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TikTok: dancinhas no estilo da rede social ganharam força no mundo

A dança no aplicativo tornou-se mais profissionalizada e de nicho, mas no mundo mais amplo, a o estilo da rede se espalhou

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Por Margaret Fuhrer

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Quando o TikTok levou um grupo de suas estrelas para Washington no mês passado, parecia inevitável que elas acabassem dançando. De que outra forma protestar contra uma possível proibição nos Estados Unidos daquele que foi apelidado de “aplicativo da dança”? Enquanto o CEO do TikTok se preparava para testemunhar perante o Congresso americano, os influenciadores postaram vídeos de dança filmados nos corredores do Capitólio e em um rooftop na Constitution Avenue, com a hashtag #SaveTikTok.

Essa divergência coreografada tinha um tom sarcástico: os oponentes do TikTok costumam usar sua reputação centrada na dança como munição. Não perderíamos muito, diz o argumento, se nos livrarmos de uma plataforma na qual os adolescentes realizam desafios de dança frívolos. Até mesmo alguns dos criadores do TikTok em Washington se distanciaram da cultura de dança do aplicativo, enfatizando sua utilidade como ferramenta de educação e engajamento político.

Rede social tem fama de ser um lugar de dança, apesar de ter sido rechaçada por profissionais no início. Foto: Loic Venance/AFP

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“O TikTok não é um aplicativo de dança infantil”, disse o ativista e criador de conteúdo Aidan Kohn-Murphy ao The Wall Street Journal durante a viagem.

Isso está certo, mas também está incompleto. A dança no TikTok passou por uma evolução significativa nos últimos anos, ao mesmo tempo uma contração e uma expansão. A dança não domina mais o feed “For You” do usuário médio do TikTok, e a coreografia que agora circula no aplicativo é mais variada e sofisticada. Mas a dança no estilo TikTok provou sua influência para muito além dos limites da plataforma - um marcador cultural em vez de uma tendência passageira.

Inicialmente popular entre os jovens que ficam muito online, o desafio da dança do TikTok se tornou um fenômeno dominante durante os isolamentos pandêmicos, que bloquearam muitas outras saídas para performances e conexão social. Agora o “desafio da dança para todos” está em declínio.

Um grupo diversificado de artistas da dança - menos adolescentes entediados (embora eles ainda estejam por aí) e mais especialistas talentosos - encontrou novas maneiras de ser criativo com o formato de vídeo curto do aplicativo. A dança hoje no TikTok é “um pouco mais rara e também um pouco mais especial”, disse Analisse Rodriguez, uma dançarina profissional e uma das primeiras a adotar o TikTok, que agora tem 11 milhões de seguidores.

A ameaça de uma proibição do TikTok é grande para criadores de dança nos Estados Unidos, especialmente aqueles que construíram suas carreiras em torno do aplicativo. Mas uma proibição provavelmente não acabaria com a dança no TikTok; suas qualidades específicas já se infiltraram na cultura popular. O vocabulário de movimentos característicos desse formato, a apresentação descontraída e a posição da coreografia viral como algo a ser não apenas assistido, mas experimentado remodelaram outras plataformas sociais, o mundo da dança profissional e ideias ainda mais amplas sobre o papel da dança.

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“Essas estéticas que se desenvolveram diretamente no TikTok estão se tornando danças vernaculares”, disse Pamela Krayenbuhl, professora assistente de estudos de cinema e mídia na Universidade de Washington Tacoma. “E elas terão poder de permanência para além da vida e da morte do próprio aplicativo.”

A dança definiu o TikTok desde que ele chegou ao cenário internacional em 2017. A posição vertical da plataforma e o limite de tempo de um minuto ajudaram a dar origem a uma coleção de blocos de construção de passos básicos, firmes e verticais que a pessoa comum poderia aprender e replicar.

Muitos dançarinos profissionais inicialmente relutaram em se juntar aos amadores. “Aqueles primeiros desafios foram realmente inclusivos porque eram simples, o que foi ótimo”, disse o diretor artístico e coreógrafo José Ramos, conhecido como Hollywood. “Mas eles não desafiaram minha criatividade.”

Analisse Rodriguez e seus irmãos, os dançarinos profissionais Rafi Rodriguez e Kat Rodriguez, conseguiram muitos seguidores fazendo desafios de dança mainstream, embora com mais sofisticação do que o TikToker médio. Com o tempo, eles começaram a buscar coreografias mais complexas.

“Queríamos dar um passo para trás e pensar se o conteúdo que estávamos fazendo era autêntico para nós”, disse Analisse. “Será que estamos mostrando essas competências pelas quais trabalhamos a vida toda?”

À medida que o TikTok crescia para mais de 150 milhões de usuários nos Estados Unidos, sua monocultura centrada na dança deu lugar a muitas subculturas de nicho, das quais a DanceTok é apenas uma. A flexibilização das restrições pandêmicas também reduziu o campo dos sedentos dançarinos do TikTok. Essas mudanças deram impulso ao tipo de desafio de dança “hard mode” preferido pelos Rodriguez. Embora as coreografias detalhadas geralmente não envolvam os passos agora familiares do TikTok, elas ainda estão no espírito casual e semi-improvisado do aplicativo.

“Mesmo quando você tem um dançarino profissional fazendo coreografias de alto nível, eles estão fazendo isso no quarto, talvez de pijama”, disse Krayenbuhl. “É um tipo especial de acesso e parece particularmente íntimo quando você sabe que daqui a 20 minutos eles podem estar no palco fazendo coisas muito semelhantes.”

