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Seus relacionamentos mais ambivalentes são os mais tóxicos, sugerem estudos

Costumamos chamar de frenemies (uma mistura de amigo e inimigo, tipo um ‘amigo da onça’) os supostos amigos que às vezes nos ajudam e às vezes nos machucam

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Por Adam Grant

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Já se passaram duas décadas, mas ainda fico nervoso quando penso em uma antiga chefe. Um dia ela me indicou para um prêmio por serviços prestados à organização. Então ela ameaçou me demitir porque eu levantei uma preocupação sobre um colega que estava sendo maltratado. “Se você falar fora de hora de novo”, disse ela, “vou mandar demiti-lo.” Pisei em ovos até o dia em que ela foi embora.

Muitas vezes pensamos em relacionamentos em um espectro de positivo a negativo. Nós gravitamos em torno de familiares amorosos, colegas atenciosos e mentores que nos apoiam. Fazemos o possível para evitar o tio cruel, o valentão do playground e o chefe idiota.

Mas os relacionamentos mais tóxicos não são os puramente negativos. São aqueles que misturam o positivo e o negativo.

Costumamos chamar de frenemies (uma mistura de amigo e inimigo) os supostos amigos que às vezes nos ajudam e às vezes nos machucam Foto: Harli Marten/Unsplash

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Costumamos chamar de frenemies (palavra que mistura amigo e inimigo em inglês, friend e enemy, tipo um “amigo da onça”) os supostos amigos que às vezes nos ajudam e às vezes nos machucam. Mas a questão não é apenas sobre amigos. São os sogros que se voluntariam para cuidar de seus filhos, mas menosprezam seu modo de criá-los. O colega de quarto que ajuda você a superar um rompimento e depois começa a namorar sua ex. O gerente que elogia seu trabalho, mas nega uma promoção.

Todo mundo sabe como relacionamentos como esses podem dar um nó no estômago. Mas uma pesquisa inovadora liderada pelos psicólogos Bert Uchino e Julianne Holt-Lunstad mostra que relacionamentos ambivalentes podem ser prejudiciais à sua saúde - ainda mais do que relacionamentos puramente negativos. Um estudo descobriu que os adultos tinham pressão arterial mais alta depois de interagir com pessoas que evocavam sentimentos contraditórios do que após interações semelhantes com aquelas que evocavam sentimentos negativos.

Você também pode ver isso no trabalho. Uma equipe independente de pesquisadores descobriu que policiais eslovenos ao mesmo tempo apoiados e humilhados por seu supervisor relataram mais sintomas físicos negativos e eram mais propensos a faltar ao trabalho do que os policiais que disseram que seu supervisor apenas os prejudicou. E entre os adultos mais velhos, quanto mais relacionamentos ambivalentes eles tinham em suas vidas, mais deprimidos se sentiam, mais seus batimentos cardíacos disparavam sob estresse e mais sua pressão arterial subia em resposta ao estresse nos 10 meses seguintes.

Presumi que, com um vizinho ou colega, ter algumas interações positivas era melhor do que todas as interações negativas. Mas ser encorajado pela mesma pessoa que o rebaixa não atenua os sentimentos ruins; isso os amplifica. E não é só na sua cabeça: deixa um rastro no seu coração e no seu sangue.

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Mesmo uma única interação ambivalente pode cobrar um preço, e ela é a causa, não a correlação. Em um experimento, as pessoas fizeram discursos improvisados sobre tópicos controversos na frente de um amigo que ofereceu feedback. Sem o conhecimento dos participantes, os pesquisadores designaram aleatoriamente um amigo para fazer comentários ambivalentes ou negativos. Receber feedback misto causou pressão arterial mais alta do que críticas puras. “Eu teria abordado o assunto de maneira diferente, mas você está indo bem” provou ser mais angustiante do que “Discordo totalmente de tudo o que você disse”.

A evidência de que relacionamentos ambivalentes podem ser ruins para nós é forte, mas as razões podem ser mais difíceis de entender - assim como os próprios relacionamentos.

A razão mais intuitiva é que relacionamentos ambivalentes são imprevisíveis. Você coloca um escudo quando cruza com um inimigo claro. Com um frenemy, você nunca sabe se quem vai aparecer é o médico ou o monstro. A ambivalência causa um curto-circuito no sistema nervoso parassimpático e ativa uma resposta de luta ou fuga. É enervante esperar por um abraço enquanto se prepara para uma briga.

Outro fator é que as interações desagradáveis são mais dolorosas em um relacionamento ambivalente. É mais perturbador ser decepcionado por pessoas de quem geralmente gostamos do que por pessoas de quem não gostamos. Quando alguém te esfaqueia pelas costas, dói mais se a pessoa for amigável na sua cara.

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Finalmente, a ambivalência é um convite à ruminação. Agonizamos com comentários ambíguos, sem saber o que fazer com eles e se devemos confiar nas pessoas que os fazem. Nós nos concentramos em nossos sentimentos confusos, divididos entre evitar nossos frenemies e manter a esperança de que eles mudem.

Embora os frenemies sejam as pessoas que mais nos machucam, demoramos muito mais para nos livrarmos deles do que dos inimigos. Em nossas vidas, temos tantos relacionamentos ambivalentes quanto conexões de apoio. E não parecemos melhorar com a idade em lidar com eles. (Claro, embora nenhum relacionamento seja puramente positivo, qualquer relacionamento que cruze a linha do abuso deve ser descartado.)

No início de minha carreira, investi muita energia orientando uma aluna. Achei que era um relacionamento positivo, mas ela escolheu um orientador diferente. Quando pedi um feedback, descobri que o relacionamento parecia diferente do ponto de vista dela. Por um lado, ela gostou de minhas respostas rápidas e orientação clara. Por outro lado, minhas respostas eram muito normativas: eu estava silenciando sua voz e expulsando suas ideias. O que eu pensava ser apoio estava, na verdade, minando sua autonomia. Como diz Anne Lamott, “a ajuda é o lado bom do controle”.

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É muito raro trocarmos esse tipo de feedback. Às vezes, acabamos evitando ou ignorando as pessoas que nos estressam dessa maneira. Nem sempre é uma decisão deliberada; procrastinamos as respostas e adiamos os almoços até que o relacionamento acabe. Outras vezes, apenas cerramos os dentes e toleramos relacionamentos ambivalentes como eles são.

Um relacionamento no qual você não pode ser sincero não é um relacionamento; é uma charada. Pesquisas mostram que tendemos a subestimar o quanto as pessoas são abertas a sugestões construtivas. O feedback nem sempre leva à mudança, mas a mudança não acontece sem o feedback. O objetivo é ser o mais sincero possível no que dizemos e o mais cuidadoso possível na forma como dizemos. Como Brené Brown enfatiza, “Ser claro é gentil”.

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Já vi pessoas tentando lidar com a ambivalência declarando: “Esse relacionamento não é saudável para mim”. Isso não é gentil: muitas vezes é recebido como “Você é uma pessoa má” quando a realidade é inevitavelmente mais complicada. Um relacionamento ambivalente merece uma mensagem mais matizada e precisa: “A mistura de bom e ruim aqui não é saudável para nós”.

Nem todo relacionamento ambivalente pode ou deve ser recuperado. Alguns anos atrás, minha antiga chefe entrou em contato para dizer que gostou de um de meus artigos. Parecia tarde demais para dizer a ela como eu achava estressante estar em um limbo constante, sem saber se ela iria me apoiar ou me derrubar. Eu me pergunto se ela vai acabar lendo sobre isso aqui - e se ela também se lembra de nossas interações com sentimentos contraditórios. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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