THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - As muitas, muitas pessoas que aplaudiram, criticaram e participaram do que muitas vezes parece uma discussão interminável em torno da forma desnuda de Lizzo podem se surpreender ao saber que ela não passa tanto tempo despida quanto elas pensam.
“Às vezes, quando olho para a internet, tenho uma crise de identidade porque penso: ‘Espere, quem essas pessoas pensam que sou?’”, disse Lizzo (nome de nascimento, Melissa Jefferson) recentemente via Zoom de sua casa em Los Angeles. Atrás dela estavam muitos prêmios, um cristal de ametista para boas vibrações e sua coleção do Baby Yoda. “Neste momento, acho que as pessoas pensam que estou nua o tempo todo”, ela disse. “Essa é a única coisa que vejo: ‘Ooohhh, lá está a velha Lizzo; ela está nua novamente; Estou chocada que ela está de roupa.’”
Claro, ela postou alguns nudes online, usando seu próprio corpo para forçar uma reavaliação dos preconceitos em torno de tamanho e beleza. Claro, ela foi a eventos como o aniversário de Cardi B em um vestido de cristal transparente sobre uma calcinha cavada e tapas-mamilos e desencadeou um debate viral.
Mas, na verdade, ela passou boa parte de seu tempo nos últimos três anos não apenas em seu próximo álbum ou em seu novo reality show na Amazon Prime, Watch Out for the Big Grrrls, mas também em um projeto totalmente diferente. Um projeto que envolve colocar coisas, em vez de tirá-las.
É, ela brincou recentemente nas mídias sociais, “a maior coisa até agora. Maior do que qualquer coisa que eu já fiz.” Também pode ser a mais controversa.
Porque Lizzo, a campeã da pele irrestrita, está fazendo shapewear.
Você sabe, o tipo de roupa íntima que tradicionalmente parece o oposto da mensagem sobre amar a si mesmo como você é, contida em músicas de Lizzo como Juice e Truth Hurts. Sem mencionar seu programa de TV.
É o tipo de contradição potencial que, na câmara de eco das sensibilidades pessoais das mídias sociais, muitas vezes pode acabar sendo vista como uma traição ao vínculo entre fã e ídolo. Como Lizzo sabe. É por isso que ela quer ser clara: ela não está tentando mudar o corpo das outras pessoas. Ela está tentando mudar a essência do próprio shapewear.
A linha se chama Yitty, em homenagem ao seu apelido de infância, e foi criada com a Fabletics Inc., empresa matriz da Fabletics, a “marca de roupas da vida ativa” co-fundada por Kate Hudson. Ela será apresentada com cerca de 100 peças diferentes divididas em três coleções: Nearly Naked, Mesh Me e Major Label.
Juntas, disse Lizzo, elas “darão a todos a oportunidade de falar por si mesmos quando se trata de como seu corpo deve ser e como devem se sentir em seu corpo”.
Uma Breve História do Shapewear
“Shapewear” é um nome relativamente novo para um conceito muito antigo (mais ou menos como “bem-estar” agora engloba “dieta”) – ou seja, que o corpo de uma mulher deve ser alterado por meios externos para torná-lo mais aceitável aos olhos de vários observadores, a maioria homens. Se isso envolvesse dor... bem, esse era o preço para alcançar a definição de beleza da sociedade.
As formas das alterações variam de acordo com as normas culturais; referências a cintas modeladoras podem ser encontradas desde a Ilíada. Os panniers, aquelas estruturas de anágua que exageravam os quadris, eram uma versão do século 16 do shapewear; assim como espartilhos de aço ou barbatana de baleia e lona. Em meados do século 20, as cintas elásticas estavam em voga, que por sua vez deram lugar à meia-calça, que evoluiu, em 2000, para o Spanx, que tornou o shapewear moderno famoso.
Ao trocar a tecnologia de corte e costura por malha spandex, a fundadora da Spanx, Sara Blakely, transformou os tapetes vermelhos de Hollywood, tornando-se bilionária ao longo do caminho.
Ainda assim, a Spanx, como todos os espartilhos e cintas antes dele, era uma espécie de “vestimenta de fundação”, feita para ser escondida, sua própria existência sugerindo que o que estava por baixo de alguma forma não estava à altura, mesmo que agisse como uma arma secreta para permitir que corpos de todos os tipos tivessem acesso a roupas feitas para poucos. Além disso, “conforto”, quando se trata de shapewear, permaneceu um termo relativo.
Em parte para mudar isso, muitos novos players entraram no mercado, principalmente a Yummie Tummie, fundada em 2008 (e agora renomeada como Yummie); a Honeylove, criada em 2016; e, acima de tudo, a Skims, a marca de Kim Kardashian, lançada em 2019, alardeando conforto e uma variedade de tons de pele, e avaliada em US$ 3,2 bilhões durante uma rodada de arrecadação de fundos no início deste ano.
A Allied Market Research divulgou recentemente um relatório prevendo que o mercado global de compressão e shapewear valeria US$ 6,95 bilhões até 2030.