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Outros criadores foram além do formato do desafio, inventando novas maneiras de coreografar para os parâmetros e peculiaridades do aplicativo. Os seguidores do TikTok de Hollywood explodiram depois que ele encontrou uma fórmula que chama de “caos organizado”, que tira proveito do quadro vertical estreito do TikTok, fazendo com que um grande grupo de dançarinos se mova rapidamente para dentro e fora da tela.

A conta @cost_n_mayor administrada pelos coreógrafos Marideth e Austin Telenko ganhou quase 6 milhões de seguidores graças à incrível capacidade do casal de criar danças para sons improváveis, desde sons de texto do iPhone até os ruídos que os secadores fazem no final de seus ciclos.

A dança do mundo lá fora também chegou ao TikTok, com criadores montando impressionantes recriações de coreografias de shows e videoclipes. Dois meses após o Super Bowl, as danças sofisticadas de Parris Goebel para a apresentação de Rihanna no intervalo continuam circulando no aplicativo. O trecho executado com mais frequência, um fragmento de Rude Boy, parece em muitos aspectos extremamente anti-TikTok: requer um grande grupo de dançarinos, muitos ensaios e algum trabalho especial de câmera. No entanto, foi tentado por todos, desde estudantes tailandeses do ensino médio até o elenco de “Riverdance”.

Até os desafios de dança do TikTok que parecem mais convencionais às vezes se baseiam em apresentações ao vivo. No outono passado, a dançarina profissional Ysabelle Capitulé ficou surpresa ao descobrir que a coreografia que ela criou para o festival de música da cantora Victoria Monét se tornou o desafio viral “Some Cut”. “Eu teria tornado a dança um pouco mais fácil se soubesse que isso aconteceria”, disse Capitulé à Complex.

À medida que uma gama mais ampla de influências começa a moldar a dança no TikTok, rastrear suas origens se torna mais difícil e mais importante, complicando ainda mais os problemas de crédito que há muito atormentam o aplicativo. Incluir uma etiqueta “DC” (crédito de dança) em vídeos coreografados tornou-se uma norma imposta pela comunidade. O recurso de crédito incorporado ao TikTok, introduzido na primavera passada, codificou ainda mais a prática.

No entanto, mesmo quando as danças virais são devidamente creditadas, seus coreógrafos, frequentemente artistas não brancos, raramente são os que colhem os maiores benefícios financeiros ou de reputação. Esses espólios ainda vão para os criadores mais populares que executam a dança, que tendem a ser brancos. Dois anos após o #BlackTikTokStrike, os criadores negros em particular permanecem pouco reconhecidos no aplicativo. “As estruturas permanecem as mesmas, mesmo que o crédito seja dado”, disse Krayenbuhl

Caso ocorra uma proibição do TikTok, os criadores de dança com menos seguidores - aqueles com maior probabilidade de ver sua coreografia cooptada - podem ser os mais afetados. Grandes nomes podem perder uma receita significativa do Fundo de Criadores baseado em engajamento do TikTok, mas eles geralmente têm fluxos de receita fora do aplicativo e serão mais capazes de atrair seus fãs para “qualquer que seja o próximo TikTok”, como disse Hollywood.

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Mas a cultura de dança do TikTok pode ser crucial agora para o sucesso de um projeto comercial em larga escala. A linguagem do movimento que surgiu das restrições do aplicativo começou a aparecer em anúncios e videoclipes - especialmente aqueles envolvendo artistas, como Megan Thee Stallion e Lizzo, cujas carreiras foram fomentadas pelo TikTok.

A coreógrafa Fatima Robinson recentemente recorreu a Hollywood para reimaginar seu formato de “caos organizado” em um videoclipe do Black Eyed Peas, que tem 49 milhões de visualizações no YouTube. Krayenbuhl observa que o aplicativo teve um efeito até na cinematografia, com os simples movimentos de câmera para frente e para trás, populares no TikTok, tornando-se moda em outras formas de dança na tela.

O desafio da dança, um conceito anterior ao TikTok, mas que se tornou sinônimo do aplicativo, talvez tenha tido o impacto mais consequente no mundo real. Em março, cinco jovens iranianas postaram um vídeo dançando o desafio Calm Down do TikTok - desafiando as leis draconianas de modéstia do Irã, que proíbem as mulheres de dançar ou aparecer sem lenços na cabeça em público. Depois que o clipe viralizou, as adolescentes teriam sido presas e forçadas a se desculpar. Seu vídeo, no entanto, continua a circular. E seu protesto teve maior peso porque estavam fazendo coreografias que já haviam sido executadas milhares de vezes por milhares de outras mulheres, conforme documentado no TikTok. Foi um debate dançante com o apoio implícito de uma comunidade global.

Essa capacidade de promover uma comunidade entre dançarinos e fãs de dança pode ser a coisa mais difícil de reproduzir, caso o TikTok seja banido dos Estados Unidos. Mesmo com a dança perdendo destaque no aplicativo, a plataforma continuou a oferecer aos dançarinos visibilidade e alcance incomuns - formas de poder que muitas vezes lhe são negadas em outros lugares.

“Eu costumava dizer: ‘Ah, embora façamos danças no TikTok, não se engane: somos profissionais. Trabalhamos na indústria”, disse Marideth Telenko. “Mas isso ficou para trás. No TikTok, podemos interagir com todas essas pessoas incríveis. Lá estamos dançando para o mundo.” /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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