KHAN AL-AHMAR, CISJORDÂNIA - A qualquer momento, anunciou o exército israelense, os tratores chegarão para apagar do mapa a comunidade beduína de Khan al-Ahmar na Cisjordânia.
Há dezenas de anos, Israel quer expulsar milhares de beduínos de uma ampla porção da Cisjordânia - com sua população de pastores de ovelhas e cabras, a leste de Jerusalém - a fim de expandir os assentamentos judeus. Depois que uma operação deste gênero foi transmitida pela televisão, no final dos anos 1990, quando soldados arrancaram as famílias e arrasaram uma comunidade inteira, juízes israelenses e diplomatas estrangeiros ajudaram a reduzir o ritmo das expulsões.
Agora, a determinação de uma turma de juízes do Supremo Tribunal liberou o governo para proceder à retirada de comunidades beduínas inteiras. Os defensores dos beduínos afirmaram que este será considerado um crime de guerra: a transferência forçada de uma população sob a proteção da ocupação militar.
Eid Abu Khamis, 51, líder de Khan al-Ahmar, disse: “Eu pergunto à comunidade internacional: Onde estão as leis?”
Khan al-Ahmar se localiza atrás de uma rodovia que divide dois movimentados assentamentos israelenses, Maale Adumin e Kfar Adumin. O local foi feito de lar fixo pelos beduínos desde pelo menos os anos 1970, embora alguns afirmem que nasceram no lugar há muito mais tempo. Sua tribo, os jahalin, costumava deslocar-se pelo deserto do Negev até ser expulsa por Israel, depois que este se estabeleceu como país, em 1948. Quando eles chegaram à Cisjordânia, então desabitada, o território era controlado pela Jordânia.
Com a vitória de Israel na Guerra dos Seis Dias, em 1967, a área foi expropriada como terra do Estado. Se Israel a urbanizar, cortará a Cisjordânia em pedaços, isolando o lado Leste de Jerusalém, árabe, e separando Ramallah, ao norte, de Belém, no sul.
Sem um jipe ou um cavalo, os visitantes que pretendem chegar a Khan al-Ahmar param na Rodovia 1, que devem atravessar, esquivando-se dos automóveis velozes, pular uma barreira de metal e subir uma colina pedregosa. Ali, não existe eletricidade nem água encanada. Uma organização italiana construiu uma escola com barro e pneus velhos em 2009, que hoje é frequentada por cerca de 150 alunos.
“Se os beduínos continuarem nestas favelas, o pessoal da direita afirma que chegará o momento, agora ou daqui a alguns anos, em que irá expulsá-los de lá”, afirmou Shlomo Lecker, o advogado dos beduínos. “A escola era a única coisa permanente neste lugar. Por isso ela se tornou um símbolo. Se a escola continuar lá, quem sabe o que acontecerá depois?”
O Regavim, um grupo de defensores dos colonos, alega que os edifícios dos beduínos foram levantados sem autorização. Entretanto, os críticos afirmam que Israel quase nunca aprova os pedidos de autorização apresentados pelos palestinos.
No passado, a Suprema Corte de Israel tendia a proteger as comunidades beduínas, frequentemente questionando se o governo lhes oferecia novas habitações adequadas. Os beduínos do Khan al-Ahmar serão transferidos para um lugar muito limitado, chamado Jahalin West, sem espaço para as suas tendas.
Em uma decisão emitida no dia 24 de maio, um painel composto por três juízes - dois deles colonos atuais ou ex-colonos - concluiu que o que importava não era a aceitabilidade da alternativa, mas saber se “a execução das ordens de demolição atende às exigências legais“.
Israel afirma que Khan al-Ahmar não só é ilegal, como também não oferece nenhuma segurança, pela proximidade da Rodovia 1, e a alternativa - lotes gratuitos com água e energia elétrica - constituirá uma considerável melhoria. Mas os que foram transferidos para Jahalin Oeste, anos atrás, dizem que tem sido impossível manter seu modo de vida tradicional.
Muhammad Abu Khalil afirmou: “A única coisa que temos na vida é a criação de ovelhas”.
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