Quadrinhos on-line estão atraindo novos leitores

Explosão foi impulsionada pela exploração de um público que o setor ignorava há muito tempo: leitores jovens e mulheres

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Por George Gene Gustines e Matt Stevens

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Por décadas, os fãs que impulsionaram a indústria dos quadrinhos fizeram peregrinações semanais às suas lojas locais para comprar as últimas edições sobre seus aventureiros de capa favoritos. Esses guerreiros da quarta-feira, o dia em que os novos episódios normalmente chegam às prateleiras, ainda fazem isso. Leitores vorazes de quadrinhos impressos são geralmente mais velhos - e em sua maioria do sexo masculino.

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Mas agora basta um smartphone, pois o mundo dos quadrinhos está sendo remodelado pelo tipo de disrupção digital que transformou o jornalismo, a música, o cinema e a televisão. Os quadrinhos on-line explodiram em popularidade nos últimos anos, em parte por atingir um público que o setor há muito ignorava: a geração Z e as mulheres da geração dos Millenials. As histórias que eles oferecem - de uma jovem lutando contra o sexismo no mundo dos esportes ou a releitura de um mito grego com foco no romance - são em sua maioria gratuitas e podem ser lidas verticalmente em smartphones, onde os leitores com menos de 25 anos vivem.

E eles cunharam estrelas de uma nova geração de criadores.

“Mesmo 10 anos atrás, eu não faria isso”, disse Kaitlyn Narvaza, 28, de San Diego, que é conhecida como instantmiso no Webtoon, onde sua série “Siren’s Lament” atraiu mais de 430 milhões de visualizações. “Temos essas oportunidades de compartilhar essas histórias de romance como criadoras americanas - como autoras e artistas de quadrinhos americanas. Não tivemos essas oportunidades antes.”

Quadrinhos digitais encontraram novos públicos. Ken Kim, executivo-chefe da Webtoon para a América do Norte, por trás de um personagem da série de quadrinhos 'Yumi's Cells'. Foto: Michelle Groskopf/The New York Times

O Webtoon, que se originou na Coreia em 2004 e é a maior plataforma de quadrinhos digitais do mundo, disse que mais da metade de seus 82 milhões de usuários mensais são mulheres.

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A plataforma atraiu leitores com sucessos que fogem de histórias tradicionais do bem contra o mal. Em Lookism, um jovem sem amigos acorda em um corpo alto e bonito; The Remarried Empress apresenta uma protagonista que se casa novamente; UnOrdinary gira em torno de um adolescente com um passado secreto que ameaça derrubar a hierarquia social de sua escola. (“Os amigos da onça”, adverte a descrição, estão “em cada esquina.”)

Let’s Play é sobre uma jovem que quer projetar videogames.

“É uma história em quadrinhos de jogos com romance ou uma história em quadrinhos de romance com jogos”, disse sua criadora, Leeanne Krecic, que deixou seu emprego em tecnologia da informação há alguns anos para se concentrar nos quadrinhos.

Ela acha que os leitores se relacionam com as lutas da personagem principal sobre carreira e namoro.

“A maioria dos quadrinhos americanos são histórias de heróis, o que é ótimo, não há nada de errado com isso”, ela disse. Mas “na Coréia e no Japão, eles contam a história do romance, a história do ensino médio”.

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Alguns quadrinhos digitais encontraram grande sucesso muito além das telas dos telefones. Lore Olympus, de Rachel Smythe, que reconta o mito grego como uma novela e se concentra no romance entre Hades e Perséfone, alcançou o primeiro lugar na lista de best-sellers do New York Times no ano passado como uma graphic novel. E outras séries com enredos mais convencionais de violência, terror e suspense, como Hellbound, Sweet Home e All of Us Are Dead, viraram sucessos na Netflix.

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Os editores tradicionais notaram o sucesso dessas plataformas digitais. A Marvel, a DC e a Archie Comics fecharam acordos com o Webtoon para produzir histórias digitais originais com alguns de seus maiores personagens.

O Webtoon sozinho arrecadou US$ 900 milhões em vendas na plataforma em 2021, acima dos US$ 656 milhões em 2020, disse a empresa. Como a leitura dos quadrinhos é gratuita, a maior parte da receita vem da publicidade e da venda para leitores fanáticos de acesso antecipado às suas séries favoritas.

