Às vezes é somente com o licenciamento e divulgação de um tratamento que os pacientes decidem procurar ajuda, mesmo no caso de um problema médico que é frequentemente doloroso e psicologicamente devastador. É o que acontece com a doença de Peyronie, uma cicatrização e inclinação ou curvatura do pênis que pode dificultar o desempenho sexual. Os mais afetados são os homens de meia idade, em virtude de alguma lesão, que pode ocorrer durante uma atividade esportiva ou durante o sexo vigoroso, quando o pênis ereto é dobrado ou apertado contra o osso.
Ao consertar a lesão, o corpo cria placas de tecido cicatrizado sob a pele do pênis, fazendo com que este desenvolva uma curva anormal ou angulação quando ereto. Antes de 2014, quando a Food and Drug Administration (vigilância sanitária dos EUA) aprovou um remédio injetável chamado Xiaflex, não havia tratamentos aprovados.
O Xiaflex contém uma enzima, colagenase, que é injetada no tecido cicatrizado para destruí-lo, reduzindo a curvatura. Diz-se que um remédio não reconhecido oficialmente - injeções do remédio verapamil, destinado ao tratamento da pressão, na placa peniana - funciona em até 40% dos casos.
Um feliz beneficiado pelo verapamil, Don Cummings, 56 anos, que vive em Los Angeles, escreveu um livro de memórias, “Bent But Not Broken” [dobrado, mas não partido], para incentivar outros homens a procurarem ajuda profissional. “Sei que os homens não falam a respeito desses assuntos, e eu gostaria que outros sujeitos soubessem que há como melhorar essa situação", disse Cummings. “Recuperei 95% da funcionalidade anterior à doença de Peyronie.”
Os pesquisadores estimam que algo entre 1% e 23% dos homens de idade entre 40 e 70 anos sejam afetados. Mais de três quartos dos afetados apresentam depressão e estresse causados pelo problema. Fatores hereditários e distúrbios nos tecidos conectivos podem aumentar o risco de desenvolvimento da doença de Peyronie. Alta concentração de açúcar no sangue, tabagismo e traumas pélvicos também aumentam o risco. A doença pode se desenvolver gradualmente ou de uma vez.
O médico de Cummings disse a ele que foi bom procurar tratamento antes da calcificação da placa, quando se torna mais difícil tratá-la. Na descrição dele, as muitas injeções de verapamil fizeram buracos na placa, tornando o pênis mais flexível. Ele também praticava alongamentos usando um extensor peniano de tração chamado Andropenis.
Dispositivos como esse podem ajudar a alongar um pênis encurtado pela doença de Peyroniee incentivar a correção do formato conforme a placa é substituída por colágeno saudável. “O Xiaflex não é um remédio milagroso", disse Jesse N. Mills, da clínica de saúde masculina da Universidade da Califórnia, em Los Angeles.
“O teste clínico que levou à aprovação por parte da FDA atestou uma melhoria de 35% na curvatura, ainda que observemos uma redução de aproximadamente 50%. Eu digo aos pacientes, ‘Você nunca terá de volta o pênis de antes, mas pode ter um pênis funcional’, que é o que a maioria dos homens deseja.” Raramente o problema se corrige sozinho sem tratamento. Os casos mais graves que não respondem adequadamente às injeções podem ser tratados cirurgicamente.
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