Sem roupa ao lado de desconhecidos? Experimentando relaxar em um spa na Europa

‘Foi necessário me desapegar um pouco: dos meus medos, do meu ego e do meu controle’

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Por Valeriya Safronova

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Eu nunca tinha visto tanta gente pelada no mesmo lugar. Nua numa sauna mista na Áustria, eu me vi diante de duas dúzias de pessoas sem roupa nenhuma, sentadas em bancos de madeira. Mesmo depois de mais de um ano morando na Europa, ainda me sentia, por ser americana, um pouco desconfortável naquela situação, vestida com nada além da minha própria pele.

Áustria e Alemanha possuem inúmeros resorts populares chamados thermen onde ter a experiência completa de sauna geralmente significa ter que ficar completamente nu. Foto: Chuchu Wang/The New York Times

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O mestre da sauna entrou para deixar as coisas ainda mais quentes. Alto e esbelto, vestindo só uma toalha enrolada nos quadris, ele empurrava um carrinho com bolas de gelo infundidas com óleos essenciais, como pimenta preta, limão e eucalipto. Depois de um breve discurso nos dizendo para sairmos imediatamente se sentíssemos tontura, ele jogou uma das bolas de gelo numa bandeja com brasas e ela começou a chiar. O cheiro me lembrou uma vela aromática cara: meio doce, com um toque picante.

Ele sacudiu uma toalha para a frente, para trás e para os lados, feito um toureiro seminu, movimentando o ar com um único objetivo: nos deixar muito, muito quentes naquele ritual de sauna chamado aufguss, que em alemão quer dizer “infusão”. Hipnotizada, comecei a esquecer meu constrangimento – e até mesmo que estava nua.

Proibido usar rouba de banho

A Áustria e a Alemanha estão repletas de spas chamados thermen – resorts com piscinas, saunas, lagos, bares e restaurantes. Em geral, eles têm uma fonte mineral de água quente e uma seção onde a nudez é obrigatória. Se você entrar de maiô, vai receber olhares de crítica e até reprimendas.

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Eu tinha viajado até o St. Martins Therme & Lodge, em Frauenkirchen, cidadezinha a cerca de uma hora a sudeste de Viena. O St. Martins fica ao lado de um lago raso e sereno, onde os hóspedes podem nadar no verão ou dar um mergulho frio no inverno. No centro das termas se encontra um átrio com piscina que tem zonas interiores e exteriores ligadas por um túnel, janelas do chão ao teto com vista para o lago e varandas com espreguiçadeiras. O complexo dispõe de cinco saunas e banho turco; onze piscinas termais; área para massagens, tratamentos faciais e muito mais; um restaurante; e um café. A entrada para o dia custa 53 euros (cerca de US$ 58).

A St. Martins Therme & Lodge em Frauenkirchen, Áustria, que tem vista para um lago raso e sereno, oferece cinco saunas e uma sala de vapor, bem como 11 piscinas termais, um café e um restaurante. Foto: Peter Rigaud/The New York Times

Depois de uns cinco minutos de suor intenso na sauna, passamos para a segunda etapa do aufguss: ainda sem roupa, saímos em fila para um pátio com banheira de hidromassagem e paredes cobertas de trepadeiras. Minha pele estava tão quente que o ar gélido de novembro pareceu um bálsamo. Um atendente entregou a cada um de nós um pouco de esfoliante com sal e óleo de coco, que obedientemente esfregamos na pele.

Depois de cuidadosamente esfoliados, voltamos para nossos poleiros lá dentro, onde o mestre da sauna sacou um ventilador enorme e passou os próximos seis ou sete minutos criando um crescendo de ar quente. Depois de 15 minutos, o aufguss terminou e saímos pela porta, os corpos vermelhos e soltando vapor.

Sente, relaxe e “não olhe”

O aufguss é apenas uma das alegrias de um dia nas termas, que também pode incluir tratamento corporal, mergulho numa piscina aquecida com jatos giratórios e schnitzel acompanhado de cerveja de trigo ou suco de maçã espumante. Para os habitantes dos países de língua alemã, o aufguss é um passatempo muito popular, especialmente no final do outono e no inverno.