Mas os quadrinhos impressos estão longe do fim. De fato, suas vendas explodiram durante a pandemia, com tantas pessoas entediadas e presas em casa. Especialistas estimam que as vendas totais de quadrinhos e graphic novels norte-americanas foram de aproximadamente US$ 2,08 bilhões em 2021, um número que inclui a receita combinada de várias editoras tradicionais, bem como suas vendas digitais, que juntas totalizaram apenas US$ 170 milhões.

Embora as novas aventuras tenham sido adotadas por muitos, alguns fãs reclamaram da “consciência social” no mundo dos quadrinhos. Isso não impediu os editores tradicionais de tentar capturar uma parcela maior dos novos leitores com histórias mais modernas, mesmo com alguns de seus personagens mais famosos.

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No ano passado, a DC Comics teve seu novo Super-Homem, Jonathan Kent - filho de Clark Kent e Lois Lane - começando um relacionamento romântico com um amigo, e o companheiro de Batman, Robin, recentemente reconheceu sua própria bissexualidade.

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Ken Kim, CEO do Webtoon para a América do Norte, disse que os criadores digitais de sucesso entendem que os jovens leitores - o público-alvo da plataforma - tendem a querer histórias que reflitam seus estilos de vida e sonhos.

A Tapas Media, outra grande plataforma de quadrinhos on-line, diz que mais de 80% de seus leitores têm entre 17 e 25 anos e cerca de dois terços são mulheres.

Algumas de suas séries mais populares giram em torno de tópicos com os quais a geração atual de jovens leitores pode se relacionar diretamente. Michael Son, vice-presidente de conteúdo da Tapas citou “Magical Boy”, uma série com um adolescente transgênero que é descendente de uma deusa.

“Sailor Moon encontra Buffy,” ele disse.

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“Queríamos nos livrar dos porteiros”, ele disse. “Os leitores realmente direcionaram nossos caminhos de conteúdo. O que surgiu organicamente foi um público muito jovem, muito centrado no sexo feminino, que também se refletiu na base de criadores.”

As empresas de quadrinhos digitais expandiram sua presença na Comic-Con International em San Diego, uma das convenções mais antigas e importantes do setor, que acontece até domingo. O Webtoon, que tem uma presença significativa desde 2018, viu o Lore Olympus de Smythe receber o prêmio Eisner de melhor quadrinho on-line deste ano, e a Tapas apareceu este ano pela primeira vez.

As plataformas digitais oferecem aos criadores novos caminhos para publicar, às vezes com a propriedade da maioria - se não de toda - sua propriedade intelectual. (As batalhas entre criadores de quadrinhos e editores tradicionais datam da chegada do Super-Homem de Krypton: Jerry Siegel e Joe Shuster venderam seus direitos ao Homem de Aço por US$ 130 em 1938 e depois lutaram por décadas por restituição.)

O dinheiro que os criadores de hoje ganham é geralmente modesto - o Webtoon disse que pagou mais de US$ 13,5 milhões a seus cerca de 1.500 criadores de língua inglesa em 2021, o que significa que a maioria não está em condições de deixar seus empregos diários. Mas os mais bem-sucedidos podem se sair bem: o Webtoon disse que seus principais criadores coreanos podem ganhar na faixa de US$ 250.000 por ano.

Ainda assim, os veteranos da indústria alertam os jovens promissores para proceder com cautela. Os contratos devem ser cuidadosamente examinados antes de serem assinados. E a programação semanal de publicação pode ser exaustiva para os criadores.

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O Webtoon foi criticado em junho por uma campanha publicitária que se gabava: “Os quadrinhos são um trabalho paralelo à literatura”. Os criadores ficaram furiosos. A empresa se desculpou.

E alguns criadores não encontraram plataformas digitais tão adequadas. O cartunista veterano Dean Haspiel, 55, publicou seu quadrinho The Red Hook, sobre um super-herói de Nova York, no Webtoon em 2016. A série continuou por mais de quatro temporadas, mas “não obteve o tipo de resposta que queríamos " ele disse.

“Por fim, comecei a entender que o público leitor do Webtoon é um público muito diferente do tipo de quadrinhos que eu produziria”, ele disse.

Mas muitos novos criadores estão satisfeitos por ter uma maneira de alcançar esse público.

“Sempre pensei: ‘O dinheiro está lá, os leitores estão lá, estamos apenas explorando isso’”, disse Krecic. “Encontramos uma mina de ouro.” /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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