mais popular e mais rentável da indústria da música. Fabricá-los, no entanto, é um desafio cada vez maior

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Por Ben Sisario

Dentro do escritório da Joyful Noise Recordings em Indianapolis, um selo especializado que atende aos fãs de rock underground que amam o vinil, há um canto que os funcionários chamam de "caverna do torno".

Deixados para morrer na década de 1980, discos de vinil são agora o formato físico mais popular e grandioso da indústria musical. Foto: AJ Mast/The New York Times

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Lá está um torno de disco Presto 6N, uma máquina vintage dos anos 1940 do tamanho de um microondas que produz discos fazendo um sulco em uma bandeja de vinil em branco. Ao contrário da maioria dos discos padrão, que são prensados às centenas ou milhares, cada disco cortado no torno deve ser criado individualmente.

“É incrivelmente trabalhoso”, disse Karl Hofstetter, o fundador do selo. “Se uma música tem três minutos de duração, leva três minutos para fazer cada uma.”

Essa tecnologia antiga - arranhada e amassada, o torno parece um objeto saído de um submarino da Segunda Guerra Mundial - é uma parte fundamental da estratégia da Joyful Noise para sobreviver ao aumento da popularidade do vinil que o selo ajudou a alimentar. Abandonados com o advento dos CDs na década de 1980, os discos de vinil são agora o formato físico mais popular e mais rentável da indústria musical, com os fãs escolhendo-os para colecionar, pela qualidade de som ou simplesmente pela experiência tátil da música em uma era de efemeridade digital. Depois de crescer continuamente por mais de uma década, as vendas de LP explodiram durante a pandemia.

Nos primeiros seis meses deste ano, 17 milhões de discos de vinil foram vendidos nos Estados Unidos, gerando US $467 milhões em receita, quase o dobro do valor do mesmo período em 2020, de acordo com a Recording Industry Association of America. Dezesseis milhões de CDs também foram vendidos no primeiro semestre de 2021, no valor de US $205 milhões. O material físico é agora apenas uma fatia do negócio musical em geral - o streaming corresponde a 84% da receita doméstica - mas pode ser um forte indicador da lealdade dos fãs, e estrelas como Taylor Swift e Olivia Rodrigo fazem do vinil uma parte importante de seu marketing.

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Mesmo assim, há sinais preocupantes de que a bonança do vinil excedeu a capacidade industrial necessária para sustentá-la. Os impasses na produção e a dependência de máquinas de prensagem obsoletas levaram ao que os executivos dizem ser atrasos sem precedentes. Alguns anos atrás, um novo disco poderia ser feito em alguns meses; agora pode levar até um ano, causando problemas nos planos de lançamento dos artistas.

Kevin Morby, um cantor e compositor de Kansas City, Kansas, disse que seu último LP, A Night at the Little Los Angeles, quase não chegou a tempo de ser vendido em sua turnê de outono. E ele é um dos sortudos. Artistas como os Beach Boys e Tyler, the Creator, viram seus vinis atrasarem recentemente.

Outros estão igualmente frustrados. Thrill Jockey, um selo de Chicago para fãs de indie rock, quer comemorar seu 30º aniversário no próximo ano com uma série de reedições, mas sua fundadora, Bettina Richards, disse que não tem ideia de quais títulos podem ser feitos a tempo. John Brien, da Important Records, que lança trabalhos de compositores contemporâneos, declarou recentemente online que “o vinil está morto”, mas esclareceu em uma entrevista que o formato é essencial demais para ser abandonado.

Nem mesmo as maiores estrelas estão imunes. Em uma entrevista este mês para a BBC Radio, Adele, cujo álbum 30 foi lançado em 19 de novembro - e com certeza será um blockbuster em LP - disse que sua data de lançamento foi definida há seis meses para que vinil e CDs fossem feitos a tempo .

“Houve um prazo de entrega de 25 semanas!” ela disse. “Tantas fábricas de CD e vinil que fecharam mesmo antes da covid porque ninguém mais os fabrica”.