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“Gosto muito depois de uma semana de trabalho duro, ou quando só preciso relaxar, ou quando meu corpo está muito tenso e os músculos estão muito rígidos”, disse Laura Blumenstiel, 29 anos, psicóloga em Freiburg, no sudoeste de Alemanha, que é visitante frequente do thermen há cerca de uma década.

A Alpentherme Gastein, a cerca de 90 minutos ao sul de Salzburgo, Áustria, oferece uma versão temática de festa do ritual de sauna conhecido como aufguss. Foto: Alpentherme Gastein/Wolkersdorfer/The New York Times

Normalmente, o complexo termal é dividido em duas seções: uma com várias piscinas internas e externas aquecidas, onde os trajes de banho são obrigatórios e as crianças são permitidas; e uma segunda que geralmente contém todas as saunas, onde o uso de roupas é proibido.

Para alguns americanos – eu, inclusive – a nudez, sobretudo num ambiente misto, pode ser extremamente desconfortável. Keon West, professor de psicologia social na Goldsmiths, Universidade de Londres, explicou que os padrões culturais muitas vezes afetam o nível de nudez que as pessoas consideram tolerável: em alguns lugares, ver mulheres com os cabelos descobertos pode parecer atrevimento; em outros, tirar a roupa na praia é perfeitamente aceitável.

“Você pode achar que os alemães são um pouco ousados, mas eles acham que é tudo normal e que você é que está sem graça”, disse West.

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Em países como os Estados Unidos, disse ele, existe uma “cultura altamente sexualizada e ao mesmo tempo puritana, onde o sexo é rigidamente controlado. As atitudes são muito mais conservadoras em relação ao corpo das mulheres e ao que elas fazem. Na Europa não é bem assim”.

Em vários estudos, West e sua equipe descobriram que ficar sem roupa perto de outras pessoas pode aumentar a autoconfiança e a satisfação com a vida. “Se você vai a um evento naturista, você vê muitas pessoas normais, pessoas que não são retocadas e não são a Beyoncé, e você percebe que não está mal em comparação com as pessoas comuns”, disse West. “Você passa um tempo nu na companhia delas e nada de ruim acontece. Ninguém diz nada de ruim para você, ninguém ri de você”.

A Therme Erding, a cerca de uma hora ao nordeste de Munique, na Alemanha, possui 24 saunas e uma grande piscina interna-externa. Foto: Therme Erding/The New York Times

Escaldando com trilha sonora

O mestre da sauna pôs uma música pop austríaca pulsante e começou a distribuir garrafas de cerveja gelada e sem álcool para cerca de quarenta pessoas reunidas no Alpentherme Gastein, 90 minutos ao sul de Salzburgo (entrada 45,50 euros). Era noite de festa no aufguss. As bolas de gelo picado brilhavam sob as luzes, e ele nos encorajava a conversar, algo raro na maioria das saunas.

Tem sessões aufguss para todos os gostos. Alguns mestres da sauna tocam Metallica, outros preferem batidas mais calmas. Alguns se vestem de viking. Mas existem duas regras imutáveis: não usar roupas e não entrar no aufguss depois do começo da sessão (você pode sair a qualquer momento).

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Algumas dicas: sempre se sente sobre uma toalha nas saunas secas, garanta seu lugar no aufguss alguns minutos antes (quanto mais alto você se sentar, mais quente vai ficar), não leve seu celular para áreas de nudez e tome banho antes de entrar.

Eu já estava começando a ficar bem com minha nudez quando comecei a curtir ao som da música. Foi necessário me desapegar um pouco: dos meus medos, do meu ego e do meu controle. Olhando ao redor – sem ficar encarando, claro – pude ver que ninguém se parecia com a Jennifer Lopez ou o Jeremy Allen White. Éramos todos lindos à nossa maneira.

Será que alguém estava julgando meu corpo? Para ser sincera, eu estava com calor demais para ligar. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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