Quando Alan Turing introduziu em 1950 a ideia do seu famoso teste no artigo “Computing Machinery and Intelligence”, ele não imaginava que o assunto seria tão debatido em 2024. O teste, agora conhecido como Teste de Turing, propôs que se uma máquina conseguisse enganar um ser humano, fazendo-o acreditar que estaria interagindo com outro humano, então essa máquina poderia ser considerada inteligente.
Desde então, o teste tem levantado questões profundas sobre a natureza da inteligência. Recentemente, pesquisadores importantes de inteligência artificial, como Yann LeCun e Demis Hassabis, têm reforçado que, por mais que a IA já passe no Teste de Turing, ela ainda é menos inteligente do que um gato doméstico.
LeCun, professor da Universidade de Nova York e cientista-chefe de IA na Meta, tem frequentemente defendido que, embora a IA tenha feito avanços extraordinários, ela ainda não possui a flexibilidade e a adaptabilidade da inteligência dos animais. Hassabis, cofundador da DeepMind, também tem repetido que a inteligência dos gatos possui uma série de habilidades e instintos que os algoritmos ainda não conseguem replicar.
Gatos domésticos possuem uma capacidade inata de se adaptarem a diferentes ambientes, interagindo socialmente com outros animais e humanos por meio da sua visão, audição, olfato e tato, e resolvendo problemas de uma forma prática e intuitiva.
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Para as atuais IAs, o pulo do gato ainda está na sua dificuldade de adaptação e resiliência. Os algoritmos de machine learning têm demonstrado habilidades impressionantes em algumas áreas específicas, como reconhecimento de imagem e jogos de estratégia. No entanto, essas capacidades ainda são miadas, e apenas o resultado do processamento de grandes quantidades de dados, em vez de uma compreensão ampla ou adaptativa do mundo.
No fundo, a questão de saber se a IA já é mais inteligente do que um gato doméstico depende da definição de inteligência que adotamos e da necessidade de autonomia. Se considerarmos a inteligência como a capacidade de realizar tarefas específicas com alta eficiência, então os algoritmos já superaram os gatos. No entanto, se considerarmos a inteligência como a capacidade de adaptação, intuição e interação social, os algoritmos ainda estão engatinhando.
A complexidade da inteligência biológica nos tem levado a reconsiderar nossas noções de capacidade cognitiva, seja ela biológica ou artificial. Talvez a pergunta de Turing “As máquinas podem pensar?” seja menos importante do que entender a complexa e variada natureza da própria inteligência. Os algoritmos podem já dominar jogos, imagens e linguagens, mas a IA ainda não encontrou o fio da meada que os gatos já dominam.
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