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A demanda por discos aumentou, o interesse do público também, mas a produção ainda é lenta e a esperapode demorar meses. Foto: AJ Mast/The New York Times

Especialistas em música e fabricação citam uma variedade de fatores por trás do atraso. A pandemia fechou muitas fábricas por um tempo, e problemas na cadeia de fornecimento global retardaram o movimento de tudo, desde papelão e cloreto de polivinila - o “vinil” de que os discos (e os tubos de encanamento) são feitos - até a finalização dos álbuns. No início de 2020, um incêndio destruiu uma das duas únicas fábricas no mundo que faziam discos de laca, uma parte essencial do processo de fabricação.

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Mas o maior problema pode ser simplesmente de oferta e demanda. O consumo de LPs de vinil cresceu muito mais rápido do que a capacidade da indústria de fabricá-los. O negócio depende de uma infraestrutura antiga de máquinas de prensagem, muitas das quais datam da década de 1970 ou antes, e sua manutenção pode ser cara. Novas máquinas surgiram apenas nos últimos anos e podem custar até US $300.000 cada. Há um acúmulo de pedidos para elas também.

Surgem problemas exóticos que jamais interfeririam em um lançamento no YouTube ou SoundCloud. “Tivemos uma infestação de guaxinins”, disse Caren Kelleher, da Gold Rush Vinyl, uma fábrica boutique em Austin, Texas. "Isso nos atrasou uma semana."

Os limites dessa infraestrutura estão sendo testados à medida que grandes artistas - e super vendedores como Walmart e Amazon - empurram cada vez mais o vinil. Não é difícil ver o porquê: em um momento em que as vendas de CDs estão desaparecendo e o streaming deixou os artistas reclamando de pagamentos minúsculos, um novo LP, especialmente se oferecido em cores atraentes ou em variantes de design que atraem colecionadores, pode ser vendido por US $ 25 ou mais. Na opinião de alguns, os lançamentos de grandes artistas pop estão atrapalhando a cadeia de produção, expulsando artistas menores e os selos que permaneceram fiéis ao formato o tempo todo.

“O quemais me preocupa é que os grandes selos vão dominar e assumir toda a capacidade, o que não acho uma boa ideia”, disse Rick Hashimoto, da Record Technology Inc., uma fábrica de médio porte em Camarillo, Califórnia, que trabalha com muitos selos indies.

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Outros dizem que os grandes selos são apenas um alvo conveniente. O verdadeiro problema, eles acreditam, não são as celebridades entrando no movimento do vinil, mas que a rede industrial simplesmente não se expandiu com rapidez suficiente para atender à demanda crescente.

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“Estou bravo porque Olivia Rodrigo vendeu 76.000 cópias em vinil de seu álbum?” disse Ben Blackwell da Third Man, a gravadora e império do vinil que conta com Jack White do White Stripes como um de seus fundadores. "Claro que não! Isso é o que eu teria sonhado quando começamos a Third Man, que os maiores artistas da linha de frente promovam o vinil e que os jovens estejam nisso.

“Se alguém está bravo por isso impedir que outro título seja fabricado”, disse Blackwell, “parece um pouco elitista e controlador”.

Ainda assim, há preocupações de que o renascimento possa estar em risco se mais atrasos frustrarem consumidores e artistas ou se o vinil for tratado como apenas mais uma mercadoria, como camisetas ou chaveiros, das quais fãs inconstantes simplesmente seguirão em frente.

Para os artistas, especialmente aqueles sem o apoio de um grande selo, abraçar o vinil agora se tornou uma questão de saber se o esforço vale a pena.

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“No momento, o vinil parece legitimar”, disse Cassandra Jenkins, uma cantora e compositora de Nova York cujo último álbum, An Overview on Phenomenal Nature, foi um sucesso surpreendente no mundo do vinil. Tudo começou com uma prensagem de 300 cópias e acabou chegando a 7.000.

“É um investimento para um artista”, ela disse. “Eu quero esses objetos que eu possa vender, então vou investir nisso.” /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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