Turistas são a esperança de salvação dos recifes do Timor Leste

Preocupações quanto à preservação da natureza local continuam

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Por Ben C. Solomon
Atualização:

COM, Timor Leste - Num dia chuvoso daqui, Fizzy Moslim vestiu o equipamento de mergulho e entrou na água quente. Poucos visitantes chegam ao sonolento vilarejo de Com, uma viagem de sete horas de estrada a partir da capital, Dili, e os moradores costumam ser os únicos que se arriscam nos mergulhos.

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Abaixo da superfície, tartarugas marinhas nadavam ao lado de centenas de peixes dos recifes, alimentando-se do rico coral logo abaixo. Dois jovens dugongs, um animal marinho semelhante aos peixes-boi, afastavam-se rapidamente, e um tubarão-de-pontas-negras-do-recife nadava nas imediações.

“Está longe de ser um dos nossos melhores dias", disse Fizzy, instrutora da companhia de turismo Compass Diving, ao voltar das profundezas.

Em março, Fizzy e outros se lançaram na missão de mapear esses santuários marinhos na esperança de atrair ao local uma nova espécie: os turistas.

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“Se esses corais se mantiverem firmes, a população ao redor deles vai precisar de dinheiro para mantê-los em segurança", disse Trudiann Dale, diretora da Conservation International para o Timor Leste. “Se for bem administrado, o ecoturismo pode proporcionar esse dinheiro.”

O pequeno país do Timor Leste é cercado por um dos ambientes marinhos mais intocados do mundo. 

Somente nos arredores da ilha de Atauro, os pesquisadores descobriram 253 espécies de peixes nos corais, estabelecendo um novo recorde mundial.

Mas, 16 anos depois de conquistar sua independência, o Timor Leste continua sendo o país mais pobre do Sudeste Asiático. Enquanto os políticos lutam para encontrar novas fontes de renda econômica, como o petróleo e a exportação de café, nenhum deles ajudou a reduzir a pobreza.

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Um legado local de proteção das áreas marinhas para a pesca Foto: Ben C. Solomon/The New York Times

Para conservacionistas e funcionários do governo, a questão é clara: como o país poderá desenvolver o turismo e, ao mesmo tempo, preservar sua beleza intocada?

“É um equilíbrio difícil", disse Manuel Mendes, diretor do Departamento de Áreas Protegidas e Parques Nacionais, destacando a suscetibilidade do país à mudança climática e às secas. “Sabemos que, se não fizermos nada, tudo vai desaparecer em breve.”

Nos anos que se seguiram à independência, o país teve uma das taxas de fertilidade mais altas da região, com quase sete nascimentos por mãe. A maioria da população tem menos de 25 anos, e o desemprego está aumentando.

Desde 2004, quase 80% do produto interno bruto do Timor Leste veio do petróleo no campo do Mar de Timor, reserva que deve se esgotar até 2023.

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Durante gerações, os pescadores locais protegeram seu suprimento de peixes com a criação de áreas  marinhas protegidas. As comunidades definiam a demarcação, faziam a sinalização e proibiam a pesca nesses locais.

Em 2016, o governo começou a regulamentar na lei essas práticas. Foi criado um orçamento e guardas foram pagos para ajudar. Mas o orçamento mal cobre o salário da vigilância.

Trudiann acredita que o recife intocado pode atrair mergulhadores do mundo todo, que pagariam bastante para explorá-los. Atualmente, apenas cerca de 5.000 turistas visitam o local a cada ano. Para os pescadores daqui, a preservação continuará sendo uma parte central de suas vidas.

“Esses peixes são nossa vida, e o recife é o seu lar", disse Zanuari Marteans, 60 anos. “Se uma pessoa não tem lar, como pode viver?”

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