THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Quando Ja’Kobi Moore decidiu se inscrever em uma escola particular de ensino médio este ano em sua cidade natal, Nova Orleans, ela descobriu que precisava de pelo menos uma carta de recomendação de um professor. Ela nunca tinha pedido uma, então procurou ajuda.
“Carta de recomendação do professor”, ela digitou na barra de pesquisa do TikTok.
Moore, 15, rolou a tela do TikTok até encontrar dois vídeos: um explicando como pedir aos professores uma carta de recomendação e o outro mostrando um modelo para uma. Ambos foram feitos por professores e eram mais fáceis de entender do que um resultado de pesquisa do Google ou um vídeo do YouTube, disse Moore, que planeja conversar com seus professores este mês.
O TikTok é conhecido por seus vídeos virais de dança e música pop. Mas para a Geração Z, o aplicativo de vídeo, cada vez mais, também é uma ferramenta de busca.
Mais e mais jovens estão usando o poderoso algoritmo do TikTok - que personaliza os vídeos mostrados a eles com base em suas interações com o conteúdo - para encontrar informações adaptadas aos seus gostos. Essa personalização se combina com a sensação de que pessoas reais no aplicativo estão sintetizando e fornecendo informações, em vez de sites que não têm rosto.
No TikTok, “você vê como a pessoa realmente se sentiu onde comeu”, disse Nailah Roberts, 25 anos, que usa o aplicativo para procurar restaurantes em Los Angeles, onde mora. Uma longa resenha escrita de um restaurante não consegue capturar seu ambiente, comida e bebidas como um clipe pequeno pode, ela disse.
A ascensão do TikTok como ferramenta de descoberta faz parte de uma transformação mais ampla na pesquisa digital. Embora o Google continue sendo a ferramenta de busca dominante no mundo, as pessoas estão recorrendo à Amazon para pesquisar produtos, ao Instagram para se manterem atualizadas sobre as tendências e aos Snap Maps do Snapchat para encontrar empresas locais. À medida que o mundo digital continua crescendo, o universo de formas para encontrar informações dentro dele está se expandindo.
O Google percebeu o TikTok entrando em seu domínio. Enquanto a empresa do Vale do Silício questionou que os jovens estivessem usando o TikTok como substituto de sua ferramenta de busca, pelo menos um executivo do Google comentou publicamente sobre os recursos de pesquisa do aplicativo de vídeo rival.
“Nos nossos estudos, algo como quase 40% dos jovens, quando procuram um lugar para almoçar, não vão ao Google Maps ou à barra de pesquisa. Eles vão para o TikTok ou Instagram”, disse Prabhakar Raghavan, vice-presidente sênior do Google, em uma conferência de tecnologia em julho.
O Google incorporou imagens e vídeos em sua ferramenta de busca nos últimos anos. Desde 2019, alguns de seus resultados de pesquisa apresentam vídeos do TikTok. Em 2020, o Google lançou o YouTube Shorts, que compartilha vídeos verticais com menos de um minuto de duração, e passou a incluir seu conteúdo nos resultados de pesquisa.
O TikTok, de propriedade da empresa chinesa de internet ByteDance, se recusou a comentar sobre sua função de pesquisa e produtos que podem estar em teste. Disse que o aplicativo estava “sempre pensando em novas maneiras de agregar valor à comunidade e enriquecer a experiência do TikTok”.
Fazer uma pesquisa no TikTok geralmente é mais interativo do que digitar algo no Google. Em vez de apenas percorrer paredes de texto, os membros da Geração Z reúnem recomendações de vídeos do TikTok para identificar o que estão procurando, assistindo vídeo após vídeo para selecionar o conteúdo. Em seguida, verificam a veracidade de uma sugestão com base nos comentários postados em resposta aos vídeos.
Esse modo de pesquisa está enraizado em como os jovens estão usando o TikTok não apenas para procurar produtos e empresas, mas também para fazer perguntas sobre como fazer as coisas e encontrar explicações sobre o que as coisas significam. Com vídeos de geralmente menos de 60 segundos de duração, o TikTok retorna o que parecem ser as respostas mais relevantes, muitos disseram.
A ascensão do TikTok como ferramenta de busca pode significar que mais pessoas se deparam com informações erradas e desinformações no aplicativo, que podem ser amplificadas e divulgadas ainda mais, disse Francesca Tripodi, professora de informação e biblioteconomia da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill. A plataforma tem lutado para moderar o conteúdo enganoso sobre eleições, guerra na Ucrânia e aborto.
O algoritmo do TikTok tende a manter as pessoas no aplicativo, tornando mais difícil para elas recorrer a fontes adicionais para pesquisas de verificação de fatos, acrescentou Tripodi.
“Você não está realmente clicando em nada que o leve para fora do aplicativo”, ela disse. “Isso torna ainda mais desafiador verificar se as informações que você está recebendo estão corretas.”
O TikTok se tornou um local para encontrar informações. O aplicativo está testando um recurso que identifica palavras-chave em comentários e links para buscar resultados de pesquisa para elas. No Sudeste Asiático, também está testando um feed com conteúdo local, para que as pessoas encontrem empresas e eventos próximos a elas.
A criação de recursos de pesquisa e localização provavelmente fortalecerá ainda mais o TikTok - que já é o aplicativo mais baixado do mundo para pessoas de 18 a 24 anos, de acordo com a Sensor Tower - entre os usuários jovens.
O TikTok “está se tornando um balcão único para conteúdo de uma maneira que não acontecia em seus primeiros dias”, disse Lee Rainie, que dirige pesquisas de internet e tecnologia no Pew Research Center. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES
The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.