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Treinamento com pesos pode ajudar a aliviar a ansiedade

Um programa básico com agachamentos, levantamentos de peso e abdominais diminuiu níveis de ansiedade em homens e mulheres jovens

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Por Gretchen Reynolds
Atualização:

Perturbado com preocupações envolvendo a pandemia e a política? Levantar peso pode ajudar, de acordo com um estudo a respeito de ansiedade e treino de resistência. O estudo, que envolveu jovens saudáveis, halteres e agachamentos, indica que uma rotina de treino com pesos reduz substancialmente os níveis de ansiedade, uma descoberta que tem particular relevância nesses dias de inquietude e atribulação.

Já possuímos provas abundantes de que os exercícios físicos ajudam a evitar a depressão e outros problemas da mente e conseguem intensificar sensações de felicidade e contentamento. Mas a maioria dos estudos do passado a respeito de exercícios e estados mentais considera os efeitos de exercícios aeróbicos, como correr na esteira ou pedalar na bicicleta ergométrica.

Estudo procura relação entre exercícios com pesoe melhora na saúde mental. Foto: Vincent Tullo/The New York Times

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Apenas recentemente, os cientistas começaram a investigar a maneira como o treino com pesos também pode influenciar a saúde mental — e se essa influência existe. Uma análise de estudos de 2018, por exemplo, concluiu que adultos que levantam peso são menos propensos a desenvolver depressão do que aqueles que nunca o fizeram. Em outro estudo, mulheres com diagnósticos de distúrbios de ansiedade relataram menos sintomas após iniciar exercícios tanto aeróbicos quanto com pesos.

Mas muitos desses estudos envolveram sessões frequentes e complicadas de exercícios de resistência, realizadas sob os olhares de pesquisadores, diferente da maneira que a maioria de nós se exercita. Eles também tinham foco em grupos específicos, como homens ou mulheres com um distúrbio mental diagnosticado, como depressão ou ansiedade, o que limitava sua aplicabilidade.

Então, para o mais recente estudo, publicado em outubro na Scientific Reports, pesquisadores da Universidade de Limerick, na Irlanda, e de outras instituições decidiram averiguar se uma versão simples de treinamento com pesos poderia beneficiar o estado mental de pessoas que já apresentavam boa saúde mental, de maneira geral.

Para a pesquisa, eles recrutaram 28 homens e mulheres jovens, saudáveis e testaram sua condição mental, com ênfase particular no questionamento a respeito da sensação de ansiedade entre os voluntários. Todos os participantes se mostraram saudáveis em questionários detalhados a respeito desse aspecto.

Os cientistas, então, dividiram esses voluntários emocionalmente estáveis em dois grupos. À metade deles foi solicitado que continuasse com sua vida normal, como grupo de controle. Os outros iniciaram o treinamento com pesos, uma prática com a qual poucos deles estavam familiarizados.

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Os cientistas elaboraram um treino de resistência simples e útil, com base em diretrizes da Organização Mundial de Saúde e da Faculdade Americana de Medicina Esportiva. Ambas as organizações recomendam a prática de exercícios de fortalecimento muscular pelo menos duas vezes por semana, e foi isso o que os voluntários começaram a fazer. Após instruções iniciais dos pesquisadores, os voluntários iniciaram um programa básico com agachamentos, levantamento de peso e abdominais, utilizando, às vezes, halteres e outros equipamentos.

O treinamento deles continuou por oito semanas. Ao longo do período, ambos os grupos repetiram periodicamente os testes de níveis de ansiedade, incluindo no fim do programa de treinamento (depois que o estudo acabou, o grupo de controle teve como opção iniciar a rotina de treinamento com pesos).

Conforme o esperado, a maioria das pessoas do grupo de controle manteve os níveis baixos de ansiedade. Esses voluntários ainda se sentiam tão tranquilos quanto oito semanas antes. O grupo que realizou os programa de treinamento com pesos, porém, apresentou uma melhora de 20% nos testes de níveis de ansiedade. Eles já tinham começado o estudo com níveis baixos de ansiedade, mas se sentiram menos ansiosos depois dos treinos.

Esse efeito foi “mais intenso do que o antecipado”, afirmou Brett Gordon, pesquisador de pós-doutorado no Instituto do Câncer da Faculdade de Medicina da Universidade Penn State, coautor do estudo com Matthew Herring, Cillian McDowell e Mark Lyons. Na verdade, os benefícios para a saúde mental foram maiores do que os observados em estudos que envolveram exercícios aeróbicos e ansiedade. Mas Gordon alerta que tais comparações são limitadas, já que vários experimentos usam diferentes quantidades de exercícios e medições de estado mental.

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O novo estudo não se debruça sobre as maneiras como o treinamento com pesos consegue influenciar a ansiedade. Mas Gordon e seus colegas suspeitam que há relação entre o aumento de massa física e de capacidade psicológica. Os levantadores de peso ficam mais fortes com o tempo, capazes de levantar cargas mais pesadas.

“Sensações de domínio podem ter ocorrido”, o que, afirma ele, deixaria as pessoas mais propensas à superação em geral. Mudanças moleculares nos músculos e no cérebro dos levantadores de peso também podem ter ocorrido e contribuído para  melhorar seu estado mental, afirmou ele, ressaltando que estudos futuros podem ajudar a detalhar algumas dessas alterações.

É evidente que esse experimento analisou apenas jovens saudáveis realizando uma mesma versão do treinamento, o que significa que as descobertas não nos dizem se a mesma quantidade de exercício aliviaria a ansiedade em pessoas mais velhas. E também não sabemos qual tipo de programa de exercícios poderia ser suficiente, exagerado ou apenas na medida correta para melhorar a saúde mental. Finalmente, o estudo não prova que começar a frequentar a academia de ginástica hoje pode aliviar intensamente qualquer tormento mental que possamos sentir, já que as melhorias evidenciadas apareceram após semanas de treinamento.

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Mas, para quem se sente tenso e irritado, como tantos de nós nesses dias, ficar mais forte é provavelmente um objetivo válido e não precisa ser algo intimidador, afirmou Gordon. “Há numerosos métodos de treinos de força que requerem pouco ou nenhum equipamento”, afirmou ele. “Tente exercícios comuns que usam o peso do próprio corpo, como flexões, abdominais ou agachamentos, ou use itens de casa como pesos”. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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