País da Oceania proíbe protetor solar para proteger corais

Estima-se que 14 mil toneladas de protetor solar sejam despejadas nos oceanos do mundo a cada ano

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Por Vicky Xiuzhong Xu
Atualização:

SYDNEY, AUSTRÁLIA - Palau, no Pacífico Ocidental, se tornou o primeiro país do mundo a proibir vários tipos de protetor solar numa jogada para proteger seus recifes de coral de produtos químicos que causam um estrago significativo, de acordo com os cientistas.

Nos termos da proibição, que entrará em vigor em 2020, protetores solares “tóxicos para os recifes" - as variedades que contêm pelo menos uma dentre 10 substâncias químicas proibidas - poderão ser confiscados dos turistas quando entrarem no país, e os comerciantes que venderem tais produtos poderão ser multados em até mil dólares.

Quando a proibição ao protetor solar entrar em vigor em Palau em 2020, embalagens de protetor solar poderão ser confiscadas dos turistas. Foto: Itsuo Inouye/Associated Press

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O estrago causado pela mudança climática aos recifes de coral foi amplamente documentado, mas os cientistas dizem que há cada vez mais evidências do estrago causado pelos produtos químicos presentes no protetor solar, que fica na água após a passagem dos banhistas ou chega ao oceano pelo sistema de esgoto.

O presidente de Palau, Tommy Remengesau, disse que a adoção da proibição foi motivada principalmente por um relatório de 2017 indicando que produtos como protetores solares foram encontrados “espalhados” pela Lagoa das Águas-Vivas, um dos patrimônios da Unesco localizados no país.

Estima-se que 14 mil toneladas de protetor solar sejam despejadas nos oceanos do mundo a cada ano.

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Os pesquisadores descobriram que até uma baixa concentração de protetor solar na água pode prejudicar o desenvolvimento dos jovens corais, disse Selina Ward, professora de ecologia dos recifes de coral da Universidade de Queensland, na Austrália.

Estudos também mostraram que produtos químicos no protetor solar podem levar à descoloração de corais, prejudicando também a reprodução de peixes graças à interferência no seu sistema hormonal, disse Ward.

Os produtos químicos contidos no protetor solar podem ser “piores que a mudança climática” em se tratando do estrago causado nos recifes, disse Craig Downs, diretor executivo do Laboratório Ambiental Haereticus, na Virgínia.

Em 2015, Downs comandou uma equipe que descobriu que a oxibenzona, comumente usada no protetor solar, inibe o crescimento do coral e é tóxica para as algas que vivem nos recifes.

Em maio, o Havaí se tornou o primeiro estado americano a proibir a venda de protetores solares contendo oxibenzona ou octinoxato, outro produto químico que, de acordo com os cientistas, estaria prejudicando o coral. A proibição deve entrar em vigor em janeiro de 2021.

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Protetores solares não biodegradáveis são proibidos em partes do México. Em Xel-Há, empreendimento turístico na Riviera Maia, os visitantes podem trocar seu protetor solar proibidos por variedades menos nocivas para o coral.

Nem todos os protetores solares são tóxicos para os recifes de coral, mas as variedades que não empregam  esses produtos químicos são caras.

“Acredito que usar tecidos para proteger a pele seja a melhor alternativa ao protetor solar", disse Ward. “Temos roupas leves para usar no verão, quando faz calor demais para o neoprene. Basta cobrir o corpo todo com lycra - um modelo atraente, se puder imaginá-lo.”

Os fabricantes de protetor solar não estão sozinhos ao dizer que os protetores solares comerciais trazem mais benefícios do que problemas.

“No momento, a pesquisa envolvendo o efeito do protetor solar no coral é limitada", disse Heather Walker, presidente da Comissão Nacional de Câncer de Pele da Austrália.

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“Em comparação, as evidências do efeito do protetor solar ao evitar o câncer de pele são conclusivas. Nesse contexto, uma proibição me parece uma medida precipitada.”

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