Compositores da Suécia dominaram o pop dos EUA e agora estão de olho no k-pop

Dezenas de compositores e produtores em Estocolmo vivem de fazer música para grupos coreanos, mesmo que não falem a língua

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Por Alex Marshall

Quando a compositora sueca Ellen Berg ouviu pela primeira vez uma faixa de K-pop, em 2013, sua reação foi típica de muitos ouvintes ocidentais: “Que diabos é isso?” ela se lembra de ter pensado.

Da esquerda para a direita: Cazzi Opeia, Ellen Berg, Jonatan Gusmark e Ludvig Evers trabalham em uma faixa de K-pop emestúdio da EKKO, editora de música coreana em Estocolmo. Foto: Felix Odell/The New York Times

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Berg, 31, estava estudando na Musikmakarna - uma escola de composição a cerca de 330 milhas ao norte de Estocolmo - e sua turma teve que escrever um sucesso coreano.

Para deixar os aspirantes a compositores no clima, os alunos ouviram I Got a Boy do Girls’ Generation, um grupo feminino de K-pop muito popular. “É uma das músicas de K-pop mais loucas de todos os tempos”, disse Berg recentemente por telefone. A faixa inclui raps, explosões de dance music em alta velocidade e até um verso no estilo de uma balada rock. “São realmente cinco músicas diferentes em uma”, disse Berg.

A classe teve uma semana para escrever algo parecido. “Não fomos muito bem”, disse Berg com uma risada.

Oito anos depois, Berg certamente melhorou suas habilidades de composição de K-pop: ela agora é uma das dezenas de músicos suecos que ganham a vida exclusivamente escrevendo faixas para o gênero. Ela contribuiu com um sucesso para o gigante pop BTS, bem como para faixas de grande sucesso de grupos como Red Velvet e Itzy.

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Embora os suecos sejam figuras de referência para as estrelas pop americanas - com compositores como Max Martin e Shellback produzindo ou co-escrevendo faixas para Katy Perry, Taylor Swift, The Weeknd e outros - músicos suecos estão se tornando uma força no K-pop , também.

Berg assinou contrato com a EKKO, uma editora de música com sede na Coréia com estúdios em Estocolmo, onde Berg trabalha ao lado de Moa Carlebecker, uma compositora de K-pop requisitada e mais conhecida por seu nome artístico, Cazzi Opeia. As duas (que colaboram sob o nome de Sunshine) também escrevem regularmente com outra dupla - Ludvig Evers e Jonatan Gusmark, que se autodenominam Moonshine - com sede em um estúdio ao lado. Sete outros compositores suecos que trabalham em faixas de K-pop têm estúdios no mesmo prédio.

Berg, Carlebecker, Evers e Gusmark trabalharam juntos pela primeira vez em 2017 em Peek-a-Boo, uma faixa do Red Velvet que Berg comparou a um antigo episódio de “Scooby-Doo” ou a uma viagem a uma casa mal-assombrada. Desde então, Peek-a-Boo foi reproduzida mais de 217 milhões de vezes no YouTube.

A EKKO não é a única empresa lançando K-pop em Estocolmo. A Cosmos, uma editora, tem sete compositores trabalhando em tempo integral em faixas de K-pop, disse Peo Nylen, seu diretor criativo, por e-mail. The Kennel, outra empresa de composição, emprega 14 escritores de K-pop, disse Iggy Strange-Dahl, um de seus fundadores.

O K-pop pode parecer um fenômeno recente para os fãs de música ocidental que acompanharam a ascensão do BTS, mas as gravadoras coreanas estão procurando compositores europeus desde o final dos anos 1990 em uma tentativa de sucesso global, disse Michael Fuhr, um acadêmico alemão que escreveu um livro sobre K-pop. “Eles tinham as produções de Max Martin em mente”, ele disse, acrescentando que os primeiros escritores europeus de K-pop de sucesso eram na verdade finlandeses e noruegueses, não suecos.

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Hoje, compositores de muitas nacionalidades estão tentando fazer sucessos de K-pop, disse Fuhr, atraídos, em parte, pelo fato de que os coreanos ainda compram CDs, então há muito dinheiro a ser ganho. A SM Entertainment, um conglomerado de entretenimento coreano, diz em seu site que trabalha com 864 compositores em todo o mundo, incluindo 451 na Europa e 210 na América do Norte.

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Fuhr disse que muitos sucessos do K-pop foram escritos em “campos” de composição organizados por gravadoras ou editoras que convidam músicos de todo o mundo. Durante vários dias, os compositores trabalham em equipes para criar novas músicas. (Canções pop americanas também são comumente escritas dessa maneira.)

Carlebecker disse em uma entrevista em vídeo que ficou viciada no K-pop quando o ouviu pela primeira vez, em 2016. Quando criança, ela amava as Spice Girls, ela disse - "Eu tinha todos os pôsteres, eu tinha todos os CDs" - então o K-pop instantaneamente pareceu familiar, com sua infinidade de grupos de garotas e garotos em que cada membro tem uma personalidade definida de forma única.

Ela imediatamente entendeu que as faixas de K-pop devem ter várias seções para que cada membro do grupo tenha uma chance de brilhar, ela disse, se eles querem fazer rap, cantar suavemente ou cantar um refrão. Ter tantas seções oferece muito mais oportunidades para ser criativo do que em uma típica música pop ocidental, acrescentou.

“Não há regras no K-pop; você pode ter três ganchos, um após o outro, se quiser”, disse Carlebecker. “Você pode ser louco e animado, e isso é o que mais atrai.”

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Carlebecker, que está coberta de tatuagens da cabeça aos pés - um visual que seria improvável em uma estrela real do K-pop - disse que sabia apenas duas palavras em coreano: “annyeonghaseyo” (olá) e “gamsahabnida” (obrigada).

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Mas isso não atrapalhou sua composição, ela disse: Carlebecker escreve em inglês e, em seguida, compositores coreanos adicionam novas letras às suas melodias, muitas vezes mantendo algumas palavras aleatórias em inglês para ajudar a faixa a se destacar.

Em entrevistas, Berg e Carlebecker ofereceram várias teorias para explicar por que os suecos produzem faixas tão boas de K-pop, incluindo a forte tradição de composição do país e o sistema abrangente de educação musical. A Suécia é fria, observou Berg, o que significa que muitas vezes não havia “nada melhor para fazer” do que ficar em casa e trabalhar na música.

Para alguns coreanos, a razão é bem simples: os suecos escrevem melodias que são tão cativantes que os fãs querem cantá-las em shows lotados em estádios e em seus bares de karaokê locais.

Escritores suecos de K-pop também estão sendo notados na Suécia. Em novembro, Carlebecker foi chamada de “sucesso internacional do ano” nos prêmios anuais de composição da Suécia, superando Max Martin (e Moonshine). Artigos sobre os compositores apareceram nos principais jornais do país, e Berg e Carlebecker foram entrevistadas para noticiários de TV.

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Ainda assim, disse Evers, nem todos entenderam o quão significativo o K-pop está se tornando para a indústria da música da Suécia.

“Minha avó ainda não entende o que eu faço para viver”, disse Evers. “Ela não acha que é real.” /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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