Uma nova gripe aviária infecta o homem. Mas, até o momento, isso não é um problema

A covid alimenta a atual pandemia provocada por um vírus, mas o mundo está repleto de vírus à espreita nos bastidores. E eles continuam apresentando mutações

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Por James Gorman

Quando um vírus da influenza das aves afetou uma grande fazenda de criação de aves na Rússia, no início deste ano, foi um lembrete de que o coronavírus que causa a atual pandemia não é o único vírus perigoso que existe lá fora.

As autoridades testaram rapidamente as aves e tomaram providências imediatas: mataram 800 mil frangos, sumiram com as carcaças e limparam a fazenda para impedir o possível contágio a outras fazendas de aves. Mas também se preocuparam com os seres humanos.

Rússia diz ter identificado primeiro caso da cepa H5N8 da gripe aviária em humanos Foto: Lech Muszynski/EFE

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Testaram as aves e sequenciaram o vírus, e determinaram que se tratava de a cepa H5N8 da gripe aviária, altamente perigoso tanto para as aves silvestres quanto para as domésticas. Ele se estabeleceu na Ásia e vem causando cada vez mais surtos letais de aves na Europa. O H5N8 infestou alguns rebanhos de aves nos Estados Unidos, mas os vírus vêm de uma linhagem diferente, embora relacionada, dos atuais vírus H5N8 na Ásia e na Europa. Os vírus da influenza se combinam e estão sujeitos a mutações frequentes de maneiras imprevisíveis.

No breve período entre 25 de dezembro a 14 de janeiro, mais de 7 milhões de aves foram infectados com o H5N8 e morreram na Europa e na Ásia. A Europa sozinha teve 135 surtos entre aves domésticas, e 35 entre aves silvestres. Evidentemente, para colocar as cifras em contexto, os seres humanos consomem anualmente cerca de 65 bilhões de frangos, e uma estimativa mostra que o número de frangos no globo, em qualquer momento, chega a 23 bilhões.

Por mais danoso que o H5N8 tenha sido para as aves, nunca infectou pessoas. Até fevereiro. As autoridades da saúde russas também testaram cerca de 200 das pessoas envolvidas na limpeza da fazenda em Astrakhan, usando testes nasais e posteriormente exames de anticorpos no sangue. E informaram que, pela primeira vez, o H5N8 havia pulado para as pessoas. Sete dos trabalhadores foram aparentemente infectados com o vírus, embora nenhum deles tenha adoecido. Apenas um dos sete casos, entretanto, foi confirmado geneticamente com o sequenciamento do vírus.

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Não obstante, o perigo potencialdo novo vírus e o fato de ter passado para os seres humanos fez soar o alarme para o dr. Daniel R. Lucey, médico especialista em pandemia da Universidade Georgetown.

Ele começou a escrever sobre o caso de Astrakhan em um blog para outros especialistas em doenças infecciosas assim que foi divulgado. E informou durante uma entrevista pela televisão que um especialista em saúde pública russo disse que o vírus H5N8 provavelmente se transmitiria de humano para humano. A possibilidade era assustadora.

“A OMS finalmente publicou um relatório no dia 26 de fevereiro”, ele disse.

Mas este não definiu o fato como particularmente alarmante porque o vírus não estava causando uma doença humana, e o relatório julgava o risco de transmissão de humano para humano como baixo, apesar do comentário do médico russo.

Para Lucey, ninguém mais pareceu considerar a infecção de seres humanos com o H5N8 como “preocupante”. E acrescentou: “Acho quepreocupa sim”.

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Outros cientistas afirmam que não se abalaram.

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O dr. Florian Krammer, pesquisador da área da influenza na Icahn School of Medicine no Mount Sinai, disse que estava mais preocupado comoutros vírusda gripe aviária, como o H5N1,que já se mostraram perigosos para as pessoas. Outro vírus da gripe aviária, o H7N9, infectou pessoas pela primeira vez em 2013. Desde então, houve mais de 1.500 casos confirmados e mais de 600 mortes. De 2017 para cá, houve apenas três casos confirmados, e o vírus não pula facilmente de pessoa para pessoa.

É sempre possível que qualquer vírus possa passar a transmitir-se de humano para humano, e também tornar-se mais perigoso. Mas o H5N8 teria ambos os problemas para pular. Comparando com outras ameaças virais, segundo Krammer, “eu não estou preocupado”.

Segundo o dr. Richard J. Webby, especialista em influenza da St. Jude Graduate School of Biomedical Sciences e diretor do Centro de Colaboração da OMS para Estudos sobre a Ecologia, todos os H5 preocupam, porque alguns deles infectaram e mataram pessoas. Mas, prosseguiu: “todos eles têm a mesma capacidade de se ligar a células humanas, que é limitada”. Os vírus da influenza se ligam às células de aves de maneiras ligeiramente diferentes da forma que se ligam às células de humanos, e ter sucesso em uma transmissão significa, geralmente, não ter em outra.

Webby afirmou também que, embora sete infecções certamente preocupem, apenas uma foi confirmada. Os testes das outras seis envolviam testes por via nasal e exames de anticorpos. Em pessoas que não apresentam sintomas, acrescentou, o teste nasal podem simplesmente indicar que elas inspiraram o vírus. Isto não significaria que ele as infectara.

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Os testes de anticorpos no sangue também podem errar, afirmou, e talvez não consigam distinguir a exposição a um vírus da influenza de outro.

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Tampouco ele viu qualquer base científica para sugerir que, mais do que qualquer outro vírus da gripe aviária, o H5N8 possa transmitir-se de humano para humano. Mas qualquer vírus poderia apresentar esta capacidade.

Lucey disse que estava animado em ver que os Centros para a Prevenção e o Controle de Doenças dos EUA haviam preparado uma candidata a vacina para combater o H5N8 antes que ele infectasse humanos. As vacinas candidatas são simplesmente os primeiros passos no planejamento diante de eventuais problemas, e não foram testadas ainda. Há muitos destes vírus.

"Os seres humanos deveriam testar rotineiramente para a presença do vírus, no momento do surto nas aves", afirmou Lucey. Para qualquer surto entre aves, as autoridades da saúde pública deveriam submeter as pessoas expostas a aves doentes a testes nasofaríngeos e a um teste de anticorpos. Seguido por outro teste de anticorpos algumas semanas mais tarde. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

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