Desde maio deste ano, o TikTok expandiu seu programa de monetização, permitindo que criadores de conteúdo do Brasil possam ser remunerados em troca de visualizações. Para ganhar dinheiro com a plataforma, é preciso ter pelo menos 10 mil seguidores e ter acumulado 100 mil visualizações em um mês, entre outros requisitos, como ter um conteúdo original.
Assim, a exigência de uma quantidade mínima de fãs é uma barreira para diversos aspirantes a influenciadores tentarem ganhar dinheiro na internet. Mesmo que a pessoa produza conteúdo de forma assídua, a resposta financeira não é uma garantia, já que, assim como a monetização, as contratações para publicidade e para parceria também são mediadas pela quantia de seguidores.
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Mas, aparentemente, há uma brecha no TikTok, que impulsionou uma explosão significativa de criadores de UGC — outro ramo da plataforma em que milhares de pessoas tem se aventurado para uma renda extra, assim como NPC. A sigla, que significa User Generated Content (em tradução livre, conteúdo gerado pelo usuário), se refere a publicações em quem uma pessoa “comum”, não necessariamente famosa, apresenta um produto ou serviço explicando por que gostou dele.
Ao contrário das tradicionais “publis”, em que o conteúdo é sempre postado nas próprias contas dos influenciadores, o UGC é criado por consumidores para marcas e publicado diretamente na página desta marca ou usado em publicidade paga.
Para as empresas, é vantajoso pois costuma ser mais barato, já que contratam criadores de conteúdo geralmente iniciantes no mercado e não precisam desembolsar um alto investimento em produção — a simplicidade é, provavelmente, uma das características mais fortes deste tipo de conteúdo. E isso não é por despretensão.
Gravados em casa, diretamente do celular, sem uma pré ou pós-produção rebuscada, os vídeos geralmente passam uma mensagem de espontaneidade e autenticidade, o que pode ajudar a gerar mais confiança a quem está assistindo, conforme relatou ao Business Insider Louisa Warwick, fundadora da agência Social Acceleration Group. “O UGC ajuda a criar autenticidade da marca, um maior nível de confiança no produto ou serviço, um sentimento de lealdade à comunidade.”
Circulando pelos vídeos com a hashtag #UGC no TikTok, que soma mais de 2 bilhões de visualizações, é possível encontrar criadores que dizem ganhar até US$ 4 mil em um mês criando UGC para marcas. Ahmna Dailey, uma criadora deste nicho, relatou ao Business Insider que ganhou mais de US$ 7 mil em três meses produzindo este tipo de conteúdo.
De acordo com “gurus da UCG” da internet, para que as propostas cheguem é preciso criar um portfólio. A sugestão é que os usuários façam vídeos sobre produtos que tenham em casa, mesmo sem receber ou fazer um contato com a marca. A partir disto, com uma “vitrine de conteúdos” formada, deve-se procurar as empresas ou se cadastrar em plataformas deste tipo de conteúdo.
UCG não é mina de ouro
Ao navegar pelos vídeos com a hashtag do nicho, não é necessário muito esforço para chegar a centenas de influenciadores que se dizem “guias do UGC”. Os conteúdos destas pessoas são focados em ensinar ao público como ganhar dinheiro desta forma, destacando a facilidade em “fazer dinheiro com nenhum seguidor”, conforme anunciam alguns deles.
Tamanha quantidade de “gurus”, combinada com a fervorosa defesa de um bom negócio e a falta de transparência sobre ganhos, deixa alguns especialistas de marketing com pé atrás. Taylor Loren, ex-diretora de marketing da Later.com e ex-chefe de marketing da Girlboss, disse ao Insider que desconfia da “vibração de marketing multinível” emitida por alguns dos mais ferrenhos defensores do UGC.
“[Há] uma vibração do tipo ‘fique rico rapidamente’”, disse. “É um espaço muito novo e não há muitos especialistas disponíveis para isso. Portanto, é um pouco confuso saber em quem você realmente pode confiar.”
Da mesma forma, embora alguns TikTokers possivelmente ganhem dinheiro produzindo conteúdo UGC, muitos deles na verdade ganham dinheiro ministrando cursos, kits e materiais exclusivos sobre criação de UGC. Nesses casos, os cursos online podem ser úteis, desde que seja especialista de confiança, conforme sugeriu a ex-diretora de marketing da Later.com. “Você precisa olhar para a experiência de trabalho deles, para os clientes para quem eles trabalharam, se você vai comprar um curso e quer largar o emprego para fazer isso”, disse ela.
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