Luís de Camões começa “Os Lusíadas” invocando as Tágides, musas do Rio Tejo adaptadas da mitologia greco-romana, pedindo que o inspire a cantar os feitos gloriosos dos portugueses, especialmente as aventuras de Vasco da Gama e a descoberta do caminho marítimo para a Índia. Já no Canto I, ele escreve:
“Dai-me agora um som alto e sublimado,
Um estilo grandíloco e corrente”.
Nessas linhas preparatórias para a narrativa central do livro, o poeta lusitano reconhece a importância de buscar algo além do que é naturalmente alcançável, para que sua obra ressoe de forma grandiosa e fluida.
Acima de tudo, trata-se de um autor que sempre busca melhorar o seu texto com todas as estratégias disponíveis na sua época – e isso é um sinal de respeito ao tempo escasso dos seus leitores.
Há muito tempo que a utilização de tecnologias como corretores ortográficos e ferramentas de autocompletar já se tornou uma prática comum para garantir a clareza e a precisão na escrita. Essas ferramentas ajudam a evitar erros e a otimizar a comunicação, e são amplamente aceitas como recursos que não substituem a criatividade do autor, mas sim a aprimoram.
De forma semelhante, a inteligência artificial (IA) pode ser vista como uma evolução natural dessas estratégias, oferecendo um apoio adicional para alcançar uma expressão mais clara, precisa e impactante.
Por exemplo, eu não sabia de cor os versos de Camões sobre as Tágides. Será que o fato de eu ter utilizado o Google para buscar essa informação, torna esta coluna menos legítima? Pelo contrário, o uso de ferramentas tecnológicas permite que eu apresente informações precisas e relevantes, enriquecendo o conteúdo do que é escrito.
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É importante esclarecer que apenas copiar informações sem reflexão ou criatividade não é o objetivo de utilizar essas tecnologias. Assim como Camões não invocou as musas para repetir as histórias de sua época, mas para as transformar em algo único e grandioso, o uso de tecnologias como o ChatGPT deve ser visto como um meio de potencializar a escrita e não simplesmente como um atalho preguiçoso.
Reconhecer que o uso de algoritmos generativos de IA é uma extensão natural do processo criativo é fundamental para compreender o seu enorme valor. Em um mundo onde a informação é abundante e o tempo é precioso, garantir que cada palavra escrita seja a melhor possível é um compromisso com aqueles que escolheram nos ler.
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