Uma Breve História da Yitty
Embora possa parecer, na esteira de Fenty e Skims, que Lizzo, 33, está simplesmente entrando na onda das celebridades, ela na verdade pensa no setor desde os 12 anos.
Isso, ela disse, aconteceu quando ela estava crescendo em Houston (sua família se mudou de Detroit quando ela tinha 10 anos), começando no ensino médio e aprendendo a ter “vergonha do meu corpo”. Mais tarde, quando começou a se afirmar musicalmente, ela rejeitou totalmente essa mentalidade e as roupas íntimas que a acompanhavam. E foi só depois disso, quando finalmente começou a “se divertir com meu corpo, criando formas e deixando meu corpo ser curvilíneo, amando os pneuzinhos que você deveria esconder e explorando a moda”, que ela começou a pensar sobre shapewear novamente.
Ela queria um shapewear que se anunciasse com orgulho - e parecesse um abraço. O tipo de shapewear que se você se sentasse e sua camisa subisse ou suas calças fossem abaixadas, você ficaria feliz em exibir. O tipo de shapewear que você poderia usar sem nada por cima. Ela nem queria chamá-lo de “shapewear”. Ela queria chamá-lo de “bodywear”, mas ninguém sabia o que isso significava.
Então Kevin Beisler, seu empresário, disse a ela que havia se encontrado com a equipe da Fabletics, que estava fazendo muitas pesquisas com clientes.
Esses clientes disseram que “a categoria número 1 que eles queriam que começássemos era o shapewear”, disse Don Ressler, que fundou a Fabletics Inc., junto com Adam Goldenberg. Ressler tinha visto o que pode acontecer quando você combina o poder da celebridade e um setor de vestuário no qual a celebridade tem alguma autoridade pessoal. (A Fabletics foi anteriormente chamada de TechStyle Fashion Group e produziu a Savage X Fenty, que se desmembrou em 2019.)
“Eles entenderam”, disse Beisler a Lizzo.
“Essas palavras por si só foram tão incríveis, porque eu não as tinha ouvido”, ela disse. “Ninguém tinha acreditado no meu sonho selvagem.”
Na verdade, Ressler disse, “achamos que é uma oportunidade multibilionária”.
O Fator Lizzo
Lizzo não acha que o mercado está saturado ou que ela perdeu o bonde porque há outras marcas na frente dela. “Não há nada como sentir que você está no lugar certo na hora certa”, ela disse.
A Yitty é “algo pessoal para mim, algo para minha versão bebê”, continuou. “Tenho estado em paralelo com o movimento positivo do corpo há muito tempo, e as pessoas fizeram do meu nome sinônimo disso, e eu sempre digo, a positividade do corpo pertenceu às pessoas que realmente a criaram – as grandes mulheres negras, pardas, queers, minhas garotas tamanho GG.” Como indicador de público-alvo, a campanha publicitária traz modelos de todos os tamanhos, incluindo a melhor amiga de Lizzo, que é tamanho PP, além da própria Lizzo.
Lizzo é a diretora executiva e cofundadora da Yitty; Kristen Dykstra, ex-diretora de marketing da Fabletics, é a presidente. As linhas levaram três anos para serem desenvolvidas e variam do PP ao XGG (que é um tamanho maior do que qualquer uma das ofertas atuais da Skims). Os preços das leggings são de US$ 69,95 a US$ 74,95, e os sutiãs vão de US$ 49,95 a US$ 59,95.
Existem dois tipos de compressão, tecidos antimicrobianos para que os shorts, calcinhas e leggings possam ser usados sem roupas íntimas adicionais, sutiãs que mantêm sua forma sem aros, uma estampa que parece uma asa de borboleta e embalagens recicladas. Lizzo nomeou todas as cores, embora suas invenções favoritas - para um azul e um rosa brilhantes - não possam ser impressas aqui.
Ela também experimentou tudo. “Eu amo uma calcinha atrevida; De verdade”, ela disse. “Pode ser complicado quando você está usando tecido de compressão, porque se for muito atrevida, pode enrolar.” Mas, ela disse, muitas vezes “Eu colocava uma calcinha e dizia. ‘Dá pra puxar pra cima desse jeito?’” – ela mostrou levantando o corte da perna – “porque o bumbum fica bonito.”
Ela tem opiniões muito fortes sobre o que gosta. “Não consegui tirar o bandeau convertível Yitty por muito tempo”, ela disse. “Sou uma inovadora do bandeau.” Quanto à calcinha modeladora: “Eu fico tipo: ‘Olá, garotas grandes usam calcinhas cavadas. Vamos usá-las e colocar esse amorzinho lá pra cima.’”
A Yitty será vendida em seu próprio site e no site da Fabletics. Ela também será vendida nas 76 lojas Fabletics e terá sua própria loja temporária em Los Angeles no dia 12 de abril. E estará na frente e no centro das turnês de Lizzo e em seus vídeos e programas de TV. No que diz respeito a ela, é o início de sua próxima etapa.
“Eu quero ser uma transformadora do mundo”, ela disse. “Eu não estava apenas fazendo uma música legal – minha arte sempre teve um propósito maior. Agora estou apenas pegando essa utilidade e tornando-a tangível.” /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES
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